“TOP 100 FILMES BACON FRITO” 50 – 46

Cinema segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

50) Os Sonhadores

(Bernardo Bertolucci, 2003)

Pedro: Não é raro ver diretores se utilizando do cinema de forma “egoísta” – colocando diálogos e cenas apenas para corresponderem a seus desejos mais íntimos. Mas se existe alguém que sempre conseguiu equilibrar a parte “autoral” com a voltada para o público, esse foi Bertolucci. Talvez em Os Sonhadores ele tenha achado a solução mais criativa para balancear os extremos – misturar seus maiores fetiches com extraordinárias homenagens ao cinema. Para agradar os amantes da sétima arte e os onanistas de plantão em uma tacada só.

Uiara: Não satisfeito com uma cena de sodomia com manteiga em O Último Tango em Paris, Bertolucci resolveu contar a história de um casal de irmãos gêmeos franceses que se envolve com um rapaz americano. É incrível como um diretor consegue colocar algo tão polêmico de forma sincera e com tantos rodeios quanto é possível antes de tornar o roteiro enjoativo. Os gêmeos são absolutamente apaixonantes, seja por fugirem tanto do “normal” pra sociedade, ou por seu amor ao cinema. Esse já mereceria uma posição no top 100 só pela qualidade dos filmes citados, que são mostrados de acordo com o que os personagens vivem no momento. Genial. Mas não veja com sua mãe do lado. Muito menos com seu irmão gêmeo.

Veredito Final:
Uiara diz:
os sonhadores é um filme onde o elenco passa 80% do tempo nu e cê quase não se dá conta disso porque se distrai com o que eles falam
PA diz:
a não ser que você odeie cinema, e não se importe com as diversas homenagens
Uiara diz:
Bertolucci mostra que consegue encaixar cenas extremamente polêmicas com outras que não chamariam a atenção, como quando Isabelle perde a virgindade no chão da cozinha enquanto seu irmão gêmeo frita uns ovos logo ao lado.
PA diz:
ou quando esse mesmo irmão se masturba em frente a imagem da deusa do cinema mudo, e um dos personagens não está nem aí
Uiara diz:
Aliás, acho que ele tem algum tipo de tara por comida
O Bertolucci, não o Théo

Uiara diz:
mas claro que a gente só tá destacando as partes sem vergonha pra vocês irem assistir sem perceber a gigantesca ode ao cinema que é esse filme
PA diz:
pq a senhora está contando as nossas intenções secretas?
Uiara diz:
opa

49) A Regra do Jogo

(Jean Renoir, 1939)

Pedro: Dois anos antes de Cidadão Kane, Jean Renoir (filho do pintor impressionista) vislumbrou alguns dos avanços estéticos que seriam feitos na década seguinte. Mas engana-se quem acredita que suas “previsões” eram somente no campo cenográfico – o próprio roteiro, mostrando mulheres independentes e que faziam homens de bobos, já era diferente de tudo o que se tinha na época. Tudo isso aliando humor (do pastelão ao “refinado”) com drama e um pouco de crítica social.

Uiara: Não façam como essa que vos escreve. Por favor, pulem de uma ponte qualquer sinopse e apreciem somente o filme. Caso contrário é bem possível que vocês pensem que é um tipo chato sobre luta de classes, o que não tem NADA a ver com a realidade. Assim como Bonequinha de Luxo, me fez consultar diversas vezes a data de lançamento porque é quase inacreditável que em plenos anos 30 existissem filmes que mostrassem personagens femininos extremamente superiores aos masculinos. Não bastasse isso, o nome do diretor já seria uma razão mais do que suficiente pra te fazer ver esse filme, convenhamos.

Veredito Final:
PA diz:
Ignore a crítica social que existe no filme, seu grande mérito não é esse
E sim que em 1939 Renoir conseguiu fazer um filme em que as mulheres fazem os homens de cachorrinho – uma espécie de femme fatalle pré noir
E misturar isso em meio a um drama que não perde a força em meio às inúmeras cenas do humor mais pastelão possível

Uiara diz:
um filme com 300 personagens trancados numa casa é o lugar perfeito pra ter drama e comédia na medida certa. E a não ser que você tenha um parafuso a menos, não dá pra se perder na história
PA diz:
Se você tivesse colocado confusão em algum momento, eu te arrumaria um emprego pra lançar os anúncios da sessão da tarde
Uiara diz:
sempre sonhei em trabalhar com aquela galerinha do barulho

48) Scarface

(Brian De Palma, 1983)

Pedro: Dá pra contar nos dedos o número de atores que conseguem levar com maestria um filme de três horas nas costas. E com Scarface, Al Pacino, que vinha de sucessos como os dois O Poderoso Chefão, Serpico e Um Dia de Cão, ficou eternizado na pele de Tony Montana. Um épico obrigatório sobre a ascensão e queda de um traficante de drogas.

Uiara: Nessa espécie de remake do filme homônimo de Howard Hawks (de 1932), Brian de Palma fala sobre um cara que vem dos cafundós de Cuba e domina a rede de tráfico de cocaína nos EUA. Al Pacino representa o machista que chuta bundas em geral, se enche de dinheiro e glória, mas não deixa de ser um pobretão. Escolhido como um dos 10 melhores filmes de gângsters de todos os tempos, merecidamente.

