The Gamers: Hands of Fate (The Gamers: Hands of Fate)

Filmes bons que passam batidos quarta-feira, 11 de março de 2015


Quando Cass (Brian Lewis) vê uma oportunidade de se dar bem com Natalie (Trin Miller), uma das melhores jogadoras de Romance of the Nine Empires, ela lhe desafia: Mostrá-la que ele é um jogador bom o suficiente para ganhar o campeonato nacional deste ano. Determinado a provar que pode ganhar qualquer jogo, Cass alista seu companheiro de jogo de longa data, Leo (Scott C. Brown) para ensiná-lo tudo que ele precisa saber sobre jogos de cartas colecionáveis. Mas The Legacy, um grupo de jogadores hardcore com um plano do mal, ergueu um exército de mortos-vivos para ganhar o jogo por eles.

Há anos que vi qualquer coisa relacionada com Gamers: Faz mais tempo do que eu pensava. E, na real, eu não sei exatamente como me lembrei da existência da série e cheguei à terceira parte… Eu sabia que ela seria feita, mas tudo que tinha era uma vaga lembrança de uma promessa qualquer… Mas cheguei, e bem, já que eu resenhei os outros dois, por que não?

Um pouco de história antes: The Gamers começou com um filme de baixíssimo orçamento de 2002, que narrava a aventura de um grupo de amigos… Que narram a aventura de um grupo de amigos. Isso é RPG, se acostumem. O filme é tosco, tem atuações piores que os efeitos especiais, e se você já achava RPG coisa de perdedor, fica entre a escolha de não assistir, pra não passar vergonha, ou assistir pra dar risada.

Já o segundo filme, Dorkness Rising, segue mais ou menos a mesma estrutura, sendo mais um spin-off que uma continuação de verdade: Novos personagens, novos atores (Ao menos a maioria) e efeitos especiais muito melhores (Não que sejam bons, que fique claro), mas ainda mantendo o grupo de RPG, jogando RPG e fazendo coisas relacionadas. Se o primeiro foi de baixo orçamento, o segundo… Também foi, mas já contou com patrocinadores, um orçamento muito maior, e várias e várias propagandas de jogos de verdade (Felizmente nada muito agressivo).

O segundo filme é de 2008, e foi só em 2013 que a Dead Gentleman conseguiu, através do financiamento coletivo, fazer a “continuação”. Então as considerações: Dos três, este é, de longe, muito longe, o maior filme da série, ele não só conta com vários patrocinadores mas com o financiamento coletivo. Aliás, a maior parte do filme se passa na Gen Con, a maior convenção de jogos de mesa da gringaida, sendo sobre, em grande parte, a própria Gen Con, que, vejam só, foi também onde o filme estreou. Pesquisando agora sobre o filme, descobri que eu assisti a versão de festival, mais curta, e que há a estendida, com meia hora a mais e que mostra o que rola com dois personagens que já estava no filme anterior (E que somem sem mais nem menos na versão que eu vi).

A real é que esse filme, e o financiamento coletivo envolvido, foi um troço tão grande que fica até esquisito pensar que o filme é o foco. Só de ver a quantidade de opções e extras que poderiam ser adquiridas no KickStarter é impressionante, pra não falar nos quatrocentos mil dólares que a campanha atingiu: De participações como extras à posição de produtor executivo, com camisetas, pôsteres, entradas para a Gen Con, participação com fala no filme, extras para jogos de RPG baseados na série, miniaturas, mapas, almoços com os produtores… Os caras literalmente criaram o jogo Romance of the Nine Empires, o produziram e ainda deram opções para os financiadores criarem cartas e personagens.

Eles ainda fizeram uma apresentação ao vivo na Gen Con de 2012 (Quando o filme foi filmado, ele estreou no ano seguinte) com os atores do filme, algo que também pode ser comprado/assistido à parte. E o financiamento incluía opções para esse evento único, já que quem definiria a história da apresentação seria o público. Além disso, o filme ainda acabou por gerar outros dois spin-offs mais curtos, também por financiamento coletivo, incluindo uma aventura cyberpunk e outra sobre o dia-a-dia dos jogadores. Também não assisti nenhum desses, então não sei se influenciam em alguma coisa na história do filme, mas até onde pude ver, são à parte mesmo.

