Não ouça música

Música quarta-feira, 20 de julho de 2016

Outro dia fui comprar CD. CD mesmo, aquele disco de 12 cm, com capa de plástico, encarte, capa. Parece estranho, hoje, como esse tipo de coisa se tornou obsoleta. Sinceramente acho que, em alguns anos, CD será uma espécie de “versão de colecionador”, do jeito que os videogames fazem hoje com estátua, mapa, conteúdo extra e mais um monte de treco. Acho mais fácil o CD sumir que o LP. LP é retrô, é indie. O CD é só a versão física do que você tem digitalmente.

 Se você não conhece isto, é muito novo pra estar na internet.

Não, eu não fui comprar CD pra gravar, foi CD de música mesmo, “oficial”, lacrado. Foi pra dar de presente, e fazer o que? Ainda é muito legal ganhar música, independente de como esta chegue até você. Porém tem aquela coisa da mídia em si: Música, hoje (E há vários anos já), é digital. Seja MP3, WAV, WMA, FLAC: As pessoas, há uns anos, compravam CD e passavam tudo pro computador, hoje elas só são transferidas de servidores pro seu HD. É mais barato, mais rápido, mais fácil.

Assim como acontece com os livros, os arquivos de áudio digitais são muito mais práticos: Ouvir música com seu celular é uma realidade há praticamente 10 anos; cê sequer precisa de um aparelho à parte pra isso. Todo carro 0 km hoje tem conectividade Bluetooth ou entrada pra cabo auxiliar, isso quando não tem entrada USB de uma vez. A evolução da música gravada é muito clara: Cilindros de cera, vinil, fita magnética, digital. Acontece que diferente dos livros e dos filmes, o CD como mídia não tem essa grande “marca”. O LP é, para a música, o que mais se aproxima o que o filme de 8 mm é para o cinema, e ainda assim é completamente irrelevante se considerado sua participação atual na produção de música. Quem tem LP é o seu tio, aquele que você vê num churrasco de família ou outro e que acha que o Waldick Soriano deveria fazer mais sucesso “nos dias de hoje”.

O CD é o mesmo desde 1982. Isso aí, 82. Até teve outras tentativas posteriores com outros tipos de CD ou até mesmo DVD (Isso pra não falar no CD de vinil), mas nada foi pra frente. Claro, os CDs atuais tem muita diferença em relação aos primeiros (Velocidade de leitura e gravação, regraváveis, qualidade de materiais, etc.), mas no fim das contas o CD é o mesmo há 34 anos o mesmo que o Pizurk. A música não é a mesma há 34 anos. Os aparelhos de reprodução desses mesmos CDs não são os mesmos. Qual foi o último Discman que você viu? Aparelho de som portátil? É literalmente mais fácil comprar umas caixinhas de som com entrada USB que um bom aparelho pra CD atualmente. As pessoas literalmente ouvem mais rádio, que tem mais do triplo de idade, do que ouvem música a partir de um CD.

O CD é o melhor que a gente conseguiu fazer em termos de documentação musical, e ele está morrendo. Eu não estou defendendo o CD: Essa porra tem quase 40 anos, já tá mais que na hora da gente arranjar um jeito melhor. O problema é que o digital não é esse jeito. Seja pra música, vídeo, imagens ou o que quer que seja: Precisamos de algo que faça o mesmo trabalho, mas de forma mais eficiente. É um outro jeito de dizer que, se rolar mesmo uma guerra nuclear daqui uns anos e o mundo virar um deserto pós-apocalíptico, todo mundo que tinha uma coletânea de respeito no iTunes se fodeu (E é merecido, uma vez que usuário de iTunes tem que se foder mesmo).

Meu grande problema com isso tudo, porém, não é o CD ou o arquivo digital: Até onde as mídias que temos hoje influenciam na obra em si? Ou seja, o quanto a música não poderia ser diferente se não tivéssemos que nos preocupar em manter uma mídia ultrapassada como o CD e, ao mesmo tempo, não termos uma plataforma bem formada no meio digital? Porque se você me disser que há uma reposta decente pra isso, é sacanagem. Basta ver a variedade de formatos e a variação de qualidade entre a taxas de bits pra se notar que o digital é uma facilidade só se você não for se preocupar com mais do que o peso de cada faixa. E é aí que mora o problema: Um livro é um livro, você escolhe o papel e pronto. Isso influencia sua experiência só até um determinado ponto: Seja papel bom ou papel ruim, a palavra impressa nele é exatamente a mesma. O CD não só não dá conta como está entrando em desuso, e o digital é extremamente volátil e, consequentemente, em boa parte das vezes, possui uma qualidade inferior. Isso pra não falar que, no meio do deserto, é mais fácil cê achar um CD player que um computador funcionando.

 Vai sonhando.

Fui comprar CDs outro dia, e eu gostei. Foi bom fazer algo que já fiz outras vezes (Há um bom tempo atrás, é verdade) e é sempre interessante fazer o que se gosta, mas quer a real? Foi nas Lojas Americanas e isso não é merchandising, num canto, com poucas opções (Menos opções boas ainda) e, de uma forma geral, completamente fora da realidade do mundo. Os preços não estavam ruins até, mas se eu levei uns 5 anos desde a última vez que fiz isso até esta última, sei que a próxima vez ainda está mais distante. E, desta vez, a luz no fim do túnel é um trem… Um trem parado.

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