Caixinha de diversão do demonho/O mal á espreita

Nerd-O-Matic quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008 – 6 comentários

Confesso pra vocês que essa coluna do Piratão me fez sentir vergonha por não aproveitar melhor meu pretenso dom literário. Talvez porque eu não tenha nenhum dom no fim das contas, e nem QUERENDO sairia um troço com real valor literário.

Ou então vai ver que eu não levo vocês muito a sério. E vice-versa. Whatever.

Ainda assim eu acredito que até sei juntar algumas palavras, expor algumas idéias e provocar alguma comoção de vez em quando. Portanto, em tom de inveja ao texto do Capitão, toma aí procês:

Jogos Mortais

ou

“Relato auto-psiquiátrico de um sociopata gamer”

Meu nome é Anônimo e eu tenho algo a dizer: Violência RLZ

O gosto pela violência nos jogos é uma falha grave de caráter. Assim, eu teria uma falha grave, se eu tivesse caráter. Sabem quando eu descobri isso? Quando eu joguei Hitman. Sabem quando eu descobri isso de novo? Quando joguei Manhunt. Sabem quando eu descobri isso de novo mais uma vez novamente outra vez? Quando joguei Resident Evil 4. Sabem quando eu descobri isso pela última vez? Quando eu joguei No More Heroes.

Meu nome é Legião, e não é o excesso de sangue nos jogos que me excita. Não existe esse negócio de “excesso de sangue” e, sinceramente, se preocupar com esse tipo de coisa nos jogos é perda de tempo. Pegue um filme como Kill Bill, que é praticamente uma tela vermelha intercalada com closes da Uma Thurman, do início ao fim. O sangue é caricato e existe em profusão. Tão grande é sua presença que você começa a ignorá-lo, pois ele é mais comum que a água no mundo de Quentin Tarantino.

Infantil e ignorável também é a presença de sangue em jogos como Mortal Kombat. Sangue-dispensável. Sangue-parte-do-cenário. Sangue invisível. Aquilo que ocupa a tela toda durante o tempo todo rapidamente se torna paisagem, panorama, horizonte. É uma lei da percepção humana: pra você prestar atenção em alguma coisa, pra que ela seja diferente e chocante, ela precisa ser o detalhe, se destacar do fundo. Aquilo que está presente o tempo todo é rapidamente ignorado pelo humano médio, em busca de outros estímulos mais… estimulantes.

Não, não é o sangue que me excita.

Meu nome é Raiva. O que me move é a violência per se, a fúria irracional e desmotivada, o excesso de força para resolver uma situação que poderia ser resolvida de uma forma mais equilibrada. Equilíbrio é para os fracos, parlamentar é coisa de mulherzinha. Na dúvida, ATIRE. Mire na cabeça, entre os olhos, pelas costas, imprevisível, escopeta 12 cano serrado, pólvora estourando, efeito dramático, satisfação avermelhada, cai devagarzinho com um fio rubro escorrendo pela parede. HEADSHOT motherfucker; quero ver você levantar e olhar torto pra mim de novo.

Na dúvida, ATIRE. Atire até que você não tenha mais dúvidas de que essa é sempre a melhor opção. Atire até começar a estranhar o simples fato de um jogo não ter uma arma de fogo como opção de negociação.

Na dúvida, ATIRE. Atire tanto que os joysticks dessa sua caixinha de satisfação eletrônica começarão a sair de fábrica com gatilhos incorporados, a fim de satisfazer aquela coceira no dedo que você não sabe direito o que é.

Na dúvida, ATIRE. Contra a violência não existem argumentos.

Meu nome é ódio e eu não preciso de argumentos, só me dê a chance de matar e eu abro mão do motivo. Antes eles eram zumbis, e isso era uma ótima justificativa para eu exterminar TODOS. Eles já estão mortos mesmo. Ou eu mato ou eles me comem vivo. Legítima defesa. Absolvido de todas as acusações. Caso encerrado.

Mas agora eles não são mais zumbis, eles são gente. Mas ok, eu mato como se fossem zumbis. Aliás, eu mato como se fossem cachorros. Aliás eu mato como se fossem pixels na tela. Aliás, pixels são mais interessantes, vocês são apenas um alvo móvel e balbuciante. Headshot.

Meu nome é Crueldade. Me dê UM motivo e eu posso ser mais do que violento; não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior. Eu posso me tornar um filha-da-puta sanguinário com apenas meio motivo. Qual é o meu motivo?

Agora eu sou um assassino profissional? Ok, eu posso lidar com isso. Eu vou passar o cerol em você e toda sua família, eu sou um assassino profissional, e profissionais não deixam a emoção interferir no seu trabalho. Esconda o corpo na sombra. Sem vítimas, sem crime. Melhor matar todo mundo em volta também. Sem testemunhas, sem crime. Eu sou um profissional e vocês são só um bando de alarmes ambulantes. Por que vocês gritam e correm tanto? Nunca viu um cadáver, porra? Olhe no espelho e você vai ver um. Porque você ainda finge que está vivo?

Agora eu sou um cara normal que foi preso numa espiral de perversão alheia? Orra isso é mais motivo do que eu precisava. Vocês são todos do mal e merecem morrer. Eu sou a mão de deus, eu sou o martelo das bruxas, eu sou a punição divina. Se vocês são a doença, eu sou a cura. Eu sou normal e vocês merecem morrer, pelo bem da humanidade. Absolvido de todas as acusações. Caso encerrado.

Agora eu sou… o quê? Alguém que precisa matar 10 nego pra subir num ranking? Ok, a competição sempre moveu a civilização. O desafio, a sobrevivência do mais forte, meu tacape é maior que o seu, e assim caminha a humanidade. Eu tenho um sabre de luz, mas ele não é mais aquela arma infantil de Star Wars. Vocês já estão bem grandinhos, é hora daquele sabre de luz arrancar SANGUE. Muito sangue. Mas eu nem vejo mais, porque ele cobre a tela. O sangue é tanto que me impede de ver quem é o próximo a morrer. Porque eles precisam sangrar tanto? O sangue me impede de MATAR com mais eficiência e presteza. Morram, mas não sangrem, porra.

Meu nome é Violência, e vocês deviam me internar. Mas se chegar perto, é headshot.

A semana de um gamer com pouco tempo pra jogar.

Nerd-O-Matic quinta-feira, 31 de janeiro de 2008 – 8 comentários

Ok pimpolhos, vamos tentar alguma coisa diferente na coluna dessa semana. Vocês sabem que normalmente eu gosto de ficar aqui, discorrendo sem-noçãomente sobre minhas idéias e observações a respeito de vídeo-games, e tentando criar algum tipo de reflexão inválida sobre essa forma de entretenimento que rouba tantas horas de nossas vidas.

Mas ultimamente eu ando com saudades das Fast Food Reviews, que alguns de vocês devem ter acompanhado, e infelizmente não tenho encontrado tempo para manter a série. Mas isso não significa que eu não continuo jogando várias coisas, e muito a fim de comentar sobre elas com vocês.

Portanto tentarei fazer hoje um mix de coluna e review. Não vou fazer uma review, simplesmente, porque isso vocês podem ver em qualquer lugar por aí. Vou tentar fazer uma coisa mais pessoal. Vamos ver se vai dar merda.

Primeiro jogo que anda ocupando meu tempo. Alguém quer tentar adivinhar?

Final Fantasy Tactics: War of the Lions – Playstation Portable

Eu sei, eu sei. Eu também estou constrangido por falar dele DE NOVO por aqui. Mas como já comentei em outros momentos, continuo jogando o Final Fantasy Tactics do PSP feito uma doninha enlouquecida. A febre voltou com tudo, e ainda não entendo totalmente por que caralhos continuo jogando um jogo que já terminei duas vezes no Playstation 1. Porra, virou uma relação de amor/ódio ultimamente; eu pego o PSP meio com raiva, me perguntando por que vou perder de novo mais alguns minutos jogando um jogo velho que eu já virei do avesso. Aí ligo o portátil, vejo que parei bem no meio de uma batalha com o Ramza já com o dual wield do job Ninja, que é a habilidade de utilizar duas armas ao mesmo tempo. É realmente um dos momentos mais satisfatórios de FFT, quando você pega essa habilidade de Ninja e troca ela pra transformar o personagem em um Knight, por exemplo. Aí tu vai lá e mata os inimigos em uma rodada só, ainda por cima em um contra-ataque! Oh, satisfação imensa do trabalho bem-feito.

