American Horror Story (Coven): O relato de uma decepção

Televisão sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eu sempre defendi American Horror Story com unhas e dentes. Com todas as incongruências e excessos, a qualidade do seriado do FX residia justamente nas personalidades que contavam a história e nas escalações. Isso é fundamental em antologias. Como uma temporada é independente da outra, os autores precisam manter o público fiel não apenas à história que está sendo contada no momento, mas à todas que eles pretendem contar. Com AHS não é diferente. A primeira temporada, Murder House, teve uma estrutura sensacional e sem pontas soltas. Os bons atores surpreenderam, assim como a qualidade da maior parte dos personagens. E apesar de ter odiado a protagonista a ponto de querer matá-la com minhas próprias mãos, assisti a todos os episódios em inacreditáveis dois dias.

Asylum pecou pela confusão de elementos. Nazismo, ETs, terapias psiquiátricas desumanas, zumbis, possessão e um assassino em série de mulheres transformaram a segunda temporada em caos. Em contrapartida, o mistério acerca da identidade do grande vilão, BloodyFace, personagens interessantes, o melhor elenco possível e participações especiais movimentaram o público. Foi muito fácil, para mim, relevar o mix bizarro de horror quando tinha na tela Zachary Quinto, Jessica Lange, Lily Rabe, James Cromwell e Joseph Fiennes em papéis de destaque. O mesmo não aconteceu com a terceira temporada, Coven.

Pepper: Amor verdadeiro, amor eterno.

O que mais me incomoda é que tanto elenco quanto história e personagens tinham muito potencial. O que elevou minhas expectativas até a estratosfera. Além da escalação da sempre obrigatória Jessica Lange, os nomes de Kathy Bates, Angela Basset e Frances Conroy me empolgaram. O fato de incluírem duas personagens baseadas em personalidades reais de New Orleans, Marie Laveau e Madame Delphine LaLaurie, idem. Era difícil pensar em algo que pudesse dar errado. Mas logo nos primeiros episódios percebi que aquele frio na barriga em vez de aumentar, diminuia. Tentei até reduzir a ingestão de Activia, mas não deu certo. O problema é que Coven era impossível de assistir. Não por ser exatamente ruim, mas por ser chata.

Para começar, horror mesmo, só teve no nome. Não me senti incomodada, assustada ou sobressaltada em nenhum momento. Histórias de bruxas não necessariamente são aterrorizantes. Essa, definitivamente, não foi. Apesar de consistente, não teve esse elemento básico que, diga-se de passagem, até sobrou em Asylum. Além disso, todos os personagens eram completamente avulsos, com exceção de Fiona (Jessica Lange). No primeiro episódio, vimos o desespero de Zoe (Taissa Farmiga) ao descobrir que era capaz de explodir pessoas ao transar com elas. Grande função social, diga-se de passagem. Enfim, ao ser enviada para a renomada escola de bruxas em New Orleans (Com apenas 4 alunas), a jovem nunca mais menciona a família, e seu “poder” fica completamente esquecido. Lá, ela é treinada, junto com as outras meninas, a ampliar seus poderes. Na teoria, porque elas nunca tiveram aula nenhuma, só ficavam perambulando pela mansão falando de sexo.

Nas horas vagas, assistiam reprises de Falando de Sexo com Sue Johanson.

As escalações de Evan Peters (Kyle) e Denis O’Hare (Spaulding) também foram inúteis. Qualquer extra, do faxineiro ao porteiro do estúdio, poderia interpretar os papéis deles. O primeiro era um zumbi retardado que quase não aparecia. Spaulding era um mordomo sem língua com um background interessante, mas tão mal explorado quanto o talento do ator. O mesmo aconteceu com a sanguinária Madame LaLaurie, que de assassina sanguinária e racista, passou a empregada doméstica e fã de hambúrgeres. E pior: Sem reclamar ou fazer algo a respeito. Até Fiona (Jessica Lange), que era a Suprema – ou seja – a Dilma de todas as bruxas, foi enfadonha. De interessante mesmo tivemos apenas Nan (Jamie Brewer), que tinha capacidade de ler mentes e sensualizar; e Queenie (Gabourey Sidibe), uma espécie de boneca de vudu humana.

Outro ponto interessante, mas que se tornou irritante, foi a obsessão de Ryan Murphy (E colaboradores) com a Stevie Nicks, do incrível Fleetwood Mac. Eu sou fã dela e da banda desde novinha, mas forçaram a barra para incluí-la em dois episódios. Em The Magical Delights Of Stevie Nicks ela canta, e eu não entendi muito bem o motivo, duas músicas, para Misty Day (Lily Rabe), bruxa meio hippie fã #1 da cantora. No último, The Seven Wonders, ela toma uns 3 minutos para cantar sozinha nos corredores da escola a música de mesmo nome (Ótima, diga-se de passagem), como se fosse um videoclipe. Ela não tá tão profundamente no ostracismo para precisar disso. Boring.

O final, que girou em torno da escolha da nova Suprema, não me cativou. Eu não consegui me importar com a história de forma alguma e queria mais que um raio caísse sobre todas elas. A escolhida, inteligentíssima, teve a grande ideia de divulgar na internet e na TV a escola de bruxas, pedindo que meninas com poderes mandassem currículos, o que gerou, nas últimas cenas, uma fila ridiculamente longa de garotas vestidas de preto querendo “estudar” lá. Todas entraram na mansão. Sem triagem, sem nada. Quantas tinham, de fato, poderes, jamais saberemos.

A quarta temporada, de acordo com o criador, deve se passar em New Orleans ou New Mexico. A maior parte acontecerá na década de 50, mas também se passará nos dias atuais. Ele disse também que a pessoa que curtiu a pegada mais leve e comica de Coven, vai curtir a próxima, que deve seguir essa linha. Mau, muito mau sinal.

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