Novidades sobre a obra de Jorge Amado

Livros terça-feira, 11 de março de 2008 – 0 comentários

Pois é, meus caros, essa é quentíssima.
A obra de Jorge Amado, que vinha até então sendo publicada pela Editora Record, está sendo relançada (neste exato momento, aliás) pela Companhia das Letras.
Os livros terão direito a todo um novo projeto gráfico e posfácios escritos por críticos e escritores da atualidade. Fazendo parte do time, conta-se com a ajuda de Milton Hatoum, escritor brasileiro do momento e também publicado pela Companhia das Letras.
O autor “posfaciou” nada mais nada menos que uma das obras mais famosas de Amado: Capitães da Areia.

As novas edições estão sendo Agora (sim, Agora) mesmo distribuídas e enviadas ao mercado das Livrarias. Além disso, para comemorar a aquisição dos direitos, a Cia das Letras realizou hoje uma aula-apresentação ao lançamento, tendo como tema a pequena novela A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, do autor em questão. Quem administrou a aula? Novamente nosso caro amazonense Hatoum.
Regado a café, chocolate quente, sucos de abacaxi e acerola, sanduíches de metro e docinhos em geral, o encontro ainda apresentou aos convidados representantes do mercado varejista paulista parte dos novos projetos da editora, além de os presentear com um exemplar de órfãos do Eldorado, novo livro de Milton Hatoum, lançado dia 03 de março. É…esses malditos vendedores de livros foram mimados hoje.

Apesar de uma reedição não significar muita coisa, ao menos estão dando mais atenção a um autor tão rico quanto Jorge Amado. Um autor que, infelizmente, acabou sendo Desprezado pelo cânone crítico do eixo USP, sendo reduzido á injusta posição de escritor menor.

Foda-se a crítica. Viva a Literatura.

Livros pra uma fogueira

Analfabetismo Funcional quinta-feira, 06 de março de 2008 – 5 comentários

Sem brincadeira. Eu, mesmo averso a destruição de qualquer livro tive que fazer isso algumas vezes. Antes de tudo vamos a uma pequena explicação. Destruir um livro é pra mim como se eu estivesse matando uma pessoa. Da mesma maneira que não consigo odiar as pessoas de primeira vista, não consigo odiar um livro assim, só de passar os olhos pra ele.
Mas mesmo sendo alguém que protege os próprios volumes de uma maneira quase psicótica, algo que entrarei em detalhes mais em breve, eu tive que cometer alguns assassinatos em minha longa vida de leitor, que no meu conceito, foram mais do que justos.
O primeiro que me lembro se chama As Pilhas Fracas do Tempo que vou admitir: Me fez ter uma grande decepção. Sabe aquele livro que você lê do inicio ao fim, sabe que ele terá aquele desfecho e quando finalmente chega lá, além de ser pela metade, acaba de maneira confusa e sem sentido? Esse é um desses livros. E foi dele que veio a idéia de queimar os livros que não gosto MESMO. Só pra dar uma de filho da puta, no final desse livro ele está em frente a um balde de lixo, com uma caixa de fósforos nas mãos prestes a queimar tudo o que escreveu. Prestes, porque o livro acaba antes dele consumar esse ato.
Foi legal jogar ele aberto no meio de um churrasco, aquela gordura toda caindo em cima dele, e tornando as chamas de diferentes cores. Pensei que naquele momento sairia um demônio do livro e iria se alimentar de minha alma com a farofa do churrasco, mas isso não aconteceu.
Isso foi a mais ou menos uns 8 anos. Até hoje me cobram a multa desse livro, mas por sorte saí do colégio antes de encherem o saco demais sobre isso. Mas vamos continuar a história.
Depois de algum tempo não queimei mais nada, um grande momento só lendo livros que valiam o tempo que eu “desperdiçava” com eles, salvo algumas excessões que não entrarei em detalhes por aqui hoje. Mas é claro, eu não estaria contando isso pra vocês se isso não tivesse acontecido de novo, certo? Essa é mais recente, tem umas 2 semanas, eu acho.
Bom, desta vez, o livro é algo mais… clássico. Ele se chama, ou melhor, se chamava Os Ratos de um autor chamado Dyonelio Machado que nunca ouvi falar, e que só comprei porque estava a fim de ler algo brasileiro. Só pra constar, eu li Memórias de um Sargento de Milícias e A Luneta Mágicae gostei muito desses livros, então no mesmo espírito, resolvi arriscar outro autor.
Não vou me ater a história dele, até porque ela não é importante, mas o que senti ao ler ele sim é o que interessa desse ponto em diante.puta livrinho chato. Nas primeiras 15 páginas, quis dar uma chance a ele, lendo e relendo cada parte que eu não entendia. Depois, comecei a entender o estilo do cara e não precisei mais reler. Da página 30 em diante, começou a me dar uma agonia, de que tudo o que estava escrito ali era totalmente dispensável, que nada dali fazia sentido e principalmente, que tudo era apenas um devaneio da mente do personagem principal, um devaneio bem chato por sinal. Nesse momento, estou o enviando pra Tijucas do Sul, onde tem um fogão a lenha, onde poderei dar uma utilidade melhor pra esse livro: lenha. Só espero que a comida que ele ajude a assar não seja possuída ou fique estragada, afinal, nunca se sabe…
Bom tudo isso que contei hoje pra vocês é só pra definir uma coisa: se você vai sofrer durante a leitura, acabe com o problema antes que ele acabe com você. Eu sobrevivi a vários desses problemas literários que me causaram grandes danos cerebrais, mas já sou lesado por natureza, então nem deu muita diferença. É só um aviso pra todos vocês que querem se arriscar com porcarias e não estão preparados. Mas caso queiram arriscar, manda um e-mail pra compartilhar suas loucuras, que as minhas já estão me trancando no canto ali, ó.