Aí você termina a batalha, volta naquele mapinha motherfucker, e vai lá no menu, abrir a lista de abilities dos seus personagens. E você vê que faltam só 10 jp pra você colocar o seu Time Mage no nível 5, e que daí você vai poder transformá-lo em um Arithmetician, que vai poder mandar magia em qualquer canto do cenário, e isso é o cão chupando manga, porra! Então, são só 10 jp e tals, mais uma batalhazinha, só pra conseguir fechar o job, né? E assim você afunda sua vida em Final Fantasy Tactics, esse correspondente vídeo-gamístico da cocaína.

Se você não entendeu picas do que eu tô falando, é porque você nunca foi pego pela febre Final Fantasy Tactics. Mas tudo bem, o ponto aqui é o seguinte: é o jogo mais viciante de todos os jogos mais viciantes que já passaram pelas minhas mãos. Eu não vou conseguir nunca parar de jogar essa porra. E por isso estou odiando o jogo ultimamente. Não joguem Final Fantasy Tactics. É tipo um precursor do World of Warcraft em termos de vício.

Próximo jogo.

Na semana passada comprei Medal of Honour Heroes 2, do Wii.

Medal of Honour Heroes 2 – Wii

Eu achava que Metroid Prime era o melhor FPS do Wii, mas depois de MOH fiquei na dúvida. E olha que eu nem sou tão fã da série MOH, apesar de ter jogado muitos desde que saiu o primeiro MOH no Playstation. Electronic Arts né, sabe como é; os jogos sempre parecem clones um do outro. E eu acabei de terminar o mesmo jogo no PSP… eu tava bem na dúvida se comprava ou não. Mas como eu tinha crédito na loja, e não tinha nenhuma novidade interessante, levei esse mesmo. Além do mais eu sou totalmente sucker por jogos de guerra.

Totalmente acima das expectativas. O controle é perfeito para o Wii, apontando a arma, caminhando e virando a câmera com uma agilidade espetacular. Tudo funciona como deveria funcionar, e você pode se concentrar imediatamente na ação. Claro, tem um ou outro comandozinho pra aprender, mas de uma forma geral é tudo tão ridiculamente intuitivo que você fica torcendo pra ver qual vai ser o próximo comando a ser aprendido.

Alguns desses comandos chegam a ser completamente idiotas, mas ainda assim são surpreendentemente divertidos. A bazuca, por exemplo; pra “usar” a bazuca você tem que levantar o wiimote e colocar ele sobre o ombro como se estivesse realmente segurando uma porra de uma bazuca. Confesso que me senti um imbecil completo na primeira vez que executei o movimento porque, veja bem, faltam alguns quilos e alguns METROS cúbicos para que um wiimote seja confundido com uma bazuca. Mas ok, play along, vamos fazer o movimento idiota e ver o que o jogo nos reserva.

Aí levantei o wiimote e olhei pros lados pra ver se não tinha ninguém me vendo. Porra eu olhei até pra JANELA pra ver se não tinha nenhum vizinho olhando. Ok, tudo limpo. “Aperte o gatilho para liberar o projétil”: aperto o gatilhozinho do wiimote e de repente WOOOOSH, uma porra de um barulho enorme de míssil voando no meu ouvido! Caralhos! Os caras colocaram o barulho do projétil percorrendo o cano da bazuca saindo pelo wiimote! E fica do caralho, porque você fez o movimento idiota de colocar o wiimote sobre o ombro e agora a parada tá COLADA no seu ouvido, fazendo um barulho infernal.

Aí fiquei eu rindo feito bobo enquanto a tela ia avermelhando, porque eu tomei altos tiros até conseguir voltar ao meu estado normal de gamer sério.

E, meu, como é diferente jogar no WII e no PSP; é definitivamente outro jogo. No PSP você trata como mais um FPS, jogando de forma mais técnica: recua, agacha, mira, atira: headshot. Avança, repete tudo de novo até o fim da fase. No Wii não tem dessas, você se envolve com o que tá acontecendo e tem momentos que você fica mesmo ferrado de tanto levar tiro, esperando o resto do teu batalhão avançar pra você conseguir correr até o próximo barril. Atirar granadas no wii envolve todo o movimento de jogar uma granada e é uma coisa DIVERTIDA e não a porra de simplesmente apertar o botão de mandar a granada no PSP. Só agora eu entendo perfeitamente o que é a “imersão” num jogo, quando o desenvolvimento técnico e tecnológico do hardware permitem que você se sinta mais “dentro” e participante ativo do que acontece na tela.

Beleza, só mais um jogo. Isso aqui tá enorme já, pra variar.

Burnout 3: Takedown – PS2

Então, eu estava de mudança na semana passada. E lógico que o que foi empacotado com mais cuidado foram os meus consoles. Eu fiz questão de trazer meus consoles de carro, sendo que eles podiam ter vindo com a mudança toda e tal.

Aí eu cheguei no apê novo e a primeira coisa que eu fiz foi testar todos os consoles, pra ver se eles tinham sobrevivido ao trajeto. Pra testar o PS2 eu escolhi o Burnout, que é um jogo que sempre habitou meu coração, devido á trilha sonora nervosa, velocidade alucinante e capotagens de filmes de ação.

Aí comecei a jogar a porra e não consegui parar mais pelo resto da semana. Burnout sempre me ocupa um tempo desgraçado, é totalmente viciante ficar batendo nos carros dos inimigos e fazendo eles voarem pista afora. E ainda ganhar pontos e mais tempo na pista por causa disso.

Além disso, tem o lance de as coisas acontecerem MUITO rápido. Burnout não é o tipo de jogo que você aprender a jogar e daí o adapta ao seu ritmo de jogo. Burnout é uma reversal russa dos games: Em Burnout, VOCÊ é que tem que jogar no ritmo do jogo. E o ritmo só vai aumentando; você vai pegando carros cada vez mais rápidos, pra correr em pistas cada vez mais estreitas e cheias de pilares de concreto, que vão te dividir ao meio e fazer você perder tanto tempo, que é melhor apertar o start e recomeçar a porra da corrida de volta.

É tão rápido que tudo em volta do carro SOME ás vezes. Eu jogo Burnout e tem momentos em que eu começo a lacrimejar, cara. E não é porque o jogo me emociona, mas porque eu não consigo PISCAR em algumas pistas. Você fica tão ligado na tela que esquece de suas funções vitais. Estou até vendo o dia que vou parar de respirar e morrer jogando. Orra isso seria do caralho, aliás.

É isso crianças. Espero que vocês tenham gostado. E como sempre, se não gostaram, vão morder a bunda dos pais de vocês pra ver se tem gosto de presunto, okie?.

Volta SEGA!

Nerd-O-Matic quinta-feira, 24 de janeiro de 2008 – 12 comentários

Por que trazer um defunto para esta coluna? Porque o Dreamcast é um console do caralho e vocês precisam conhecer antes de sair aceitando qualquer vídeo-game por aí.

Na verdade eu ainda me surpreendo com o desconhecimento das pessoas a respeito do Dreamcast. Mesmo quando eu estava trabalhando profissionalmente escrevendo sobre games, conheci várias pessoas que nunca tinham sequer visto um Dreamcast ao vivo e a cores. Alguns cometiam a heresia de achar que ele apresentava gráficos piores do que o Playstation 1, e que esse era um dos motivos de seu falecimento. Ignorantes.

Shenmue. Um dos melhores exemplos do poder gráfico do Dreamcast.

Na verdade o Dreamcast era uma plataforma poderosa, com gráficos comparáveis aos do Playstation 2, e isso já em 1999. Não vou ficar lembrando aqui dados técnicos do hardware, ou suas datas de lançamento, término e blah blah blah. Vão ler essas merdas em outro lugar, que tá cheio disso por aí.

O que me interessa falar do Dreamcast é que ele é um caso raro de vídeo-game BOM, e que mesmo assim foi o canto do cisne da SEGA, em termos de consoles. Talvez tenha realmente sido o melhor vídeo-game que a SEGA já fez, batendo, na minha opinião, até mesmo o Mega Drive. Como pode acontecer de o melhor vídeo-game que a SEGA já lançou também ser o mesmo que enterrou ela de vez?

