Caixinha de diversão do demonho/O mal á espreita

Nerd-O-Matic quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

Confesso pra vocês que essa coluna do Piratão me fez sentir vergonha por não aproveitar melhor meu pretenso dom literário. Talvez porque eu não tenha nenhum dom no fim das contas, e nem QUERENDO sairia um troço com real valor literário.

Ou então vai ver que eu não levo vocês muito a sério. E vice-versa. Whatever.

Ainda assim eu acredito que até sei juntar algumas palavras, expor algumas idéias e provocar alguma comoção de vez em quando. Portanto, em tom de inveja ao texto do Capitão, toma aí procês:

Jogos Mortais

ou

“Relato auto-psiquiátrico de um sociopata gamer”

Meu nome é Anônimo e eu tenho algo a dizer: Violência RLZ

O gosto pela violência nos jogos é uma falha grave de caráter. Assim, eu teria uma falha grave, se eu tivesse caráter. Sabem quando eu descobri isso? Quando eu joguei Hitman. Sabem quando eu descobri isso de novo? Quando joguei Manhunt. Sabem quando eu descobri isso de novo mais uma vez novamente outra vez? Quando joguei Resident Evil 4. Sabem quando eu descobri isso pela última vez? Quando eu joguei No More Heroes.

Meu nome é Legião, e não é o excesso de sangue nos jogos que me excita. Não existe esse negócio de “excesso de sangue” e, sinceramente, se preocupar com esse tipo de coisa nos jogos é perda de tempo. Pegue um filme como Kill Bill, que é praticamente uma tela vermelha intercalada com closes da Uma Thurman, do início ao fim. O sangue é caricato e existe em profusão. Tão grande é sua presença que você começa a ignorá-lo, pois ele é mais comum que a água no mundo de Quentin Tarantino.

Infantil e ignorável também é a presença de sangue em jogos como Mortal Kombat. Sangue-dispensável. Sangue-parte-do-cenário. Sangue invisível. Aquilo que ocupa a tela toda durante o tempo todo rapidamente se torna paisagem, panorama, horizonte. É uma lei da percepção humana: pra você prestar atenção em alguma coisa, pra que ela seja diferente e chocante, ela precisa ser o detalhe, se destacar do fundo. Aquilo que está presente o tempo todo é rapidamente ignorado pelo humano médio, em busca de outros estímulos mais… estimulantes.

Não, não é o sangue que me excita.

Meu nome é Raiva. O que me move é a violência per se, a fúria irracional e desmotivada, o excesso de força para resolver uma situação que poderia ser resolvida de uma forma mais equilibrada. Equilíbrio é para os fracos, parlamentar é coisa de mulherzinha. Na dúvida, ATIRE. Mire na cabeça, entre os olhos, pelas costas, imprevisível, escopeta 12 cano serrado, pólvora estourando, efeito dramático, satisfação avermelhada, cai devagarzinho com um fio rubro escorrendo pela parede. HEADSHOT motherfucker; quero ver você levantar e olhar torto pra mim de novo.

Na dúvida, ATIRE. Atire até que você não tenha mais dúvidas de que essa é sempre a melhor opção. Atire até começar a estranhar o simples fato de um jogo não ter uma arma de fogo como opção de negociação.

Na dúvida, ATIRE. Atire tanto que os joysticks dessa sua caixinha de satisfação eletrônica começarão a sair de fábrica com gatilhos incorporados, a fim de satisfazer aquela coceira no dedo que você não sabe direito o que é.

Na dúvida, ATIRE. Contra a violência não existem argumentos.

Meu nome é ódio e eu não preciso de argumentos, só me dê a chance de matar e eu abro mão do motivo. Antes eles eram zumbis, e isso era uma ótima justificativa para eu exterminar TODOS. Eles já estão mortos mesmo. Ou eu mato ou eles me comem vivo. Legítima defesa. Absolvido de todas as acusações. Caso encerrado.

Mas agora eles não são mais zumbis, eles são gente. Mas ok, eu mato como se fossem zumbis. Aliás, eu mato como se fossem cachorros. Aliás eu mato como se fossem pixels na tela. Aliás, pixels são mais interessantes, vocês são apenas um alvo móvel e balbuciante. Headshot.

Meu nome é Crueldade. Me dê UM motivo e eu posso ser mais do que violento; não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior. Eu posso me tornar um filha-da-puta sanguinário com apenas meio motivo. Qual é o meu motivo?

Agora eu sou um assassino profissional? Ok, eu posso lidar com isso. Eu vou passar o cerol em você e toda sua família, eu sou um assassino profissional, e profissionais não deixam a emoção interferir no seu trabalho. Esconda o corpo na sombra. Sem vítimas, sem crime. Melhor matar todo mundo em volta também. Sem testemunhas, sem crime. Eu sou um profissional e vocês são só um bando de alarmes ambulantes. Por que vocês gritam e correm tanto? Nunca viu um cadáver, porra? Olhe no espelho e você vai ver um. Porque você ainda finge que está vivo?

Agora eu sou um cara normal que foi preso numa espiral de perversão alheia? Orra isso é mais motivo do que eu precisava. Vocês são todos do mal e merecem morrer. Eu sou a mão de deus, eu sou o martelo das bruxas, eu sou a punição divina. Se vocês são a doença, eu sou a cura. Eu sou normal e vocês merecem morrer, pelo bem da humanidade. Absolvido de todas as acusações. Caso encerrado.

Agora eu sou… o quê? Alguém que precisa matar 10 nego pra subir num ranking? Ok, a competição sempre moveu a civilização. O desafio, a sobrevivência do mais forte, meu tacape é maior que o seu, e assim caminha a humanidade. Eu tenho um sabre de luz, mas ele não é mais aquela arma infantil de Star Wars. Vocês já estão bem grandinhos, é hora daquele sabre de luz arrancar SANGUE. Muito sangue. Mas eu nem vejo mais, porque ele cobre a tela. O sangue é tanto que me impede de ver quem é o próximo a morrer. Porque eles precisam sangrar tanto? O sangue me impede de MATAR com mais eficiência e presteza. Morram, mas não sangrem, porra.

Meu nome é Violência, e vocês deviam me internar. Mas se chegar perto, é headshot.

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