Vendedores de rua

Analfabetismo Funcional quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008 – 6 comentários

É normal (aqui em Curitiba ao menos) encontrar essas pessoas vendendo “livros” de poesia na rua. Perceba que livros está entre aspas, porque eles conseguem ser menores que alguns folhetos que distribuem por aí. Com a abordagem típica (que descreverei logo a frente) eles assombram a entrada de galerias e esquinas:
Andando todo sossegado pelas ruas, com os problemas na cabeça, de repente do nada, a sua frente pula, mais exatamente se MATERIALIZA um cara barbado, com um pequeno livro em mão, e o oferece com uma simples frase:
-Gostas de poesia?
Assim mesmo, ele fala “gostas”. Se você pega o livro, acaba de cair na armadilha deles. Enquanto o segura e folheia as pouco mais de 12 páginas quer compõem o livreto, ele começa a contar a história de sua vida, o que dura se você der sorte pouco mais de 15 segundos. A maneira mais fácil de se livrar deles é perguntar quanto que é, o que é um outro erro, mas é a única maneira de se libertar:
-Não é nada.- Nessa hora, você vai colocando o livro no bolso, mochila, sacola ou seja lá o que for- a gente só pedimos uma contribuição espontânea.
É, ele fala “pedimos”. O livro já está quase dentro da sua bolsa. Ficaria muito feio devolver pra ele agora e dizer que não gosta de poesia. Caso faça isso, ele fala que seu nome é Fulano de tal, e que ele escreveu os poemas da página tal e tal. Se você oferece menos de 1 real, eles falam que o gasto de cada livro é 1,50 o que deixa você numa sinuca de bico muito foda. Nessa hora, você tem duas escolhas: manda ele tomar no cu e sai sem ligar pro que ele diz, ou dá pra ele 2 reais, ouvindo as costas que ele espera um e-mail seu, falando qual você mais gostou.
isso aconteceu comigo a algumas semanas, e desde esse dia me especializei em me livrar desses caras.. e garanto que esse cara irá receber um e-mail muito ofensivo e com mais palavras do que aqueles poemas mequetrefes e simplórios. Ou eu que sou inculto o suficiente, e não consigo diferenciar o que é bom ou ruim.
Mas esse não é o assunto dessa coluna, vamos a ele. Eu poderia citar técnicas de como se livrar deles, mas não o farei. As vezes, você pode dar sorte, e se esbarrar com esses caras na rua que tem algo interessante pra vender, como crônicas e contos ou quadrinhos, o que é mais fácil de se encontrar perto de feiras e igrejas. Como eles são pessoas aleatórias, a chance de você ver ele na rua de novo beira o ZERO, é bom ter velocidade pra avaliar se ele escreve algo que presta em poucos segundos, e ter dinheiro já separado no bolso pra esses casos. Já encontrei por aí pessoas que escreviam contos, e os vendiam em frente a bancos, com a vantagem de ter na capa estampado o preço, o que diminui a briga pelo preço que citei logo acima, e é algo pra se fazer enquanto fica naquelas filas quilométricas, que parecem uma visão do inferno se você não é acostumado a elas.
Mas o mais importante de tudo é que isso é a maneira de autores novatos divulgarem seus trabalhos, e de terem opiniões diferentes de pessoas desconhecidas. Melhor do que jogar a história em uma página da net, é ir vendendo ela na rua a preços módicos sendo pra alguns um tormento, atrapalhando o caminho de gente que não tá nem aí pro que você pensa, mas mesmo assim tentar.
E se possível, mandar um e-mail pro autor, dizendo o que você achou. O que é bom pra ele, se você irá elogiar, mas garanto que não irão receber minha mensagem de maneira positiva, se eu for realmente escrever tudo o que penso dos poemas deles.

