Os BoxTrolls (The BoxTrolls)

Cinema segunda-feira, 02 de março de 2015

 Eggs (Isaac Hempstead-Wright) é um garoto órfão, que foi criado nos esgotos da cidade de Ponte Queijo pelos BoxTrolls, criaturas que vivem roubando bugigangas humanas. Os BoxTrolls são caçados por Archibald Snatcher (Ben Kingsley), na esperança de ser aceito pela sociedade. Os Boxtrolls saem apenas à noite e, ainda assim, cada vez seu número diminui. Quando Fish, o BoxTroll que criou Eggs, é pego, o garoto decide se aventurar pela cidade para resgatá-lo. É quando conhece Winnie (Elle Fanning), uma garota mimada que faz com que perceba que ele é, na verdade, humano.

Era Carnaval, eu não tinha muito o que fazer e, no meio da lista, tava BoxTrolls. Só assisti porque calhou de estar alí, perto das mãos, porque nada da pouquíssima coisa que eu tinha visto sobre a existência desse filme tinha me chamado atenção, e olha que eu vivo procurando essas paradas cheias de criaturas esquisitas… Sim, eu tenho 14 anos, não, eu não fiz cosplay pra ir ver Harry Potter QUE NEM CERTAS PESSOAS.

Pois então, cara, eu não sei qualé a desse filme. Tem um elenco grande e, ainda que não ao extremo, cheio de gente reconhecível. O troço concorreu aí ao Oscar, mas não é pra tanto (Não que Big Hero 6 seja), mesmo tendo umas ideias legais… BoxTrolls cai num meio termo desgraçado em praticamente tudo, e isso não costuma ser uma coisa boa.

Seguinte: O pirralho é adotado por um bando de trolls que vestem caixas, cresce achando que é um deles e está tudo bem até uma garota entrar na sua vida. A história da humanidade. Tem o vilão, uma mistura de Dr. Eggman com o Snape, que fica responsável por capturar os bichos, na intenção de ganhar um chapéu branco (Literalmente) e enfim poder fazer parte do clube do queijo dos ricos e nobres da cidade de Ponte Queijo… E a história é essa. Os trolls são capturados, o garoto vai salvá-los, há combates com o vilão, e com vinte minutos de filme você sabe como ele vai terminar. É clichê atrás de clichê, e eu não digo isso de forma exatamente ruim: Não é estritamente mal executado, só não tem emoção nenhuma ao ver o desenrolar da história.

E é aí que entra o segundo ponto aqui, que é o que fazer o filme valer à pena: O resto. Ou, mais precisamente, as várias e várias migalhas que o filme deixa para trás. O troço é do estúdio Laika que nem o chocolate, os mesmos responsáveis por Coraline e ParaNorman, e assim como estes dois, o filme se baseia em coisas esquisitas para se dar bem: Realidades paralelas com fetiche por botões, fantasmas e zumbis recalcados, e agora criaturas amáveis porém odiadas pela população… Pera, isso ParaNorman já tinha. Não, o que vale em BoxTrolls são as pequenas peculiaridades, piadas ruins e trocadilhos toscos: É aquele tipo de humor que ou você gosta ou simplesmente não entende que é humor, e um bom exemplo disso é o nome dos trolls ser baseado no que as caixas que eles usam tinham dentro.

Pode esquecer os personagens principais, são insípidos e clichês, meramente estando alí para fazer a história batida seguir em frente. Não, você tem que prestar atenção no humor e no universo criado, que serve apenas como plano de fundo, e isso é uma merda: Cê tem uma cidade chamada Ponte Queijo, que é praticamente um morro no meio do nada, cercada por pastagens. Cê tem criaturas que, ainda que sejam trolls em caixas (Sim, literalmente, não são uma nova espécie ou algo assim), tem toda uma história e suas próprias características que só são mostradas de relance. Cê tem uma estrutura social completa que você só percebe por uma ou outra fala, mas que nunca é realmente mostrada nem explicada. Você tem um universo inteiro, que ao que tudo indica é foda pra caralho, mas que é encoberto por uma história pra fazer a pirralhada dormir depois de passar o domingo todo correndo por aí.

Todas as ideias legais são deixadas de lado, como por exemplo o “trabalho secundário” do vilão (Aproveitem, não é sempre que escondo spoiler), as funções do tal do clube do queijo, a geografia da cidade, e os vilões secundários. Os vilões secundários são três:

O pequeno, no colo do magrelo, é claramente uma versão do Igor sim, vá em frente, nunca ouvi essa piada antes, aquele ajudante maluco que aparece em vários e vários filmes, incluindo Drácula e Frankenstein, e ele é um saco, pode deixar de lado. Os legais são os outros dois: Justamente ao contrário do clichê, o grande é o inteligente e o magrelo é o idiota, mas a parte boa é que ambos passam o filme inteiro debatendo se eles são os vilões ou os mocinhos. Literalmente eles acreditem ser os heróis, até o vilão principal despirocar, o que os leva à um debate de como aquela hora seria sua redenção de uma vida como vilões. Cara, isso é muito foda! É mostrado de forma muito óbvia e até que tem bastante espaço, mas nunca é aprofundado. As poucas boas ideias que o filme de fato aproveita são rasamente exploradas.

O filme é baseado no livro A Gente É Monstro! (Here Be Monsters! nas gringas) de Alan Snow. Eu não li, mas pelo que vi, a situação é parecida com o que comumente acontece em adaptações de livros infantis: Mantiveram um ou outro elemento e mudaram a maior parte, de modo que ninguém possa dizer que não é uma adaptação, mas que deve deixar os autores putos pra caralho. Às vezes dá certo, às vezes não. Não sei qual o caso aqui: Talvez o universo da história tenha sido mantido e seja melhor detalhado no livro, talvez não. Sei que vários dos personagens mudaram, só não sei o quanto, e que a história geral também é bastante diferente.

No fim das contas, é um filme que você gosta, se quiser ver uma animação qualquer pra passar o tempo… Tipo aquela gente que acha maneiro levar bebê no cinema. Caso contrário você terá todo um mundo encoberto por um pano cheio de furinhos, que eventualmente te deixarão ver coisas muito boas. BoxTrolls poderia ter sido muito melhor, mesmo não chegando a ser ruim: O pouco que se vê, aliado ao visual mais “sujo” e bastante detalhado, fazem valer à pena o tempo gasto, mas não muito mais que isso.

Os BoxTrolls

The BoxTrolls (96 minutos – Animação)
Lançamento: EUA, 2014
Direção: Graham Annable e Anthony Stacchi
Roteiro: Irena Brignull e Adam Pava (Baseado no livro de Alan Snow)
Elenco: Isaac Hempstead Wright, Elle Fanning, Ben Kingsley, Jared Harris, Nick Frost, Richard Ayoade, Tracy Morgan e Dee Bradley Baker

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