Porra, o Dreamcast já vinha com entrada para quatro controles, o que acho que era inédito naquela época. Foi o primeiro console que pensou de forma séria nos party games, os jogos pra se jogar em várias pessoas. Power Stone fazia isso muito bem e era um jogão.

Além disso, foi o primeiro console a vir com um modem 56k embutido. E funcionava bem pra cacete! Quantas horas e horas eu joguei nos fins de semana, quando a conexão discada pagava um pulso só. Como os jogos eram feitos para aquela conexão nojenta, não tinham grandes ambições em termos de trocas de dados simultâneos, mas mesmo assim era possível jogar Unreal Tournament sem lag!

E ele também acessava a internet. Você tem noção de como era inédito acessar a internet através de um vídeo-game há dez anos atrás? Era totalmente inédito, caso você não saiba. Certa vez meu desktop teve sua placa mãe queimada por um raio maroto que caiu durante uma tempestade, e ficou na UTI por semanas, porque placas-mãe eram caras há dez anos atrás. Foi espetacular: graças ao Dreamcast eu não fiquei nem mesmo um dia só sem poder acessar pornografia online! E descobri inclusive a alegria de ver fotos de mulher pelada diretamente na tela do seu televisor de vinte polegadas.

E o joystick? Era esquisito, concordo. Mas até hoje eu acho que o joystick do Dreamcast é o terceiro melhor de toda a história dos vídeo-games (Atrás do controle do X360 e o do PS2). Ele era muito anatômico e confortável, embora não pareça. Ele tinha aquele espaço no meio, onde você encaixava o VMU sobre o qual falarei adiante. O VMU ficava legal ali, e transformava o joystick em um artefato tecnológico, que chamava muita atenção de quem estava só olhando. Porra, tinha uma telinha de LCD no seu controle cara. Ele era praticamente um palmtop!

Além do visual do VMU incorporado, o controle tinha os botões L e R que eram gatilhos, o que eu acho que foi revolucionário. Hoje em dia o PS3, o Wii e o X360 copiam a idéia, mas ela surgiu pela primeira vez no Dreamcast. E era muito tesão jogar Unreal Tournament com gatilhos na mão cara. Fazia maravilhas pela sensação de imersão.

Finalmente, o VMU (Virtual Memory Unit). Era o cartão de memória do Dreamcast. Ok, a essa altura os cartões de memória já não eram novidade, pois foram inaugurados com o Playstation 1. Mas o que era novidade no VMU é que ele tinha um visor de LCD, e até uns controlezinhos junto, o que transformava ele em um (forçando a barra) mini game boy:

É sério, dava pra JOGAR nele. Nada muito complexo, pareciam mais com jogos de celular rudimentares. Mas era interessantes, porque no caso de jogos como Skies of Arcadia, o joguinho do VMU ajudava você a conseguir novos itens para o jogo no console. Era como uma interação rudimentar entre o Nintendo DS e o Wii. E funcionava. Pena que o troço comia pilha pra cacete. E eram aquelas pilhas caras de relógio, pra pioras as coisas. Felizmente ele funcionava como um cartão de memória normal, mesmo sem pilhas.

E, por último, a enorme oferta de jogos bons que o Dreamcast tinha. Veja aqui uma lista com as notas médias dos jogos que saíram para o console. Na boa, que outro console você conhece onde mais de um terço de todos os jogos que saíram tem nota média acima de 80? E onde mais da metade de TODOS OS JOGOS tem nota média acima de 70? É por isso que eu sempre digo que o Dreamcast, proporcionalmente, tem a melhor biblioteca de jogos de todos os consoles que já foram lançados.

E por isso eu nunca vou entender por que a SEGA desistiu de vez dos consoles, já que o último que ela fez foi um dos melhores consoles que eu já tive. E tenho. E jogo. Até hoje. Jet Grind Radio motherfucker!

Jogos-vampiro.

Nerd-O-Matic quinta-feira, 17 de janeiro de 2008 – 15 comentários

Não, não estou falando de jogos DE vampiro, seus ignorantes. Embora eu também ache que Castlevania é uma das melhores coisas já inventadas depois da cerveja engarrafada.

Estou falando de jogos-vampiro, e eu desculpo a burrice de vocês a respeito do termo porque eu acabei de inventá-lo.

O que é um “jogo-vampiro” e por que diabos um nome tão idiota para ele? Vejam como faz sentido: é aquele jogo que não morre nunca e que suga seu sangue e sua vida até você ficar estrebuchando no chão, com a mão em forma de garra segurando o joystick.

É o jogo que você termina uma, duas, três vezes e nunca se dá por satisfeito. Quando finalmente você consegue largar, mesmo assim alguns anos depois acaba pegando ele de novo em algum emulador de dá-lhe enfiar mais horas da sua vida na parada. E depois ele sai de novo na forma de um remake para algum outro console e você joga DE NOVO. E isso vai acontecer todas as vezes em que ele aparecer na sua frente. Ele não morre nunca.

E ele suga seu sangue, você simplesmente não consegue parar de jogar. Você acorda, vai trampar, estudar, ou sei lá que caralhos você faz da vida, e você fica pensando em que momento do dia vai conseguir tirar alguns minutos pra jogar de novo. E uma vez que você começa, não consegue parar pra jantar, assistir televisão ou sei lá que caralhos você faz nos seus momentos de lazer.

Não entendeu ainda que tipo de jogo é esse? Vou desenhar pra você:

Eu realmente não sei dizer quantas horas de jogo já enfiei em toda a série Final Fantasy. Mas eu GARANTO que Final Fantasy Tactics foi o spin-off que consumiu a maior parte do meu tempo. Eu nem conto mais as horas; eu não quero saber.

Ainda lembro de forma vívida daquele dia nublado de novembro de 1998, quando fui comprar meu Playstation. Depois de 6 meses guardando grana, finalmente achei uma loja que vendia o console já destravado, o que era a oitava maravilha do mundo naquela época; era MELHOR do que cerveja engarrafada. Mas não estamos falando de Heineken, claro. Melhor do que Skol engarrafada, talvez. Definitivamente melhor do que Sol engarrafada.

Enfim, o console vinha com 10 jogos “alternativos” á escolha do comprador. Eu já tinha pré-escolhido todos os jogos pela internet, e já sabia exatamente o que ia levar pra casa. Mas os putos não tinham Gran Turismo, então eu tive que escolher outro jogo entre os disponíveis. Folheando o catálogo, em meio a outros jogos, vi essa capinha:

Tactics“? Tipo “Ogre Tactics“? Eu nunca tinha ouvido falar. Ninguém conhecia Final Fantasy Tactics naquela época. O que estava bombando na série era Final Fantasy VII, o título que salvou os RPGs da monotonia e que impulsionou a venda de milhares de consoles.

O funcionário da loja percebeu meu interesse e safadamente falou: “ô, esse jogo é bom hein?”, claramente querendo se livrar da pilha encalhada que tinha. Dei uma olhada no joguim, dei de ombros e pensei “bom, é Final Fantasy e é da Square. Não pode ser tão ruim”.

Cara. Eu não sabia o que eu estava levando pra casa.

Depois de 3 ou 4 dias jogando todos os outros 9 títulos que eu tinha comprado, finalmente lembrei do Final Fantasy Tactics. Fui ver qual era a do jogo.

Inicialmente, mesmo eu estando acostumado aos RPGs, me deparei com a enorme dificuldade para entender o sistema de jogo. Era muito, mas muito complexo para a época. Aliás, até hoje é complexo. Esse é o maior ponto forte e fraco ao mesmo tempo de FFT. Depois de ler os tutoriais, eu ainda não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Apanhei pra caralho.

Mas aos poucos você vai entendendo o que acontece, como as unidades precisam ser utilizadas em conjunto, como as magias dependem do Faith de cada personagem, como os signos se relacionam e etc… Muitas variáveis para um joguinho só, criando uma infinidade de cenários possíveis para cada jogada que você faz.