Pocket Books

Analfabetismo Funcional quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008 – 4 comentários

Pocket books, como podem perceber só de ver o nome, são aqueles livros de bolso. Pequenos, acessíveis e baratos, eles são a melhor alternativa pra quem quer um livro atual. Ou seja, se você não tem 40 reais pra dispensar em um lançamento, pode com essa mesma quantia comprar 3 pockets, que podem valer mais a pena do que um título mais recente. Livrarias tem sua própria seção com esse tipo de livros, que na realidade é só um pedestal da própria editora que fica escondido no fundo atrás da papelaria.

O objetivo principal desses pockets é serem compactos, fáceis de carregar, ocupando o mínimo espaço possível em locais de armazenamento já pequenos, como bolsas de mulheres e gavetas de repartições públicas. DEVERIA ser ao menos, pois existem aqueles que são um calhamaço de páginas que as vezes chega a ser maior que os livros que chamarei de normais daqui em diante. Pra dar um exemplo vou citar O Poderoso Chefão, da Editora Record. O livrinho, que tem 655 páginas, é tão grande que consegue ficar em pé sozinho. Suas medidas são compactas, capaz de caber em um bolso somente se você usar calças XXL, mas duvido que alguém que use este tipo de calças leria algo, e se fosse pra ler, seria algo como pontos vitais: como atingi-los mais facilmente. Eu até pegaria uma régua pra medi-lo, mas não o farei, pois perdi a minha. Entretanto, fui até a padaria para pesá-lo… 508 gramas, de acordo com a balança de lá. O mais irônico de tudo isso é que na contracapa, logo acima do endereço do site da editora, diz: “Livros que cabem no seu bolso”. Só pode ser pelo quesito preço mesmo, pois paguei nele 19 reais, praticamente de graça comparado ao preço do volume de luxo dele, custando 49 notas de um real.

Mas voltando ao conteúdo deles, que é o que realmente importa, não é? Esse mesmo calhamaço de páginas que poderia ser vendido por um carroceiro pela quantia de 40 centavos pra pagar uma pinga no boteco, e que só depois de um grande esforço poderia caber no bolso, tem uma história que vale a pena ler, não importa se é em um pocket, ou no volume de luxo. Com títulos de autores relativamente conhecidos, essas coleções se apóiam em seu preço baixo, algo que sempre me atraiu me fazendo escolher um desses livros ao invés de outro mais… conhecido, famoso.

É por causa disso que tenho livros de Kurt Vonnegut, Flan O’Brien, Jack Kerouac e outros que normalmente não encontro em meio a prateleiras caóticas e completamente aleatórias, coisa normal de se achar na maioria das livrarias que freqüento, e que comecei a ler exatamente porque são baratos. Se fosse pra comprar os livros normais eu nunca chegaria a conhecer as histórias escritas por eles. Cada um desses não paguei mais do que 20 reais, coisa pouca até.
Também por serem baratos, eles são acessíveis a todo mundo que queira ler algo com conteúdo e não queira gastar muito, pra variar.

Há algum tempo atrás, vi uma matéria sobre uma máquina de venda de livros, a mesma que aparece nessa matéria aqui. De acordo com a matéria, os livros vendidos “são livros sobre auto-ajuda, clássicos da literatura, internet e dicionários.” Livros pequenos, com venda em lugares com grande tráfego, e acima de tudo, baratos, o que é mais importante. Não sei a quantas anda esse negócio, mas é uma boa saída pra venda ao público apressado. Se isso tem em locais conhecidos de vocês, me avisem, pois nunca vi uma dessas.