Veredito Final:
PA diz:
Épico de 3 horas protagonizado pelo Al Pacino, na qual ele passa de um cubano zé ninguém e se torna O traficante milionário. Só a sinopse já me faz vontade de assistir o filme de novo.
Uiara diz:
mas o principal é que mesmo depois de virar, bem, o poderoso chefão o cara continua sendo um pobretão na alma
PA diz:
Para quem é do Rio, sabe aquela brincadeira “a pessoa sai da tijuca, mas a tijuca não sai da pessoa”? Então… é mais ou menos isso.
Mas ainda assim é um cara que sabia o que queria e conseguiu.

47) Branca de Neve e os Sete Anões

(David Hand, 1937)

Pedro: Poderia definir a presença de Branca de Neve e Os Sete Anões por aqui apenas citando o fato de ela ser a única animação presente na minha lista de hiperclássicos. Mas a obra é mais do que isso. É uma herança da época em que a Disney não se importava em colocar momentos perturbadores em seus filmes (e que só durou até Fantasia em 1940). Ou você se lembra de algum vilão tão cruel quanto a madrasta? Você pode até achar que um leão jogar o outro em um desfiladeiro é “pesado”. Mas estou falando de uma mulher exigir o coração da outra por simples inveja. EM PLENA DÉCADA DE 30.

Uiara: O primeiro filme colorido da Disney, o primeiro a ter uma trilha sonora lançada em CD disco, um dos primeiros a ter propaganda antes do lançamento… E o primeiro e único a dar oito oscars por uma mesma “categoria”, ainda que seja a de prêmio honorário (um Oscar do tamanho normal e sete pequeninos). Elogiado até pelo diretor de Encouraçado Potemkin, me fez perguntar se existia essa história antes do filme. História essa, que você já conhece, óbvio. Mas isso não te impede de alugar o filme feliz e contente, dizendo pra atendente que é pra sua irmãzinha mais nova. A maior prova disso é que num relançamento em 2001 vendeu mais de 1 milhão de cópias no primeiro dia. Então vá lá! Alugue (veja bem, eu não disse BAIXE) e seja feliz com esse que é um dos melhores contos de fada da Disney.

Veredito Final:
PA diz:
Eu adoro vilões. Mesmo. E a madrasta é simplesmente A MELHOR da Disney.
Uiara diz:
foi por conta dele que o Valdisnei ganhou o Oscar mais divertido de todos, e não é pra menos. Conseguiram pegar uma história já conhecida e inserir a figura dos personagens no imaginário geral.
PA diz:
Seu Valdisnei que só ganhou VINTE E DOIS oscars.
Uiara diz:
e esse foi só o primeiro de seus filmes coloridos… É de tirar o chapéu pro homem ver criancinhas, em 2009, pedindo pra ver o filme com a mesma alegria de pirralhos de 70 anos atrás

46) Os Incompreendidos

(François Truffaut, 1959)

Pedro: Acreditem se quiser – esse filme de Truffaut não está aqui apenas para preencher a cota dos “intelectualóides”, mas por seus próprios méritos. Lançado no mesmo ano do hiperclássico Acossado, Truffaut faz sua contribuição para o início da nouvelle vague através de uma obra tão simples quanto marcante. E talvez a simplicidade seja o grande chamativo do filme, uma vez que para contar a história de Antoine – um garoto que tinha tudo para dar errado e que realmente dá, sem fantasias ou reviravoltas – Truffaut optou por uma direção quase imperceptível, permitindo que por muitas vezes esqueçamos que se trata de um filme.

Uiara: É uma história bem simples. Um menino cresce no fogo cruzado dos pais – ocupados demais com seus umbigos pra prestar atenção no garoto – em casa, não quer estudar, tem um professor que mais ajuda do que atrapalha e vê uma saída fácil nos amigos de procedência duvidosa e numa atitude de rebelde com sem causa. Mas lógico que nada é tão preto-no-branco assim. A forma como isso é mostrada faz jus ao lugar que esse filme conquistou entre as grandes estrelas da Nouvelle Vague.

Veredito Final:
PA diz:
eu sei que tudo o que a gente falar vai parecer papo de intelectualóide que acha Truffaut um gênio. Mas o incompreendidos é REALMENTE bom (ao contrário do meia boca Jules e Jim, que por algum motivo é muito mais celebrado).
Uiara diz:
a primeira vista, é um filme tão cotidiano que se confundiria facilmente com a história de um vizinho: pais que não se amam mais e uma criança perdida no meio do tiroteio tendo que virar gente sozinho, antes do tempo e da forma mais conturbada possível
mas isso é só o começo… tem tantas facetas ali quanto só um gênio do cinema poderia mostrar

PA diz:
Sabe aquele garoto que vive matando aula, fuma antes de todo mundo e só faz merda? Então. Vemos o que realmente se passa na casa de uma criança dessas, e todo o desenrolar disso.
E com um garoto que sabe atuar, como protagonista.

Uiara diz:
ver aquele menino fumando é de dar pena, por sinal, mais do que nos Cidades de Deus da vida

Este texto faz parte de um TOP 100. Veja o índice aqui.

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