E os conceitos de jobs e abilities? Mágico, mano. Mudou completamente o que se entendia por personagens de jogo em um RPG. Jobs e abilities permitiram que você criasse a sua party, sua equipe, da maneira que você bem entendesse. Uma cadeia gigantesca de pré-requisitos antes que você conseguisse liberar os jobs mais nervosos garantia a premiação apenas dos jogadores mais ferrenhos e dedicados. O jogo todo é assim. Com um monte de pequenas coisas pra descobrir, novas abilities liberadas a a cada batalha, que podem mudar completamente a função e valor de um dos componentes do seu grupo, novas magias, novas maneiras de fazer o que você achava que já fazia bem.

Tem job pra cacete pra escolher.

Essas pequenas recompensas que aparecem quanto mais você joga, são responsáveis por manter o coitado que entra no jogo GRUDADO nele por longos períodos de tempo. “Só mais uma batalha pra eu conseguir os job points pra Lifefont“, “Só mais um cenário pra ver a história andar”.

Sim, porque a história em FFT também é ótima. Intrincada e com reviravoltas que se tornaram clichês em outros RPGs subseqüentes. Confesso que não entendi completamente a história quando joguei no Playstation. Mas isso foi muito bom, porque estou me divertindo horrores ao acompanhá-la em uma nova tradução agora na versão do PSP.

E com cenas desenhadas á mão, dessa vez.

Aliás, foi a versão do PSP que me motivou a escrever a coluna dessa semana. Eu AINDA estou jogando esse jogo, é inacreditável. Depois de mais ou menos dois meses sem jogar o remake de FFT pro PSP (mais ou menos o tempo em que tenho o Wii), eu novamente peguei nele e não consigo mais fazer outra coisa no tempo livre. Aliás, foi com grande relutância que vendi meu Final Fantasy Tactics Advance (do Gameboy Advance) ao Santhyago:

Só vendi porque sei que está nas mãos de alguém que também é fissurado pela série. O vampiro agora suga o sangue dele. Mas agora em 2008 chega o Final Fantasy Tactics Advance do Nintendo DS:

Me fodi de novo.

Jogos-vampiro, cara. Cuidado com eles.

Resenha – 300

Cinema terça-feira, 15 de janeiro de 2008 – 5 comentários

Já tivemos uma outra resenha [Nota do editor: Não tem mais] recentemente sobre “300” aqui no AOE. E vocês, leitores chatos bagarai, devem estar se perguntando por que demoramos tanto pra resenhar esse filme.

No caso dos outros resenhistas eu não sei, mas no meu caso é porque eu quis mesmo esperar a poeira baixar e ver se o filme continuaria me emocionando meses depois.

300 (2006)

E então? Esse filme ainda é bom mesmo ou era só aquele hype e excesso de propaganda do início do ano? Bom, pra começar, quero XINGAR o filme, listando todas as suas coisas ruins:

1) Rodrigo Santoro;
2) Nenhum espartano na história da humanidade NUNCA pareceu com um stripper depilado e usando sombra nos olhos.

Portanto, o filme se tornou uma propaganda visual homossexual. Acho que já falei isso em outro lugar. Mas ok, não consigo pensar em mais nada pra xingar. Vamos para as partes boas.

Apesar da temática visual meio gay, ainda assim acho que “300” é um filme do caralho e sou meio suspeito para opinar sobre ele. Então requisitei a opinião da Gabi sobre a película:

Atillah – Slaying Mojitos diz:
Gabi, por favor. Assim, do nada:
Atillah – Slaying Mojitos diz:
diga uma frase sobre o filme “300”?
Gabi diz:
mó gostosa essa rainha.
Atillah – Slaying Mojitos diz:
Ok, acho que posso utilizar. Obrigado.

Devo concordar com a Gabi. Pra compensar os strippers, pelo menos colocaram uma rainha gostosa e com personalidade. Sem falar no Oráculo. Não lembro muito dessa parte de intrigas políticas na HQ, mas até que encaixou bem no filme. E como o Théo sempre diz: se é pra fazer um filme igualzinho ao livro, pra que assistir ao filme ou ler o livro?

Aê rainha, pega eu.

Aliás, no caso de “300”, a fidelidade á HQ e ás cenas desenhadas por Frank Miller é o grande trunfo. O trabalho foi tão bem feito como em “Sin City”, e é um ótimo exemplo de como um filme pode te seduzir com suas imagens e ritmo, mesmo você já conhecendo o enredo. Os detalhes, esse é um filme para se observar os detalhes. Vejam como o cuidado na fotografia e na edição visual/sonora podem construir cenas inesquecíveis em filmes altamente improváveis, como “300”:

Em um certo momento do filme, o exército espartano passa o cerol em um monte de persas, e o Deus-Rei Xerxes vai pessoalmente até Leônidas, para tentar seduzi-lo com promessas e dar um fim ao massacre.

Reparem na expressão de desdém que Leônidas adota quando vê Xerxes se aproximando, todo Vera Verão, em cima da sua carroça-plataforma carregada por escravos. Leônidas não fala nada, apenas olha com descrédito, em um semi-sorriso irônico; não precisa mais nada para que você entenda o cara:

“mas esse Xerxes é uma bicha louca mesmo. Olha que empáfia, que falta de noção. Eu aqui de pé feito homem esperando e a boneca lá em cima, se achando a poderosa destaque em cima do carro alegórico da escola de samba.”

Orra, vai dizer que não parece desfile de Carnaval?

Ao ser desafiado por Leônidas, Rodrigo Santoro, claramente puto, começa a cuspir ameaças de destruição de Esparta, e enquanto o faz, suas argolas, brincos e outras joiazinhas ficam balançado e fazendo “tlin-tlin” loucamente, como se ele fosse uma caixinha de jóias ambulante.

Percebam, esse tipo de ruído poderia ser cortado depois, na edição sonora, mas os caras fizeram questão de deixar isso, pra mostrar o contraste entre o espartano, despojado de qualquer enfeite ou adereço, e Xerxes, o deus das bijouterias. É assim que você marca o imaginário do espectador, é assim que é traçada linha divisória entre homens, bonecas e crianças no filme. Uma imagem vale mil palavras.

Falando em imagens… e as cenas de batalha? Caralho. As cenas de batalha mexem com alguma coisa dentro de cada um, não sei direito o que é. Muitos falaram na coreografia e no sincronismo dos golpes, que realmente são espetaculares. Outros falaram na direção de arte, na construção visual, na ênfase do vermelho do sangue jorrando, que também são impecáveis. Mas revendo o filme, comecei a prestar atenção em outras coisas; depois que você já sabe como cada cena se desenrola, onde os espartanos vão dar cada soco, enfiar a lança ou a espada, você se desliga um pouco da parte visual. Você já sabe o que vai acontecer, perde a surpresa.

E mesmo assim as cenas continuam me emocionando.

E daí descobri que é TUDO que faz diferença, é o pacote completo. Quando os espartanos levantam o escudo para resistir ao inimigo e deliciosamente o empurram em direção a algum persa que vem correndo em sua direção, feito um texugo alucinado, e você escuta aquele “TUMM” metálico, de quem acabou de quebrar pelo menos o nariz e mais uns três dentes com o impacto, você sente algo quente e confortável por dentro.

TUMM!

Ah os detalhes. Não é só o “TUMM” do impacto; é também o barulho de metal zunindo depois, como quando você bate o cotovelo numa cadeira de metal e fica escutando aquele “uinnnn” ecoando no fundo, enquanto xinga o móvel. Emoção.

Não vou descrever o filme todo para vocês, e nem as melhores cenas, porque isso é coisa de motherfucker. Mas acreditem, o filme inteiro é desse jeito: o tempo todo ele oferece coisas para você ver e ouvir, tudo amarrado por uma história básica, simples, de um bando de nego querendo defender sua terra contra o invasor usurpador. Os clássicos nunca morrem.

Se você ainda não assistiu “300”, tenho inveja de você. Tenho inveja de como você ainda tem a chance de sentir pela primeira vez todo o impacto que o filme provoca. Definitivamente um dos melhores filmes de 2007.

Filmes bons que passam batidos 13 – El Laberinto del Fauno.

Filmes bons que passam batidos sexta-feira, 11 de janeiro de 2008 – 20 comentários

Vocês gostam de contos de fadas? Aposto que sim, porque vocês são tudo umas bichas-loucas. Louquíssimas, aliás. Aposto que vocês também gostam de musicais. E de fazer as sobrancelhas. E de tomar Fanta Uva. E de catar conchinhas.