Olha eu me perdendo de novo. Ok, já chega, vamos ao que define realmente um pocket book: preço baixo, tamanho pequeno, história completa. Três fatores importantes. Poucos tem mais de um volume a não ser que seja um daqueles clássicos épicos, como Guerra e Paz, A Odisséia, Dom Quixote, e outros que não tenho ainda. AINDA. Aceito presentes.

Literatura seriada

Analfabetismo Funcional quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008 – 1 comentário

Publicar histórias em capítulos seriados, como se fosse uma novela, pode parecer algo antigo, mas é um formato que ainda é muito utilizado hoje em dia em varias mídias. Não gosto de ler muitos clássicos da literatura, mas admito que na época original em que foram lançados, não havia melhor maneira de o fazer, pois era a única maneira de prender a atenção ate o fim de cada página.
A cada fim de capítulo era como se fosse marcado um encontro pra próxima semana, um convite para que o leitor continuasse acompanhando a história.
Pra citar um, e apenas UM, vou falar de Memórias de um Sargento de Milícias, aquele que é chato pra cacete, tem uma linguagem estranha pros dias atuais, e foi publicado dessa maneira. Se for analisar esse livro, que acredito que você deva ter um (é mais fácil comprar um do que renovar sempre na biblioteca) pode ver que a maneira que os capítulos foram escritos, algo sempre acontecia no final de cada um, algo que prendia a atenção do leitor o instigando a continuar a leitura na próxima semana, ou mais tarde, quem sabe. Era como se fosse um bom episódio de 24 Horas, da época que fazia você continuar a assistir episódio atrás de episódio, e sempre ficava surpreso de como acontecia tanta merda com Jack Bauer.
Pois bem, esse formato de publicação hoje em dia não é mais tão usado, pois a tarefa de escrever um livro não é tão ingrata quanto antes. Um autor, se estiver motivado, pode escrever vários livros por ano, mesmo eles sendo uma porcaria. Mas mesmo assim, apesar de não ser muito utilizado hoje em dia em MÍDIA IMPRESSA, ele continua a ser muito utilizado em diversos sites por aí. As fanfics, das quais cheguei a falar algum tempo atrás, nem sempre são publicadas completamente no site pelos autores. Normalmente são publicadas depois de pedidos por comentários, mendicância total, massagens no ego, com gente comentando por comentar, até liberarem o próximo capitulo. Diversas dessas histórias, as quais o autor acha que ninguém lê, ficam por lá mofando, incompletas, sem seu desfecho, uma grande sacanagem com o publico que a acompanhava. Mas isso é em relação a fanfics. Há autores que levam a sério o que escrevem, e estão pouco ligando se há comentários ou não: continuam a escrever somente para finalizar. Se alguém acompanha, isso é detalhe.
Mas voltemos aos livros, porque fanfics assim me deprimem.
Stephen King, autor de The Green Mile, lançado no Brasil com o nome de A Espera de um Milagre, publicou esse livro em fascículos, episódios separados, que saíam a cada 2 meses e que algum tempo depois da publicação foram juntados em apenas um volume. Mesmo sendo um formato de publicação defasado, antigo até, autores famosos o utilizam. Afinal, tendo fama, todo mundo irá ler e esperar pela próxima parte, pagando o quanto for por ela como aconteceu com esse livro. Se fossem somados os preços dos 6 volumes, o valor supera de longe o preço do volume único.
Resumindo bem, não importa que seja um formato de publicação antigo: ele ainda funciona hoje em dia. Porém, depende muito do autor que o utiliza saber quando é a hora de terminar. É algo que pode não ter fim, se ficar enrolando demais entre cada uma das partes publicadas. Fica a cargo da consciência de cada autor – ou da fome de dinheiro de cada editor, vai saber.

Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente – 1. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro (Daniel Clowes)

Livros quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008 – 2 comentários

Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.

Eu menti para vocês.
Menti quando disse que seriam sete livros. Essa obra maravilhosa, meus amigos, é uma revista em quadrinhos. Isso mesmo, eu vou falar de uma “Graphic Novel” no Primeiro Lugar dessa lista. E, podem apostar, esse negócio Merece.

