Música de 2016 com carinha de 1986

Música quarta-feira, 07 de dezembro de 2016

Tô eu aqui em casa, com texto pra fazer, e resolvo olhar à minha volta pra ver com que tipo de porcaria eu posso preencher as próximas linhas sem precisar de muito esforço ou tempo, mas de modo que eu não pareça totalmente um zé ruela, e aí eu me dei conta de que faz um tempinho desde nossa última conversa sobre músicas. Então vamos falar sobre música.

No longínquo ano de 2014 fiz um texto chuchubeleusa sobre minhas pastas de música e nada daquilo mudou… Exceto que aquelas pastas não estão mais no computador, mas agora no HD externo, intocadas há meses e há anos do mesmo tamanho, sem novas adições. Bem mais recente que 2014, porém é este texto aqui, um breve vislumbre das minhas épicas aventuras entre os corredores das Lojas Americanas.

Enquanto um não tem grandes relações com o outro, ambos compartilham da mesma base: Minha relação de consumo da música. Apesar de o dos CDs ser mais recente, ambos continuam válidos, já que semana passada mesmo organizei diferentes CDs para ouvir no carro e nesta semana baixei mais músicas digitalmente, algo que eu não fazia há anos, relegando esta parte para o YouTube. Esse é o tipo de comportamento que se vê apenas de uns anos pra cá: A internet já está estabelecida, os smartphones viraram uma realidade e tem gente que literalmente não vai à uma balada (As pessoas ainda falam “balada”?) ou restaurante que não tenha wi-fi. Independente das análises do comportamento é um fato que toda a cultura do download mudou muito nos últimos anos, e muito provavelmente vai mudar ainda mais.

Recentemente o Kotaku publicou um texto sobre a preservação dos jogos e videogames. Não é uma questão nova, e o texto se foca em jogos velhos, dos tempos do NES ou do Mega Drive, por exemplo, mas a questão também é válida para jogos atuais. A música, porém não tem grandes problemas em relação à isso: O LP tem todo um culto ao seu redor, os CDs continuam funcionando perfeitamente, há milhões e milhões de cópias de cada arquivo de cada música possível ao redor do mundo e, de uma forma geral, desde que a humanidade se deu conta de que poderia gravar sons, este processo foi e é estudado e utilizado constantemente, seja pro bom e velho EEEEEEEEEEE MACARENA ou a mais recente produção do KondZilla se você acha que esse é um nome ruim, escreva-o e observe ele piorar. Tudo bem que, atualmente, as fitas cassetes não são exatamente colocadas num pedestal, mas fazer o que?

Mas, ao contrário dos jogos, nós não baixamos mais músicas. Pelo menos não em grande escala, como sociedade. Também não baixamos mais filmes ou séries, programas de TV, séries em quadrinhos e nem mesmo as Playboys quaisquer. Lembra aquela conversa de “na minha época quem tinha uma revista de mulher pelada era o rei da escola”? Pois é, já foi a fase do gravar nos CD-R pra vender e do transferir por bluetooth no meio da aula. Os jogos são a última coisa que continuamos baixando, e isso porque eles são programas que precisam ser instalados pra rodarem, seja no computador ou num console. Claro, há os jogos que rodam direto no navegador, mas nenhum deles é um Forza ou um Tomb Raider.

Música, hoje (E há anos) é gravada digitalmente, vendida digitalmente, distribuída digitalmente e consumida digitalmente. Ora, há milhões e milhões de músicas sendo escritas, compostas e executadas de forma completamente digital. Esse meu comportamento de comprar CD e baixar mp3 não só denuncia a minha idade como também mostra que a cultura do download, de guardar pra depois, de ter um backup está morrendo. E enquanto a Samsung ou a Seagate não estão exatamente satisfeitas com isso, nós, como consumidores de música, temos que nos preocupar com o próximo passo dessa evolução.

 Nada mais saudável que uma boa e velha provocação musical.

E eu não sei qual é esse próximo passo.

Anticlimático, eu sei, mas é a verdade. Mais importante do que documentação e armazenamento é a produção. E a produção da música se divide entre o analógico e o digital: O analógico obviamente precisa de instrumentos e equipamento, já o digital pode tanto ser híbrido quanto fazer o uso exclusivo de softwares. De qualquer jeito, música é produzida exatamente do mesmo jeito que sempre foi: Letras, métrica, andamento, produtores, estúdio, harmonia, refrão, timbre.

E isso tudo é ótimo, afinal de contas é o que diferencia música de barulho, em ser mais do que simplesmente som. Mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser jogar um novo jogo com regras antigas: Como fazemos música não mudou, mas como a consumimos, como a ouvimos, como a compartilhamos sim. É muito estranho pensar nisso, porque todo o resto têm feito tudo o possível para se adaptar, e quem não têm conseguido (Ou se saído menos pior), principalmente a TV e o teatro, têm sofrido grandes perdas de financiamento, audiência e, de forma geral, interesse por parte de seu público. Os videogames, por sua própria natureza, têm se saído melhor. A música está no meio termo.

A música tem tudo para fundir efetivamente ambos os lados dessa disputa, mas não o faz, seja por receio de abandonar a maior parte de sua história ou por não querer apostar ainda num formato novo, sabendo que todas as outras grandes mídias também não o fizeram. É hora de decidir. É hora de cortar laços, seja de um lado seja do outro, e essa decisão não quer dizer relegar o lado preterido ao esquecimento e nem ao desuso, mas sim priorizar esforços, definir novas regras e começar um novo jogo. De forma alguma eu quero que toda música seja feita com sintetizadores e FL Studio, mas é mais do que tempo de parar de tratá-los como versões mais modernas de um violino. E enquanto o violino não for apenas um instrumento, a música não vai à lugar algum.

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