Mas essa introdução é só pra dizer que vou indicar pra vocês hoje um conto de fadas que não é boiola. Aliás, nem é um conto de fadas. Se você achava que “Shrek” era espetacular por subverter o gênero “historinhas pra criança”, então prepare-se para ver algo muito, mas muito melhor do que a animação com o ogro verde que ficava melhor dublado pelo Bussunda do que a voz original.

El Laberinto del Fauno (2006)

Eu acho que esse filme passou batido, porque eu quis assistir no cinema e ele ficou um tempo ridículo em cartaz. É um absurdo como as salas dos multiplex privilegiam filmes de merda e deixam de lado essas boas produções. “Laberinto” é um filme do caralho feito por um diretor que já tinha feito outro filme do caralho antes: “El Espinazo del Diablo”. E nem estou falando de filmes cult ou obscuros; são produções grandes, feitas por um cara (Guillermo del Toro) que já dirigiu blockbusters como Hellboy e Blade II, porra. Tomem tenência e coloquem filmes bons pra rodar nessas salas com som surround, seus putos.

Ok. Tirando a raiva contra o sistema, que outro motivo você teria para assistir “Laberinto”? Muitos. Pra começar o filme é muito bonito e produzido com extremo cuidado visual. Todos os detalhes são pensados pra construir uma experiência única e encher os olhos do espectador. Os designs de portas, móveis, monstrinhos e monstrões é extremamente original e me lembra alguns livros de RPG. Espetacular.

Grilo Falante dando um toque pra heroína do filme

A parte visual é complementada pela história de uma menina que, no meio da guerra civil espanhola, encontra um fauno bico-doce que conta um caô e leva a criança a correr atrás de uns bagulhos pra se tornar a rainha da cocada preta. Não sou o Théo, portanto não vou ficar contando a história pra estragar tudo. E nem fazer como os trailers motherfuckers desse tipo de filme, que já mostram as melhores cenas ANTES de você assistir a porra do filme. O que interessa é que cada momento do filme recria de forma genial alguns clichês dos contos de fadas, principalmente de Alice no País das Maravilhas, ao mesmo tempo em que cria novos rumos para uma história infantil.

Fada Sininho

Nem sei por que ainda estou falando em infantil aqui. Isso não é um filme pra crianças. Acho que esse é outro motivo que faz com que esse tipo de filme passe batido. Criança pega essa parada e não vai entender nada, ao mesmo tempo em que vai se assustar mais com “Laberinto” do que com filme do Jason. E os adultos deixam de assistir por achar que é um filme pra criança. Mas não se engane, esse filme é um dos melhores exemplo de como contar uma história extremamente sedutora, que te gruda na cadeira até o fim. A qualidade da narrativa e a mistura entre mundo real e mundo fantástico é tão bem feita que a única coisa que eu posso dizer é “por que caralhos não fazem mais filmes desse tipo”?

Na boa, esse deve ter sido o melhor filme que recomendei até agora. Se você não teve vontade de assistir nenhum dos outros que já indiquei, dê uma chance com esse aqui. Quem sabe você começa a acreditar em mim.

Recomendação final: Película espanhola da melhor qualidade. Assista sozinho e depois reveja com seus irmãos e priminhos menores pra fazer eles se borrarem nas calças. Talvez até VOCÊ se borre nas calças, falando nisso.

A difícil vida dos gamers nos anos 90

Nerd-O-Matic quinta-feira, 10 de janeiro de 2008 – 24 comentários

2007 foi um ano quente em termos de vídeo-games. E, na minha opinião, foi o período mais abundante em termos de ofertas de jogos e consoles realmente competitivos de toda a história dos jogos eletrônicos. É isso mesmo: estou dizendo que NUNCA ANTES nas nossas vidinhas modorrentas tivemos tanta coisa pra jogar.

Essa era toda a minha coleção de jogos na década de 90

Acha exagero? Então veja só: nunca na história dos games tivemos cinco consoles simultaneamente competindo pau-a-pau pela sedução de potenciais jogadores. E cinco consoles realmente bons, com apoio de produtoras, oferta de jogos, vendas expressivas e fanboys ferrenhos defendendo suas preferências de todos os lados.

Claro que dois dos cinco consoles são portáteis, mas aí é que está o negócio: são dois portáteis tão bons que realmente competem com os três consoles de mesa. Isso é espetacular e acho que estamos vivendo um momento único; é uma época privilegiada para ser um jogador.

ás vezes fico lembrando da época “áurea” (saudosistas devem morrer) do Super Nintendo e do Mega Drive, na década de 90, quando ficávamos esperando meses pelo lançamento de um jogo novo, com o inevitável delay até que ele chegasse ás nossas locadoras brazucas. Porra, olha quantos anos passaram entre o lançamento de ActRaiser 1 e Actraiser 2, por exemplo. Você não sabe? Um foi lançado em 1990 e o outro quase em 1994. Quatro anos de espera entre um jogo bom e sua continuação, dá pra acreditar?

Hoje em dia nós temos pelo menos quatro ou cinco expansões de The Sims, POR ANO. Até os jogos ruins como Cooking Mama têm continuação saindo em intervalos curtos, em multi-plataforma. Como as coisas mudam em pouco mais de uma década.

Que desgraça cara, nós éramos infelizes e não sabíamos; a gente simplesmente não tinha o que jogar. Hoje em dia são lançados jogos novos praticamente todo dia. É lógico que a maioria dos jogos é uma merda, mas mesmo assim, temos mais jogos bons do que conseguimos jogar. E isso foi uma mudança radical de tendência que não pode ser ignorada.

Eu realmente acho que esse é um dos motivos que causam a idolatria dos jogos antigos por alguns gamers mais saudosistas. Eu sempre insisto que os vídeo-games vêm melhorando e que os jogos bons de hoje em dia são melhores do que os jogos bons de antigamente. Mas entendo como alguns jogadores se prendem aos jogos de antes em detrimento dos jogos atuais, e vou explicar agora.

Suponha que você é um moleque vivendo na década de 90, como eu era. Vivendo no Brasil, sua oferta de consoles se resumia a Super Nintendo e Mega Drive. Claro, dizia-se que existiam outros consoles, que povoavam nosso imaginário, como o Jaguar e o Neo Geo. Mas isso era conto de fadas, eles nunca existiram de verdade; eram só montagens vagabundas feitas pela Ação Games e pela Gamepro, pra ter alguma coisa pra mostrar na revista, já que jogo que é bom não tinha. Tinha o primeiro Game Boy também, um “portátil” que era um trambolho, movido a quatro pilhas AA que não duravam nada, com jogos rudimentares em preto e branco que pareciam versões Atari EM PRETO E BRANCO de jogos do Nintendinho. Teh Horror!

Meu primeiro Game Boy

Então, o guri que queria jogar tinha um Mega Drive ou um Super Nintendo, e como os jogos eram caros pra cacete (malditos cartuchos) a solução era alugar as fitinhas malditas, como única forma viável de se manter atualizado com os últimos lançamentos. Mas como a oferta era escassa e os cartuchos eram importados pelas locadoras, você precisava ficar na fila de reserva pra pegar os jogos mais novos, como Sonic 2 ou Street Fighter Turbo. Alguns jogos, aliás, NUNCA saíam da fila de reserva, porque nego simplesmente não parava de locar aquela merda. Era o caso de jogos mega-hiper-blaster como Contra, Teenage Mutant Ninja Turtles e outros jogos 2 player, que eram o must no fim-de-semana, pra jogar com os amigos e primos.

A espera e a dificuldade para se conseguir jogar o que você queria gerava uma sensação de vitória e conquista pelo simples fato de você conseguir botar a mão no cartucho algum dia. Ah, a alegria de jogar um jogo apenas 2 ou 3 meses depois do seu lançamento. Hoje em dia nego baixa o jogo, queima um dvd e já tá jogando a parada antes mesmo dele ser lançado oficialmente. Vocês que pegaram só da época do Playstation em diante, com a abundante oferta de cds piratas, nunca vão entender o sentimento de “conseguir pegar um jogo”.

Pois bem, voltando aos jogadores senis.