Já falei aqui anteriormente sobre o que penso de quadrinhos e como os considero Literatura também. Não só isso, trata-se de uma nova possibilidade de literatura, já que trabalha as imagens em conjunto com a Palavra. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro não é diferente. É uma incrível demonstração do poder artístico dos Quadrinhos e, podem acreditar, é a obra perfeita para nosso Primeiro Lugar.

Clay é um fracassado. Desde que sua última namorada o deixou sem nenhuma explicação, ele fica se arrastando por aí como um depressivo babaca. Resolve até ir num daqueles Cinemas de Filme Pornô (se você mora em São Paulo e já passou pelo centro, sabe exatamente que tipo de cinema é). Entre os vários curtas nojentos e mal-feitos que são exibidos, um deles chama sua atenção: “Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro”. Não há sexo, não há nudez. Há somente uma mulher com roupa e máscara de couro, espancando um homem, e dois outros velhos Bizarros. No fim do curta a cabeça dos velhos surge decepada em cima de um tapete e a mulher tira a máscara de couro. Para surpresa de Clay, é sua ex-namorada.

A partir daí você pode esquecer a realidade. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro é quase um totem de Adoração ao Caos e ao Non Sense. Daniel Clowes mistura Lendas Urbanas americanas, partes da filosofia do serial killer Charles Manson e mais uma porrada de Imagens Chocantes vindas de sua Mente Doentia. Enquanto Clay viaja para a cidadezinha de Gooseneck Hollow (após ter se consultado com um guru que atende dentro do banheiro do cinema pornô e pedido o carro emprestado ao seu amigo, que agora possui lagostas no lugar dos olhos), em busca de pistas sobre a produtora do filme e o paradeiro de sua ex-namorada, ele passará por: Cães sem Orifícios; Putas com Três Olhos; Teorias da Conspiração envolvendo carismáticos bonequinhos de chapéu e narigão; Policiais Corruptos que espancam seus prisioneiros e lhes tatuam, com um canivete, a silhueta do mesmo bonequinho estranho; Seitas Terroristas de religiosos fanáticos; Deficientes Físicos no formato de Batatas Gigantes; e, pode acreditar, coisas bem piores…

Escrito e desenhado pelo promissor Daniel Clowes em 2000, Como uma Luva… impressiona em todos os aspectos. Cada frase, cada diálogo, cada quadro, tudo é feito de modo a esconder uma referência, um ironia ou uma brincadeira nas entrelinhas. Daniel Clowes, através de um verdadeiro Pesadelo em Quadrinhos, traduz todo o vazio existencial do final do século XX, começo do século XXI.
Caótico, Brilhante, Doentio, Surreal e Amedrontador, foi trazido ao Brasil pela Conrad em 2002 e ainda pode ser encontrado nas melhores livrarias.

Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro

Título original Like a Velvet Glove Cast in Iron
Ano de Edição: 2002
Arte: Daniel Clowes
Roteiro: Daniel Clowes
Número de Páginas: 144
Editora:Conrad

Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente – 2. Crash (J.G. Ballard)

Livros quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008 – 2 comentários

Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.

Eu já cheguei a comentar algo sobre essa grande maravilha aqui, mas Crash ainda não ganhou Sua devida atenção.
Lembram-se daquela matéria sobre Ficção Científica Cyberpunk? Apologia a drogas e tecnologias doentias? Pois bem, nosso amigo Ballard é um dos grandes escritores dessa galera.
Não só isso, é considerado por muitos como o Maior Escritor Vivo da Inglaterra. Seu último livro por exemplo, Terroristas do Milênio, conta sobre uma bizarra e violenta Revolução da Classe Média Inglesa. Extremamente irônico e, ao mesmo tempo, faz todo o sentido.

Mas enfim: Crash! Um romance de perversões sexuais e violência acima do Limite de Velocidade. A história de James Ballard (personagem homônimo ao autor do livro), narrando seu envolvimento com um estranho grupo de aficcionados sexuais a Acidentes de Carros.
Sim, Acidentes de Carros & Sexo na mesma frase.
A impressão do relevo dos controles na pele; o símbolo da fabricante no centro do peito; a conjunção dos ângulos retorcidos das colunas do pára-brisa, refletidos pela ainda acesa luz do painel, com a posição dos cortes e contusões…Prazer Indescritível.

Hmmm….tesão!

