Você tem mau hálito?

baconfrito segunda-feira, 27 de julho de 2015

Aqui em casa nós fazemos comprar de supermercado mensais. Somos algumas daquelas pessoas que lotam dois ou três carrinhos e que ocupam um caixa facilmente por meia hora (Ou mais). Isso é relevante porque preciso dizer à vocês que, mês passado, compramos uma escova de dentes, num modelo que nunca tínhamos comprado antes, e calhou de ser eu quem a pegou pra substituir a antiga.

E é a melhor escova de dentes que eu já usei na minha vida.

Sou uma daquelas pessoas que paga trinta pila numa escova de dentes. Não que eu leve à sério essa parada de lâmina branqueadora, cerdas de borracha que massageiam a gengiva, limpador de língua e nem nada disso, mas eu gosto de uma escova de qualidade, e esse monte de porcaria bônus não vai fazer mal. Acontece que até experimentar a Close Up White System Diamond Attraction eu não sabia o que uma escova de dentes poderia fazer na minha vida.

Essa última frase é babaca assim mesmo, e explico o motivo: Escovar os dentes, pra mim, sempre foi aquele costume que você desenvolve desde criança, uns minutos que você tira do seu dia pra fazer algo necessário, mas sem grandes frescuras. Aí eu peguei essa escova, e diferente de todas as outras que já experimentei (Desde das mais simples até as automáticas à pilha – uma puta preguiça do caralho diga-se de passagem), esta me faz querer escovar os dentes melhor.

Eu sei que parece mentira, mas é verdade. Prestem atenção no ângulo do cabo, que é a parte que entra na sua boca: Me serve perfeitamente. As cerdas tem a maciez e consistência certas pra mim. A cabeça tem um bom tamanho e um bom desenho anatômico. A lâmina branqueadora com perlita passa desapercebida, e nem ligo se branqueia ou não os dentes, mas se ainda não melhora em nada, pelo menos não atrapalha. Tem mais ou menos um mês que estou usando esta escova, e desde que comecei eu tenho escovado melhor os dentes. Passo mais tempo escovando, dedico mais tempo à áreas que antes ignorava, escovo os dentes de forma melhor e com mais cuidado. Porque a escova me serve bem ao ponto de me estimular à isso.

Eu nunca pensei que faria uma resenha de uma escova, muito menos que consideraria me tornar consumidor costumeiro de uma marca ou modelo do mesmo jeito que faço com celulares, carros ou coisas mais “importantes”, mas essa escova conseguiu… Quer dizer, ainda é a primeira, mas darei uma certa preferência à mesma. Alguém no departamento de marketing da Close Up deve estar feliz da vida agora, pra não falar no tanto de dentista que topa fazer comercial dessas coisas. Acontece que um produto que normalmente é apenas parte de uma rotina fez com que eu melhorasse minha… “Qualidade de vida”, e isso é tipo um gol olímpico de bicicleta com a cabeça.

Mas então chega aquele fatídico momento em que é necessário que se diga o que algo completamente dissociado dos temas do Bacon tem a ver com os mesmos, e se você ainda não descobriu por conta própria darei uma dica: Alguma vez algum livro, filme, jogo, programa de TV ou o que quer que seja já te fez ser um leitor, um espectador, um jogador melhor?

Cê já abriu um livro que, pra você, serviu tão bem que te fez ler de forma melhor dalí pra frente? E me refiro no sentido prático mesmo: Ler melhor. Assistir melhor. Jogar melhor.

Quero dizer, através da sua vida, assim como eu, você lê, ouve, assiste e joga várias e várias coisas, e essas experiências vão te ensinando alguns padrões e comportamentos que irão te tornar melhor no que você está fazendo: Como já diz o ditado, a prática leva à perfeição. É o tipo de coisa que te ensina que, num filme, se a protagonista está sozinha num quarto escuro e uma música sinistra começa a tocar, vai aparecer um monstro qualquer pra tentar matá-la, mas isso não te torna um espectador melhor. Você não assiste o filme de forma positivamente melhor por causa disso, a única diferença é que você tem um conhecimento prévio sobre uma possibilidade plausível dentro do que você está vendo naquele momento.

Suponho que este “ficar melhor” seja o tipo de coisa que acontece quando se vê algo novo, ou ainda algo velho utilizado de jeito novo. Um exemplo seria Cidadão Kane, o filme que onze entre dois diretores fodalhões dizem que os motivou a seguir nessa vida: Uma nova técnica de filmagem, novos padrões de enquadramento e de movimentação de câmera, quando vistos pela primeira vez, provavelmente, te tornam melhor assistindo filmes. É um recurso que você aprende, e que quando você identifica em uma outra obra, te dá conhecimento para uma análise melhor do que você está vendo.

Mas como isso se transmite além da técnica? Um recurso literário, uma mecânica de jogo, uma nova divisão de quadrinhos numa HQ, tudo isso é técnico. É um fator pensado para permitir alguma coisa, um recurso para revolver um problema interno: Nada disso altera em quem ganha o jogo, se o bandido morre no final ou se a música te faz dançar ou não. Técnica leva à produtos e obras melhores, mas não tem grande voz quando se trata do relacionamento entre o consumidor/público e o produto/obra. Claro que a qualidade é um fator determinante, mas não é uma relação direta, ainda mais se pensar no tanto de porcarias que todos nós gostamos mesmo sabendo que são ruins.

Então como pode uma obra efetivamente te tornar melhor em absorver uma obra, senão pela prática comum, que leva à um conhecimento técnico? Ou o trabalho não seria efetivamente te tornar melhor, mas fazer com que você queira ser melhor? “Me ajuda a te ajudar”? Porque, no fim das contas, minha higiene bocal melhorou por função da escova, mas se a única vontade presente fosse a de mudar, e na prática eu não mudasse nada, a escova seria inútil.

Assim entra uma questão que passei rapidamente alí em cima: O choque da novidade seria o único fator? Afinal, é a minha primeira escova do tipo, e ainda que o novo comportamento ocorra durante esse tempo que estou com ela, nada garante que na segunda ou terceira o mesmo continue, já que deixa de ser novidade; o conhecimento técnico foi aprendido. Ver Cidadão Kane todo mês continuaria a melhorar sua experiência com filmes se você o assistisse regularmente?

A vontade de melhorar é um bom passo, mas apenas o primeiro, e comprovadamente precisamos de novas experiências (Ou novos meios de raciocinar as mesmas experiências) para termos resultados futuros diferentes. Ou seja, a grande questão de ser um consumidor melhor provém da prática comum, mas sendo esta baseada na constante inserção de novos elementos? Uma novidade todo dia, dentro de uma atividade qualquer, faz com que você seja melhor quando se trata de atividades que você já conhece e que não mais apresentam nada de novo?

Eu vou safadamente lhes dizer a verdade: Não tenho nenhum livro, filme, jogo, gibi, série de TV, nada em mídia nenhuma que eu possa dizer que melhorou minha experiência com a própria mídia. Eu não tenho uma escova de dente pra nenhum deles, que eu possa apontar e dizer “tal obra mudou como eu me relaciono com esse tipo de produto”. Alguns deles me ensinaram coisas sobre técnica, sobre fatores figurados (“A vida”, “o amor”, “a humanidade”), outros me proporcionaram diversão, mas nenhum deles, por mais importante e por mais que tenham mudado minha forma de ver o mundo mudaram como eu os consumo. Eu leio melhor hoje que há um ano, mas é por ler, não por ler a obra X.

Talvez o segredo seja mesmo uma lâmina branqueadora.

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