Como eu estava falando, simplesmente conseguir o jogo já era um tesão. Ficar com ele por dois ou três dias inteiros então – as promoções de fim de semana que as locadoras faziam – significava dedicar todas as suas horas que não envolviam comer, defecar ou respirar a ficar na frente da tv jogando até começar a lacrimejar e os dedos ficarem dormentes. Quer dizer, comer não entra nessa, porque eu comia enquanto jogava também. E hoje em dia eu jogo no banheiro… e ninguém realmente pára de respirar enquanto joga… ok, vocês entenderam, era só pra dar efeito dramático e deixar claro que a gente jogava pra caralho antes de ter que devolver o cartucho.

Então, dentro desse cenário de novela, pense nas emoções despertadas pelo simples ato de ficar jogando o joguim, de dedicar horas e horas seguidas ao cartucho que deverá ser devolvido em breve. É como se alguém trouxesse a Monica Belucci pra sua casa e te dissesse que você tinha apenas 40 minutos pra utilizar a moça; é óbvio que você não vai fazer mais nada a não ser passar todo o tempo possível com ela, e tirar fotos em ângulos bizarros e comprometedores pra mostrar pra geral depois. Aliás, o que mais tinha nas revistas da época eram fotos que a gurizada mandava pras revistas, mostrando seus high scores nos jogos. Adoro piadas involuntárias.

A dedicação aos jogos daquela época ficou gravada na mente e nos corações desses jogadores senis, que hoje simplesmente não conseguem se desvencilhar daquelas emoções de outrora. Como hoje é muito fácil conseguir jogos, caímos naquele velho chavão de que “não valorizamos o que conseguimos de forma fácil”. A comparação entre os jogos de antigamente e os jogos de hojemente fica prejudicada pela carga emocional deixada pela década de 90, e esses jogadores senis ficam falando merdas do tipo “Orra cara, Final Fantasy IV é o melhor Final Fantasy que a Square já lançou”.

Melhor que Final Fantasy XII?

Ô. Podecrê.

Mas dá um desconto pro cara. Ele passou pela guerra que foram os anos 90. O cara é tipo um veterano do Vietnam que perdeu as pernas e voltou meio lesado devido ao alto consumo de ópio. Deixa o cara falando sozinho e vai jogar Bioshock.

Previsões vídeo-gamísticas para 2008.

Nerd-O-Matic quinta-feira, 03 de janeiro de 2008 – 12 comentários

Eu vejo… eu vejo que você joga pouco, seu bosta.

Muito bem, e o que podemos esperar pra 2008 no ramo vídeo-gamístico, vocês se perguntam? Vocês se perguntam isso freneticamente, como doninhas ensanguentadas recém-atropeladas na freeway de pista quádrupla, enquanto esperam o socorro de outras doninhas que ficam olhando do acostamento e apontando com o escárnio que somente as doninhas podem ter.

Para mitigar sua angústia, vou arriscar algumas previsões advindas diretamente do meu intestino grosso, porque eu estava pensando sobre isso hoje mesmo, no banheiro, enquanto jogava Yu-Gi-Oh! no PSP:

Playstation 3

O PS3 foi o patinho feio em 2007, e amargou um começo lento em termos de aceitação pelo público. Mas conseguiu se recuperar um pouco agora no fim do ano e deixou os sonystas um pouco mais otimistas para o ano que vem. O lançamento de Final Fantasy XIII e Final Fantasy Versus XIII simultaneamente deve sacudir novamente tudo que conhecemos sobre lançamentos de jogos: deve ser a primeira vez que algo desse naipe acontece. Porque são efetivamente dois jogos diferentes de uma franquia fortíssima, saindo ao mesmo tempo, diferente dos lançamentos simultâneos de Pokemón Red e Blue, por exemplo, que eram apenas versões ligeiramente diferentes do mesmíssimo jogo. É por isso que gosto da Square Enix.

Também não podemos subestimar a força de outros títulos como Metal Gear e Gran Turismo, que sempre carregaram o Playstation nas costas. Aguarde e confie.

Previsão ponderada de hardcore gamer: Em 2008, o PS3 vai vender o mesmo número de consoles que o X360.

Previsão espetacular retirada do meu esfíncter: o primeiro jogo nota 10 da nova geração de consoles será lançado para o PS3. Não sei qual vai ser, mas vou medir pelos escores da IGN e da Gamespot e falo pra vocês no final do ano, ok?

XBox 360

Perdeu o fôlego ao longo do ano de 2007, tendo que enfrentar o Wii e o PS3 de uma tacada só desde o Natal passado. Mas a grande vantagem do console da Microsoft é que passa uma sensação de segurança que o console da Sony ainda não passa. Faz meses que eu escrevo sobre o assunto e fico pensando qual console vou comprar em 2008, e devo dizer que o X360 continua á frente como melhor opção.

O X360 também roubou alguns títulos que deveriam ser exclusivos para o PS3, o que garante mais credibilidade e sensação de longevidade para os donos do Xbox. Porém, não consigo evitar de sentir que o 360 já está “ficando velho”. Vocês sentem isso também?

Previsão ponderada de hardcore gamer: Em 2008 todos os jogos que forem lançados para X360 e PS3 simultaneamente terão sua melhor versão no X360.

Previsão espetacular retirada do meu esfíncter: Em 2008 o X360 vai ter um jogo de tiro melhor do que Gears of War, e vai chutar a bunda do PS3 como melhor console para jogar FPS.

Wii

Essa porra vendeu mais do que cerveja gelada no Carnaval, e não vejo quando isso vai parar. Tem um monte de gente reclamando que compra o negócio, joga um pouco e logo encosta o pequeno notável da Nintendo. Mas pra mim isso é coisa de amador, que não tem coragem de comprar um vídeo-game de macho, opta pelo mais barato e depois reclama que não tem nada pra jogar porque o motherfucker simplesmente não se dedica a jogo nenhum.

Em 2007 o Wii recebeu uma caralhada de jogos ruins e uma série de remakes de jogos do GameCube e do PS2. Quase tudo uma bosta. A fórmula utilizada pelos desenvolvedores foi: pega um jogo que era bom e aclamado pelo público, bota algum tipo de controle que envolva balançar o wiimote e relança no Wii. Deu no que deu. Não tiro a razão dos críticos. O Wii virou uma plataforma para desenvolvedores opotunistas.

Previsão ponderada de hardcore gamer: Em 2008 o Wii vai ser o console mais vendido entre todos os cinco, e será o que proporcionalmente terá os piores jogos. Eu vou medir, comparar e mostrar pra você no fim do ano.

Previsão espetacular retirada do meu esfíncter: O uso do wiimote como sabre de luz vai ser tão bem implementado pelo novo jogo da Lucasarts que milhares de nerds fãs de Star Wars provocarão acidentes ridículos com o wiimote e terão problemas de saúde decorrentes de exagero na jogatina.

Playstation Portable

O PSP se segurou bem no ano de 2007. Lançou poucos jogos, pelos meus critérios, mas teve avanços consistentes no uso do hardware e da capacidade do console pelos desenvolvedores. Conseguiu melhorar jogos que já eram bons (Syphon Filter), inovar em conceito de jogo (Crush, Patapon) e ainda se manter eficiente com as franquias mais conhecidas (FIFA, Medal of Honor). Ainda é visto como um portátil “de elite”, mas o lançamento do PSP Slim, com a conseqüente diminuição do preço, deve alavancar as vendas do portátil.

Previsão ponderada de hardcore gamer: Em 2008 o PSP vai se firmar dentro do conceito de “Playstation 2 portátil”, investindo em jogos tecnicamente corretos, com belos gráficos e jogabilidade precisa. Será o único portátil onde você poderá jogar FPS e jogos de corrida sem se sentir em 1990 (Sorry Nintendo DS)

Previsão espetacular retirada do meu esfíncter: A Sony não vai conseguir integrar o PSP com o PS3 de nenhuma forma interessante, o que fará com que as vendas do PSP caiam em relação a 2007. O PSP vai cair num vácuo e tenderá a desaparecer em 2009. Eu tenho um PSP, eu não quero isso. Mas meu esfíncter me diz que será inevitável. Os hardcore gamers não terão fôlego suficiente para sustentar a vida do portátil da Sony.