Girando em torno de Vaughan, ex-cientista do trânsito e profeta do Caos Tecnológico, Crash Com Certeza não é de leitura fácil. A idéia da Violência amoral, o pan-sexualismo entre os personagens e a criação de novas Possibilidades Eróticas é, na maioria das vezes, Chocante e Revoltante. Isso se você tiver pulado nossa maravilhosa lista, é claro.
Se você chegou até aqui seguindo a ordem direitinho, já vai estar preparado…

A descrição das cenas é incrível. A mistura dos fluídos corporais do sexo com os reflexos das latarias; os detalhes das posições das putas no banco traseiro dos carros, de modo a imitar a forma como os corpos foram encontrados no último acidente observado por Vaughan e Ballard; a fixação de nosso narrador pelas cicatrizes, coletes ortopédicos e “novas superfícies sexuais” de Gabrielle, a deficiente física que utiliza seus aparelhos como Perversões Eróticas; tudo isso de forma a, quase subliminarmente, tecer um quadro Psicopatológico de Nossa Era da Velocidade.
“”After having … been constantly bombarded by road-safety propaganda, it was almost a relief to find myself in a real accident.”

Escrito em 1973 (publicado novamente em 2007 no Brasil), ganhando inclusive uma adaptação em filme, em 1996, pelo incrível Cronenberg, Crash choca. E não apenas o choque pelo choque, simples descarga elétrica no cérebro. Ele choca pela quebra de padrões, pela abertura de possibilidades, pela Perversidade e, principalmente, porque por diversas vezes você acaba pensando “Ok, isso é simplesmente Louco…mas…Faz Sentido. Realmente Soa Erótico!” Quero dizer, já pararam pra pensar em como realmente uma batida de frente, dois desconhecidos que nunca haviam se visto antes entrando repentinamente e violentamente em comunhão entre eles e entre seus carros…parece um ato sexual?

Crash

Título original Crash
Ano de Edição: 2007
Autor: Ballard, J.G.
Número de Páginas: 240
Editora:Companhia das Letras

Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente – 3. Não Há Nada Lá (Joca Reiners Terron)Não há nada

Livros terça-feira, 12 de fevereiro de 2008 – 4 comentários

Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.

O Grande Crescente de Loucura aproxima-se do seu pico máximo. E nada melhor para comemorar do que Literatura Metalinguística.
Você sabe, romances, contos, crônicas ou poemas que referem diretamente ao universo de romances, contos, crônicas ou poemas.
E obviamente que eu não deixaria vocês somente com metalinguagem barata. Não.
Estou falando de uma metalinguagem que vai além. Que desafia a própria realidade da Literatura e, por que não?, do Mundo.

Joca Reiners Terron é nascido no Mato Grosso e, nas horas vagas de seus inúmeros empregos como editor e designer, escreve. Dentro de suas obras estão o bizarro Hotel Hell, que cria um hotel alucinativo povoado das mais estranhas criaturas; o sombrio Sonho interrompido por Guilhotina, que retrabalha os temas da Literatura e da própria Palavra em si; e Curva de Rio Sujo, uma coletânea de contos que mistura invencionices Fantasiosas com relatos reais de sua infância; além de inúmeros contos, como o incrível Estação de Caça aos Helicópteros. E claro. Não Há Nada Lá.

Não Há Nada Lá passa-se em diferentes épocas, cada capítulo centrado em um dos diferentes personagens, todos escritores. O romance gira em torno de uma série de encontros entre esses autores e outras personalidades famosas, todos possíveis mas nunca realizados.

O que aconteceria, por exemplo, se Rimbaud tivesse conseguido sair vivo da Ífrica e fugido para a América? Talvez encontrado Billy The Kid e fumado haxixe. E se Fernando Pessoa tivesse conseguido seu encontro com Aleister Crowley em Portugal? Talvez a noite acabasse em uma orgia satânica dentro de um quarto de hotel, envolvendo homens com seis mamilos. E Roussel, o surrealista francês, entupido de barbitúricos. O Papa Pio XI realmente mandou uma carta querendo conhecê-lo. Poderia terminar em sexo dentro de uma banheira, a silhueta do Papa estranhamente feminina e barriguda. A calcinha rosa deixada para trás com uma marca de sangue em formato de Livro Aberto. Ducasse roubou As Flores do Mal dentro de um trem durante suas viagens. Seria Baudelaire aquela silhueta hostil na estação? Torquato Neto, poeta e ator brasileiro, chegou a conhecer pessoalmente Jimmy Hendrix em suas viagens pela Inglaterra. Seria o guitarrista um profeta do fim do Mundo?

