Tocando em Frente

Música quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Qualquer pessoa que não tenha nada de bom pra fazer acompanhe o Bacon há um tempo sabe que vira e mexe eu curto discutir como está minha relação com o consumo de entretenimento: Gosto de falar sobre assistir as paradas, ler as paradas, jogar as paradas… Acontece que faz tempo desde a última vez que eu falei em ouvir as paradas, então bora atualizar isso aí.

Duvido cê dar play.

Enquanto eu continuo sem músicas no celular e também continuo ouvindo pop só porque tá fácil no YouTube, mais e mais eu me pego simplesmente não ouvindo nada. Dá pra culpar a música mainstream? Dá. Dá pra culpar minha preguiça? Dá. Dá pra culpar os tantos algoritmos que permeiam o mundo digital? Dá. Mas eu não vou culpar nada nem ninguém.

Porque cara, estava eu me questionando acerca das paradas que eu vou atrás pra ouvir. Não as que tocam em qualquer lugar e eu ouço, não as que fazem parte de uma playlist qualquer e eu ouço, e nem mesmo as que grudam na cabeça e cê é forçado à ouvir pra tentar esquecer o treco de uma vez, mas sim as músicas que eu, deliberadamente, vou procurar pra ouvir. Recentemente, J. Cole, The Walkmen, Paramore (!), uma pá de músicas dos filmes da Disney e Nickelback (Pois é, eu sei). Não dá pra dizer que nenhum desses é obscuro… Talvez menos conhecido, mas o que eles realmente têm em comum é o fato de que ninguém liga a mínima para eles na atualidade.

Eu passo muito, muito longe de conhecer cenas. O “underground”, pra mim, é um treco igualmente distante que o mainstream: É uma parada que eu sei que existe, sei que tem coisa boa, mas que eu não faço a mínima questão de ir descobrir… Porém não dá pra dizer que Disney e Paramore são nem um e nem o outro. São músicas e artistas e bandas que estão num limbo entre o conhecido e o esquecido. Qualquer pesquisa rápida na internet dá milhares de resultados em qualquer um deles, mas ainda assim, qual foi a última vez que você viu qualquer coisa sobre eles?

E isso me leva à um questionamento se esse tipo de comportamento não é o começo de uma criação de uma cronologia paralela.

Pra falar a verdade, acho que é natural. Qualquer pessoa trilha seu próprio caminho, decidindo o que vai ouvir e o que vai deixar de lado, mas de uma forma geral isso encaixa em caminhos bem conhecidos: Tem a galera que ouve pagode, tem quem ouça metal melódico, tem quem ouça os dois, e tem quem ouviu primeiro um, depois o outro e hoje escuta outra coisa. É meio que uma rodovia, na qual todos dirigem num mesmo sentido, escolhendo em qual faixa vai ficar, por quanto tempo: Dá pra ficar numa só, dá pra trocar, dá pra voltar, dá pra ser babaca e ficar no meio de duas. Mas…

Mas e se você não está na rodovia? E se você decidiu botar o carro no barro? Ou se comprou uma picape, trocou a suspensão e tá, literalmente, subindo montanha na base do torque? E se você decide só dirigir em autódromo? E se você não dirige, só pega Uber? Ou ainda tem um motorista particular? E se você nem sequer sabe porque carros ainda existem e prefere um patinete elétrico? E se você só anda de ônibus?

E na boa? Eu não sei onde nada disso termina. Nem a estrada, nem a trilha, nem os trilhos, nem as calçadas. Não há duvidas que muito do que a gente consome se dá por conta de marketing e condicionamento, que “produto” é praticamente um termo guarda-chuva que justifica música como algo a ser consumido e não ouvido (E aqui inclui tanto a busca comprada do tio Google quanto teus colegas de cena te enchendo o saco pra ir em todo show de banda independente), mas ao mesmo tempo ninguém é de fato obrigado à coisa alguma. Cê pode simplesmente não ouvir o que você quiser… Você pode não ouvir absolutamente tudo, inclusive.

Por mais interessante que possa ser o que você escuta, por mais que você goste, por mais que inflencie na sua vida, a oportunidade de mudar está sempre lá presente, e só pra continuar na metáfora estabelecida, você pode perfeitamente decidir descer do ônibus, desligar o carro, sair do metrô. Você não precisa criar a sua trilha sonora… Mas quem é que não cria?

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