Como fazer “o single do verão”

Música segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aposto que vocês tavam sentindo falta dos tutoriais de como ser famoso que a tia Aline fazia, não tavam? Pois bem, deixem o chororô de lado por que, depois de ensinar como compor, se portar, cuidar de seus instrumentos e até mesmo um pouco de história da música, vou falar sobre um assunto deveras importante: O seu primeiro hit!

Pois é, caro leitor pateta… Vamos falar sobre aquela música que vai te deixar na boca do povo, e, de quebra, levar a programas de TV e até mesmo ajudar na hora de comer ar cocota tudo! Uau!

Tenha uma banda só de gente linda – E saia dela!

Junte seus três amigos mais gostosos e manda tudo pra minha casa formem um grupo de meninos bonitinhos, comportadinhos, de bochechas rosadas, aquela coisa toda. Tanto faz se for de rock ou pop, o importante é nunca aparecerem despenteados em público. E façam muitos photoshoots pra Capricho. Depois de um tempinho de sucesso nos TVZ’s da vida, separe-se da banda, alegando “diferenças criativas”, ainda que nenhum dos membros tenha sequer pego numa caneta alguma vez na vida. Após o rompimento, você com certeza fará um sucesso estrondoso nas rádios!

Tudo isso assumindo, é claro, que você seja o mais bonito e galante do grupo. Somente assim as pessoas vão se enjoar do resto da horda e prestar atenção apenas em sua pessoa. Seja o líder da bandinha: Aquele que dança na frente na hora de gravar o clipe e que mais aparente ter sete quilos de bosta alojados no intestino na hora de cantar.

– Mas tia Aline, não tenho amigos! E se eu decidir ir direto pra carreira solo? Tem como?

É claro! E olha só como:

Bullying, muito bullying

Sofra bullying por ter sido uma criança prodígio, sozinha e incompreendida! Mesmo que você nunca tenha aprendido a ler! Ou que você tenha feito o primário numa oca indígena do alto Shi… Digo, Xingu! Hoje em dia, todo mundo sofre bullying. Os malhadões principalmente, com toda a revolução Bazinga. Então vamos nos adaptar ao público! Não esqueça de se cortar, fumar um orégano básico (Nada mais pesado que a gente sabe que cê não aguenta), fazer um longo tratamento de reabilitação em dois meses que devia se chamar supletivo de reabilitação por que né e dar a volta por cima!

 E se você não era loira antes, volte loira! E tatuada. E de mega hair.

Não importa mais se é grupal heh ou solo, agora, o próximo tópico, é de extrema importância pra ambos:

Porte-se como bom moço

Sempre molhe as vaginas intocadas de adolescentes de treze anos de idade. Faça até com que as crentes dos cus ferventes se derretam por ti. E não se esqueça de que, como você quer convencer os pais dessas meninas a levarem-nas nos shows, se ajuste ao público-alvo. Faça votos de pureza, ande com anel de castidade e fique longe das drogas. Não importa se, seis meses depois, você for pego com meio quilo de maconha ou coisas mais graves como um lote de CDs do Latino, nem se vazarem na internet um vídeo em que você esteja cantando Kelly Key. As pessoas no máximo vão te enxergar como “mais adulto”. A menos que cê seja mulher, aí vão te ver só como puta mesmo.

Enfim, só se preocupe em estar na mídia! Você vai se recuperar na rehab depois, não tenha dúvidas.

 Heterossexualidade e fé em Cristo!

Bom, agora que cês já entenderam como se começa, vamos ao que é menos importante: A parte musical da bagaça.

A música

 No mínimo, conheça alguém que se vista assim pra fazer feat.

Antes de qualquer coisa, escolha o tema da sua música. Não, acalme-se. Você não vai realmente compor sobre algo, seu panaca. É que você precisa ter o que dizer na entrevista pro site da MTV. Além de dar material pros críticos da Rolling Stone terem o que escrever quando resenharem seu álbum. E pode ser qualquer coisa. Não importa, afinal, a letra será sempre a mesma.

Quer um exemplo?

Feels so good being bad (Oh oh oh oh oh)
There’s no way I’m turning back (Oh oh oh oh oh)
Now the pain is my pleasure cause nothing could measure
(Oh oh oh oh oh)

Observem a genialidade! Do mesmo jeito que Mendeleiev deixou espaços na tabela periódica pra futuras descobertas de elementos químicos, a música da Rihanna apresenta lacunas para serem interpretadas de acordo com a parcela da sociedade você se encaixa.

Se você é um ativista do Facebook, que passa seus dias compartilhando mensagens importantíssimas e dando joinha em foto de criança com hidrocefalia, pode interpretá-la como sendo um poema sobre criancinhas famintas na África, cujo eu-lírico sejam o capitalismo e as grandes corporações! Se você é fã de novelas da Globo, pode interpretá-la como uma exaltação feita pela personagem Carminha às suas próprias malvadezas!

A coisa só fica feia se você for leitor de 50 Tons de Cinza, por que sua interpretação vai ser deveras… Incômoda. Sendo este o caso, por favor retire-se desse site pois é um lugar de família.

Grata.

Bom, se vocês ainda não estiverem convencidos, vamos à Ke$ha:

I’m talking – pedicure on our toes, toes
Trying on all our clothes, clothes
Boys blowing up our phones, phones
Drop-topping, playing our favorite cd’s
Pulling up to the parties
Trying to get a little bit tipsy

Mas oras bolas! Outra crítica ao capitalismo selvagem! Perceba como a cantora se refere aos gritos de dor e sofrimento do proletariado explorado e sempre obrigado a se especializar mais para não ser apenas mais uma roupa no armário do patrão, podendo ser trocada e jogada fora!

O que eu quis dizer é: O pop sempre usa as mesmas fórmulas. Qualquer merda que puserem no papel pra ser cantada vai fazer sucesso, desde que tenha um rapper, uma mulher libidinosa rebolando de quatro, um carinha bonzinho e aquela batida eletrônica que parece o som de palmas.

Mesmo que a canção tenha como função levantar fundos pra alguma ONG que trabalhe contra a extinção dos chow-chow, a porra da composição vai ser, basicamente, igual a qualquer outra sobre amor adolescente e cheio de areia nas genitálias que se vê por aí. Ou seja: Uma merda. E é óbvio que levará milhões a loucura, principalmente se o clipe contiver fotos de gente negra sofrida.

Opa, perae! Por um instante, quase voltei a falar sério! Meu Deus, foco!

Enfim, por último, mas não menos importante:

Remixes! Remixes até dizer chega!

Lance um CD com o single e, no mínimo, setenta e quatro outras versões da mesma música. Podem ser: Dance, house, acústica, demo, sertaneja universitária, mestranda, doutoranda e analfabeta, instrumental, long ou radio edit; o único requisito é que pelo menos uma dela tenha mais de seis minutos!

Agora você já pode ser a sensação do verão! Certeza que seu nome aparecerá em todas as baladinhas e várias menininhas juvenis vão querer teu corpo nu junto ao corpo nu delas. Quem sabe até usem seu hit pra fazer vídeo de cerimonial de quinze anos. Imagine que honra!

Só peço que lembre de mim e do Bacon quando ficar rico.

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