Tudo isso enquanto William Burroughs, já perto de sua morte, enxerga um gigantesco hipercubo de luz rodando vertiginosamente no céu do deserto, com um gigantesco Livro de Sete Selos aberto em seu interior. E aí fica a pergunta: ”por que Nossa Senhora de Fátima escolheu, em primeiríssimo lugar, mostrar o Inferno para aquelas crianças na sua primeira aparição em Portugal, no ano de 1917?”

Não Há Nada Lá gira em torno da máxima “a Palavra Cria o Mundo”, trabalhando os Sete escritores/personagens principais como os Sete Cavaleiros do Apocalipse. A abertura dos Sete Selos do Livro representa o fim dos livros no mundo.
E não é como se a idéia fosse nova: isso já foi e ainda é tema das principais raízes religiosas de todo o mundo. Apresento-lhes João 14:14 – “No Princípio havio o Verbo. E o Verbo estava com Deus. E o Verbo era Deus.”

Não Há Nada Lá foi lançado em 2001 pela Ciência do Acidente e infelizmente já se encontra com publicação esgotada. Mas você ainda pode peneirar por aí em Sebos ou ter a sorte de encontrar essa maravilha nas bibliotecas de sua cidade e/ou faculdade.
Como presente, um link autorizado com alguns de seus contos:
http://www.germinaliteratura.com.br/jrterron.htm

Não Há Nada Lá

Ano de Edição: 2001
Autor: Terron, Joca Reiners
Número de Páginas: 168
Editora:Ciência do Acidente

Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente – 4. A Boca do Inferno (Otto Lara Resende)

Livros segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008 – 2 comentários

Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.

Pois bem, e eu lhes apresento outro simpático velhinho.
Otto Lara Resende foi um famoso jornalista mineiro, atuante na capital do Rio de Janeiro. Durante meados da década de 50, ele possuía seu próprio espaço para entrevistas televisivas, chegando a entrevistar personalidades como Nelson Rodrigues.

Filho de um professor mineiro e quarto de uma série de vinte (sim, vinte!) irmãos, teve uma rígida educação católica. Era conhecido pela simpatia e pela receptividade dos amigos em sua casa, estando sempre aberto a reuniões e conversas.
Mas em 1957 nosso sorridente jornalista publica seu segundo livro de contos, A Boca do Inferno. A partir daí, Otto começa a ser visto como alguma espécie de doente mental pervertido pela família, pelos amigos e pela sociedade carioca em geral.

A Boca do Inferno possui um tema Difícil. Difícil de ser aceito para a época em que foi lançado e Difícil de ser digerido pelo leitor. Trata-se de sete contos ambientados no universo infantil, com impressionante unidade temática e estilística. Todos os contos, Todos sem exceção, trabalham o universo infantil de forma Trágica, Problemática e, por que não?, Perversa.
Além disso, grande parte das histórias envolve conflitos entre a realidade da infância e a idealização da educação católica rígida. O melhor exemplo é o conto Dois Irmãos, onde a criança, atacada pela culpa da morte de seu irmão e com a cabeça rodando pelo catecismo, acaba por Cortar fora o próprio Pau dentro do banheiro de sua casa, numa forma Doentia e Desesperada de extirpar os pecados de seu corpo.

A Perturbação fica ainda maior quando lemos O Porão, terceiro conto do livro. A forma como a Crueldade Infantil é trabalhada, em contraste com uma bela e sóbria narração do espaço, cria um profundo arrepio na espinha, enquanto lemos o Psicótico assassinato a sangue frio de Rudá por seu amigo Floriano, dentro de um porão. A canivetadas.
O trabalho estético é primoroso: a escuridão do porão é trabalhada como coisa viva, como uma Entidade de Liberdade que permite ao garoto todos os tipos de experimentações Violentas.
Conheço pessoas que tiveram pesadelos com esse porão…heh.

Continuando a Morbidez, em Três Pares de Patins conhecemos a violência da brincadeira sexual com que um garoto oprime sua própria irmã e um de seus amigos. Dentro de um cemitério.