Nintendo DS

Ou, como é mais conhecido, “a máquina de fazer dinheiro” da Nintendo. Essa porra vendeu mais do que cerveja gelada num lugar onde só tivesse clones de mim mesmo com um crédito ilimitado para comprar cerveja gelada. A parada foi lançada em 2004, e não dá sinais de cansaço. Praticamente TODO DIA sai jogo novo pro DS, sua biblioteca já conta com mais de 1000 títulos diferentes e parece que o ritmo de lançamento de jogos está aumentando (pelo menos desde que eu comprei o meu, no início de 2007). Isso é ridículo; isso é completamente sem precedentes na história dos portáteis. O DS bateu de longe o sucesso do Gameboy Advance, sem dúvida nenhuma.

O DS se tornou O portátil para ser adquirido. Dentre uma infinidade de jogos completamente retardados e imbecis, eu consegui contar pelo menos uns 60 jogos absolutamente indispensáveis para qualquer dono de NDS. E sempre tá saindo algum jogo que aproveita de uma maneira nova a capacidade da tela de toque e do microfone. Impressionante o fôlego do brinquedo.

Previsão ponderada de hardcore gamer: Entusiasmados com as possibilidades infinitas de uso do NDS, desenvolvedores lançarão periféricos e add-ons estúpidos para acoplar no portátil, que não farão sucesso nenhum, justamente por torná-lo menos portátil. Em 2009 vão parar com essa merda e voltar a fazer só jogos bons.

Previsão espetacular retirada do meu esfíncter: Cooking Mama 2 e 3. OMG.

Mais do que um jogo

Nerd-O-Matic quinta-feira, 27 de dezembro de 2007 – 14 comentários

“Por que o nome dessa semana para a coluna?”, você se pergunta; por que “mais do que um jogo”?

Porque de vez em quando, muito de vez em quando mesmo, nos deparamos com algumas coisas nos vídeo-games que são exatamente isso: mais do que um jogo. Chama-los de “obra de arte” é exagerado em alguns casos, e ainda se discute o status dos jogos como criações realmente artísticas, então não quero tocar nesse assunto agora.

Mas o fato é que muitas vezes botamos lá um cartucho, cd ou dvd pra rodar, e acabamos envolvidos por uma seqüência de acontecimentos na tela, por uma narrativa, por uma experiência, que fazem a gente se desgrudar do mundo por um tempo, que nos absorvem, que propõem uma realidade diferente daquela que conhecemos. Certos jogos nos pegam de surpresa: você olha a capa, dá uma sacada em uns screenshots, mas quando pega o negócio pra jogar mesmo, vê que nada poderia te preparar para aquilo que você jogou.

Bom, vou começar a exemplificar agora, para as coisas ficarem mais claras e pra vocês não acharem que eu SEMPRE escrevo bêbado. Vamos pegar um jogo relativamente conhecido, e que já citei por aqui.

Shadow of the Colossus

Faz dois anos que joguei Shadow of the Colossus, e ainda continuo surpreso por um jogo desses ter sido lançado no mercado. Vejam, é um jogo praticamente sem história, sem um personagem super-poderoso, sem power-ups, sem vídeos alucinantes, sem música arrebatadora, sem NADA quase, porra. Shadow of the Colossus não se utiliza de nenhum dos recursos que normalmente fazem o apelo comercial de um jogo, e não sei como os executivos com o rabo cheio de dinheiro da Sony aprovaram o lançamento dessa parada.

O jogo começa e você vê que tem uma mulherzinha desmaiada ou morta, sei lá. Aí vem uma luz, e uma voz te diz que você tem que matar um monte de colossus. TEM QUE MATAR, não pergunta por quê. Você tem uma espada de hobbit, um arco vagabundo e é isso aí. Te vira, maluco. Seja um McGyver.

Tu tem um cavalo também. Um dos cavalos mais realistas que já vi num jogo. Melhor que a Epona do Zelda, é impressionante. E tu vai depender muito desse cavalo, porque cê vai andar pra cacete até achar alguns dos colossus, então nem pense em ir a pé.

Cada colosso mora lá na casa do caralho.

Mas então, tu tem que passar o cerol num colosso, que a essa altura você não tem a menor idéia do que seja. Beleza. Aí tu sai do templo, levanta sua espadinha vagabunda em direção ao sol, e o reflexo vai te dar uma direção genérica de onde o bicho tá. Quando você sai do templo, você vê um MUNDO inteiro á tua volta; o jogo só tem um cenário, e ele é gigantesco. Pra cada lado diferente vai ter um colosso, e tu vai ter que ir atrás de um por um.

Foi aqui que eu comecei a sacar que esse jogo era meio diferente; subi no cavalo, fui pro lado que a luz indicava, mas na prática eu não tinha a menor idéia de pra onde estava indo. Lógico que eu já joguei vários títulos onde eu tinha que andar num mapa procurando alguma coisa, mas aqui é diferente. Pra começar, você não tem um mapa com as localizações de cidades, pontos de interesse, cavernas e etc. Eu confesso que foi foda lidar com uma busca de algo sem ter um mapinha com uma flecha apontando pra onde você tem que ir, como Grand Theft Auto ou Medal of Honor. A gente realmente se acostuma a ser tratado como um imbecil pelos jogos.

Ok, sobe no cavalo e segue pra direção genérica. Me diga qual foi o último jogo que você jogou onde você passa MINUTOS INTEIROS cavalgando sem porra nenhuma acontecendo á sua volta? Sem um inimigo pra matar, sem uma árvore pra escalar, sem um baú pra abrir? Sem uma porra dum passarinho assobiando, cara? Lembro de ir cavalgando, olhando pro cenário e pensando se tava fazendo alguma coisa errada, porque nada acontecia no jogo.

Pra que lado mesmo?

Fui indo, indo, e dei de cara com uma parede de rochas. Show. E agora, motherfucker? Dá-lhe descer do cavalo e ver qual é. Aí o jogo te ensina uns comandozinhos básicos de como escalar paredes, pular entre rochas, se pendurar em brechas de penhascos e essas coisas. Nesse ponto tu começa ver o esforço dos desenvolvedores para montar um personagem realista, sem nada de sobre-humano. O protagonista do jogo é o que a gente chama aqui no sul de “um guri de bosta”. Esqueça Kratos do God of War, aqui você é um adolescente com o preparo físico de qualquer colegial que só faz aula de educação física e joga um futeba no fim-de-semana. É como se você estivesse dentro do jogo. Você tem que admirar a inteligência dos desenvolvedores, porque o protagonista faz pouco mais do que você mesmo conseguiria fazer na situação dele. O guri tropeça, cansa, ofega quando corre demais, cai de lado e tudo o mais. Genial, cara. Identificação imediata com o bando de jogadores sedentários que compõem o público do jogo.

Bom, depois que você se acostuma com os comandos e termina de escalar o rochedo, você chega num platô, onde você finalmente tem o encontro com o seu primeiro colosso. É um bicho humanóide, enorme, feito de pedra e mato. O bicho é totalmente NEUTRO, não tenta te atacar nem faz gestos ameaçadores em sua direção, se você ficar na tua. Como assim, não vai me atacar? Ainda por cima, ele não tem cara de mau. Como disse o Piratão:

Agora, Shadow of the Colossus é uma ode ao sadismo. O colosso tá lá, quieto, na dele, aí cê sobe no bicho e começa a FURÍ-LO. Que é que ele faz? NADA.
Tá certo, tem uns dois ou três que tentam te furar de volta, mas a maioria é DóCIL demais pra tentar qualquer coisa. São só pobres almas sendo atacadas cruelmente pelo moleque e seu cavalo.

E é mais ou menos assim que você se sente durante o jogo todo. Você fica pensando se precisa mesmo matar o bando de bichos, que não fizeram nada pra você além de existir. Já pensou nisso? Sobre como você, que se considera tão civilizado e cristão não precisa de um mísero motivo pra matar, a não ser uma voz que te diz pra fazer isso? Porra, em Metroid, em Call of Duty, até nos jogos do Mario, você SABE por que está passando fogo em geral: porque eles SÃO DO MAL, mano. Mas e aqui? Como que você faz pra justificar pra você mesmo os seus atos?

Vou te furar só porque você é grande e feio, mano.

Na verdade a sensação vai piorando durante o jogo, porque vai fazendo cada vez menos sentido ir detonando os bichos. Lá pelo quarto ou quinto você já tá com pena dos desgraçados. Eu nunca tinha sentido isso num jogo. Mas pode ser só a idade que está me deixando mole, não sei.