Como triunfo final e Perverso dos instintos animais e desesperados das crianças sobre a educação falha e problemática da Igreja Católica, vemos, em O Moinho, o suicídio Brutal do menino Chico, que se joga nas engrenagens de um Moinho em movimento após perceber que não poderia escapar de seu cruel e violento Padrinho.
Por fim: a beleza da unidade do livro. O primeiro conto, chamado Filho do Padre, mostra Trindade, garoto que havia sido adotado por um padre, envenenando o velho vigário e se escondendo uma pequena gruta local, apelidada carinhosamente pelos habitantes da cidadezinha de…A Boca do Inferno.

Boca do Inferno, após passar quase meio século com suas publicações esgotadas, volta a ser impresso pela Companhia das Letras em 1998, bem como outras obras do mesmo autor. Otto Lara escreve de forma límpida e poética que, em conjunto com seus temas Perversos & Mórbidos, funciona como um Chute no Olho. E na Mente.

Boca do Inferno, A

Ano de Edição: 1998
Autor: Resende, Otto Lara
Número de Páginas: 104
Editora:Companhia das Letras

Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente – 5. Por Trás dos Vidros (Modesto Carone)

Livros domingo, 10 de fevereiro de 2008 – 1 comentário

Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.

Agora a coisa começa a ficar Séria. Já falamos sobre subversão e sobre drogas, mas o Choque Mental começa de verdade a partir da quinta posição.
Vocês conhecem Kafka? Franz Kafka? O autor de A Metamorfose e O Processo, por exemplo. Dono de um estilo narrativo que aproxima a história de um pesadelo. Paranóia, Loucura & Claustrofobia. Isso é Kafka.

Mas, a menos que você leia no original em Alemão, para conhecer Kafka você teve que passar por esse senhorzinho: Modesto Carone. O Tradutor oficial de Kafka no Brasil. O simpático velhinho já está próximo de traduzir a obra completa do escritor judeu e não mede palavras pra descrever sua fascinação pela obra do cara.
Mas não acaba aí – Modesto Carone Também escreve. Escreve de forma Bizarra, Louca e leva ao extremo toda a paranóia e falta de sentido que encontramos em Kafka.

A linha é a mesma: o irreal é tão gritante que as personagens são obrigadas a Se Acostumar com a situação para não enlouquecer ou perder a cabeça. Os contos seguem um foco extremamente obsessivo, e a narração em forma de Pesadelo contrasta violentamente com as reações e falas dos envolvidos.
Acabei escolhendo Por Trás dos Vidros por se tratar de uma compilação de contos dos principais livros do autor. Só assim eu poderia colocar lado a lado o bizarro Dias Melhores com o confuso e instigante Jogo das Partes.

Só assim vocês poderiam sentir a porrada no cérebro de contos como O Espantalho, onde o narrador inicia o conto declarando que, após ter encontrado o Cadáver do Enforcado dentro de seu armário, passou a prestar mais atenção na forma de se vestir. E aí segue-se uma longa pormenorização das diferentes combinações de roupas e as horas gastas em frente ao espelho. Fim.

Mas há Dias Melhores, em que o narrador começa explicando que Não Sabe a razão pela qual há, todas as madrugadas, um atirador escondido numa moita em frente á sua casa, disparando com uma carabina incessantemente. A situação é tão sem sentido, e ao mesmo tempo, tão rotineira, que nosso querido personagem acaba por incluir o belo som dos tiros, o gesso das paredes voando, dentro de seu ritmo de trabalho, enquanto permanece deitado no chão para não morrer.
E o que dizer de O Cúmplice, onde nosso narrador declara que “Ele” sente atração por seu dente podre? E quem é “Ele”? Não se sabe, mas “Ele” surge inesperadamente assim que o dente começa a doer…

Publicado em 2007, Por Trás dos Vidros reúne os principais contos de As Marcas do Real, Dias Melhores e Aos Pés de Matilda, todos de autoria de Carone. Com uma prosa calma, meticulosa e até científica, os contos assustam pelo paradoxo com seu conteúdo surreal e paranóico. Os contos assustam com o mesmo tom de Terror Impossível que o aparecimento daquele cara vestido de Urso no meio do filme O Iluminado.
E, ao fim, você já estará pronto para pegar sua lupa e vigiar constantemente o crescimento dos pêlos de seu corpo. São…As Faces do Inimigo.

Por Trás dos Vidros

Ano de Edição: 2007
Autor: Carone, Modesto
Número de Páginas: 201
Editora:Companhia das Letras

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