Mas o que importa é que o jogo desperta esses sentimentos, entende? Ele te faz pensar, e considerar seus atos. Porra, isso é mais do que um jogo. Ou vai dizer que você fica pensando sobre cada soldadinho nazista que cai no Medal of Honor?

Mas ok, continuando. Você tem que acabar com a raça do colosso. Levanta a espada de brinquedo de novo, e ela vai iluminar um ponto frágil no bicho, onde você vai ter que enfiar sua espada repetidas vezes, até o bicho dar um puta gemido e cair. As batalhas são intensas, pra contrastar com a tranqüilidade até chegar nelas. O bichão se contorce, balança e tenta te tirar das costas dele de qualquer jeito. Você fica lá feito uma pulga num cachorro, se segurando e sacudindo de um lado pra outro. Chega uma hora que você finalmente derruba o bicho, e é quase inacreditável que um bosta como você tenha conseguido derrubar um negócio daquele tamanho. Aí você desmaia e vai parar no templo de novo. Tu acorda e logo fica sabendo que tá na hora de ir matar o próximo colosso, enquanto a sua mina continua meio morta lá.

Bichos cada vez maiores pra você furar o bucho.

O jogo inteiro é isso. Sem reviravoltas mirabolantes, sem pegar novas espadas ou armaduras, sem conhecer personagens novos, sem trocar uma idéia com o carinha do item shop. E sem saves, o jogo salva automaticamente pra você, depois de cada colosso morto.

Quando eu entendi que o jogo era só isso, foi quando eu entendi que o jogo não era pra ser jogado, numa sucessão de desafios a serem vencidos pra chegar ao fim. Eu entendi que cerne do jogo era a experiência de jogar. Por isso o cenário sem distrações, as longas cavalgadas até achar cada colosso, o tempo de reflexão para decidir como chegar em cada bicho, o dilema moral de matar uma criatura que não fez nada pra você. E a incerteza do que acontece no fim do jogo.

Isso é mais do que um jogo, é um filme, um drama, um épico que você vai fazendo acontecer com o seu joystick e com suas ações. O ritmo de jogo é diferente do que estamos acostumados. É contemplativo, te dá tempo pra pensar e escolher o que fazer. Não existem estatísticas, barrinhas de tempo, level, xp ou qualquer outra coisa que te distraia ou estabeleça outros objetivos. Tudo é muito simples. Um jogo pra ser sentido.

Sinto que esse aqui que tá voando vai ser um pouco mais difícil de abater.

E é por causa desse tipo de jogo que eu continuo jogando, e agüentando os Need for Speed e os Fifa que tem por aí. No meio de uma caralhada de jogos repetitivos, aparecem essas jóias de vez em quando, que imediatamente se elevam sobre os demais jogos, e se tornam o que eu falei lá no começo: mais do que um jogo, uma experiência.

Vídeo-games: a honra em primeiro lugar.

Nerd-O-Matic quinta-feira, 20 de dezembro de 2007 – 8 comentários

Eu confesso que estava evitando tocar nesse tema desde que vi o vídeo no Destructoid pela primeira vez, mas chega um momento em que você precisa encarar seus demônios. E, infelizmente, ignorar um problema não faz com que ele suma.

á essa altura, imagino que quase todos vocês já tenham visto esse vídeo

O que temos aqui? Um garoto, de sexualidade ainda indefinida, sendo ENRABADO pelo animal de estimação da casa enquanto joga Wii.

Tem tantas coisas erradas nessa última frase que eu nem sei por onde começar.

Em primeiro lugar, por que o pequeno motherfucker tinha que estar jogando Wii? Porra, como se o console da Nintendo já não tivesse fama suficiente de console de veado. Isso parece até jogada da concorrência, para desestimular a compra do console pelos jogadores machos que ainda existem. O Wii não precisa de mais uma propaganda denegrindo seu público; até porque jogos como Cooking Mama e Warioware já fazem o suficiente pra destruir qualquer fama heterossexual que o Wii poderia ter. E é uma fama cada vez mais injusta, cara; o Wii tem jogos como Metroid, Resident Evil, Manhunt 2, entre outros que atestam a capacidade não aproveitada do console para agradar aos jogadores que prezam sua própria honra gamística e masculinidade. Ser o vetor de um estupro canino era completamente desnecessário para o pequeno console da Nintendo neste momento.

Mas ao mesmo tempo, não consigo imaginar isso acontecendo com um jogador de X360 ou de PS3; notem que o garoto estava numa postura relaxada e descontraída, só permitida pela liberdade e descompromisso que o wiimote proporciona, ao se jogar com apenas uma mão, por exemplo (não no caso desse jogo do vídeo). Qualquer jogador hardcore que se reconheça como tal, NUNCA ficaria de quatro no chão pra jogar. Eu, pelo menos, tenho uma poltrona especial para jogar, onde você assume a postura mais adequada para passar horas afundado nos jogos.

Parecida com essa.

É realmente uma questão de respeito e seriedade com a atividade que você vai desempenhar. Mas não se pode pedir que todos levem o vídeo-game á sério, lógico. E o resultado é esse que vocês viram: casual gamer = perda da virgindade anal.

Outro ponto importante: por que demonhos endiabrados o desgraçado do moleque não baixou o sarrafo no cachorro? Vão dizer que o guri é veado e que tava gostando, mas eu não acho que a resposta seja tão simples. Ninguém é totalmente veado numa idade tão tenra, a não ser talvez o Théo, que SEMPRE gostou de catar conchinhas. E, se o guri estivesse mesmo gostando, não ficaria se contorcendo de um lado pro outro, tentando se livrar do animal excitado, apenas manteria a postura quadrúpede, enquanto o animal realizava seu trabalho sujo. Então não pode ser isso.

Notem ainda que o cachorro era de grande porte em relação ao guri, o que dificulta a fuga sem a utilização dos pés e mãos. Não, não creio que o guri tenha fortes tendências homossexuais. O erro dele foi desprezar a excitação e empenho do cachorro, acreditando que o animal reconheceria que ele estava no meio de uma atividade importante e que não podia parar para satisfazer as necessidades sexuais do canino.

Mas isso só vale para o movimento inicial do cachorro, claro, já que ele teve a vantagem da surpresa, atacando o guri covardemente por trás enquanto ele estava distraído. É normal que o garoto leve um certo tempo para entender o que está acontecendo e só então tente se desvencilhar da besta no cio. Mas não TANTO TEMPO, porra. Depois do movimento inicial, bastava apertar o pause do wiimote, largar o controle e escapar do cachorro, não? Ok, nem precisava largar do wiimote, ele podia ser utilizado como arma para se dar um cacete no focinho do bicho, por exemplo. Extremamente eficiente.

Mas o fato é que a criança parece tão absorta no jogo, que tudo o mais á sua volta simplesmente perdeu a razão de ser, se tornou apenas pano de fundo para o jogo. Note que antes do estupro iniciar, o garoto estava realmente transtornado com o FPS em questão, gritando imprecações e xingamentos dirigidos ao jogo. Após o ataque do cachorro, ele continua preso ao jogo, como única coisa importante a ser feita.

Chamo sua atenção para a mão desesperada do garoto apontando para a tela, aos 30 segundos do vídeo, um atestado de tenacidade e vontade de jogar, mesmo sob as mais horríveis condições.

Só… mais um… tiro.

Não é uma mão pedindo ajuda, como a mão estendida da pessoa que se afoga em alto-mar, ou que desaparece na areia movediça. É a mão de alguém que só quer jogar, mesmo que isso signifique a perda total e irreparável de sua honra. Mesmo que isso deixe traumas indeléveis na sua infância. Mesmo que isso crie um hábito no cachorro, que agora não perdoará nunca mais os membros da família que derem condição para uma enrabadinha malemolente e rápida, sem sentimentos, sem paixão, sem DR.

Mas isso é ERRADO, caras. A vida real não está nos jogos. Por mais que eu advogue que todos vocês precisam jogar mais, nunca abram mão da sua honra pra jogar. Vocês deram risadas do vídeo, que eu sei, mas ele não é engraçado. Ele é TRISTE. É por causa das atitudes desses pequenos desajustados que toda uma comunidade gamer fica marcada e mal-vista. Ajudem a construir um futuro melhor para os gamers desse país, joguem mais, mas sejam honrados, sejam piratas, e façam o que é certo.

E nunca, NUNCA, joguem de quatro, ok?

confira

quem?

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