O meu ponto aqui é: ESSA PORRA FOI GRANDE PRA CARALHO, VÉI.

A história do filme, então: Tá lá o grupo do segundo filme, enfim às beiras de enfrentar o arqui-inimigo dos dois filmes, The Shadow The Shadow? The Shadow! The Shadow.… Mas eles não podem. Por causa de um motivo chamado “vida”. Não vou negar: O começo desse filme segue perfeitamente os outros, e isso é legal pra caralho. Entre uma tentativa e outra de, enfim, derrotar O MAL, Cass, o jogador babaca do segundo filme, vê uma piranha lá, e decide que vai pegar. Mas, claro, esta está acostumada com esse tipo de coisa, se faz de difícil, e o filme segue daí, com Cass aprendendo a jogar um CCG (Collectible Card Games).

Esse é o filme: Cass, cartas, a ruiva e o campeonato contra o time de jogadores fodões.

É verdade, tem os personagens do filme anterior, tem o vilão, tem RPG e tem piadas sobre o jogo, piadas sobre jogar o jogo, piadas sobre quem joga o jogo e piadas meta-meta-meta-meta-meta sobre o jogo… No começo, um pouquinho no meio, e no fim. O resto é sobre Cass aprendendo a jogar um jogo de cartas só pra conseguir a garota (Obviamente isso vai mudando no decorrer do filme). De forma simples tudo que faz você gostar dos dois primeiros filmes também está nesse, e com uma qualidade de produção muito melhor (Até atuações melhores!), mas a maior parte do tempo é dedicada à coisas completamente novas.

Isso dividiu a galera lá fora: Uns gostaram, por não repetir a fórmula, mas manter relação com a história e os personagens conhecidos, já outros não gostaram. Sou um desses últimos. Eu acho RPG legal, já falei várias vezes, mas gosto mais de TCGs e CCGs: Magic, Pokémon, Yu-Gi-Oh! e meia dúzia de outros. É verdade que não joguei a maior parte dos grandes nomes americanos, entre eles Legend of the Five Rings, principal inspiração pro jogo do filme, mas de forma geral, estou do lado das cartas nessa briguinha besta entre os CCGs e os RPGs… Mas ainda assim não consigo gostar desse filme mais que dos outros.

A fórmula dos personagens é a mesma: Tem a garota, o esquisito, o babaca (Que agora melhorou em relação ao segundo filme) e todo o universo que rodeia os jogos de mesa. São personagens legais, mesmo sendo clichês, sobre uma história sem surpresa nenhuma. Aliás, The Gamers nunca foi legal por causa dessas coisas, mas sim por mostrar “a cultura” que rodeia as paradas, e aí que mora o problema.

Antes tínhamos o grupo, os jogadores e seus personagens, agora temos apenas um personagem, Cass, sozinho. Se antes os os jogadores tinham seus personagens no jogo, com um TCG isso não rola (E isso é justamente dito por Cass, logo no começo do filme, contra os TCGs), o que significa que você tem os personagens da “vida real” no filme e os personagens do jogo de cartas. A história de um depende do outro, mas nunca há a interação entre eles, o que era justamente o ponto de contraste na coisa toda. Termina que você tem os personagens “reais” que você já conhece do segundo filme e os novos desse filme, e você gosta deles, mas os personagens do jogo de cartas, que são, no fim das contas, personagens padrão de TCGs, não tem simpatia alguma. Você não liga pra metade dos personagens do filme, que são os personagens do jogo, num filme sobre jogos.

Acaba que tudo que tinha nos outros dois filmes, que você gosta e que te fazem querer ver o terceiro, a continuação, tem um papel muito menor e secundário nesse filme. E, como disse lá pra cima, parte dos personagens do segundo filme, Lodge e Joanna (O DM e a guerreira), simplesmente desaparecem, sem explicação nenhuma, algo que só será resolvido na versão estendida: Típica safadeza LucasJacksoniana.

O filme também entra num sub-plot com Gary, em que seu desenho favorito, Ninja-Dragon Riders, é cancelado em favor de um desenho infantil sobre um coelho laranja, e este passa o filme tentando assassinar o cara vestido como o tal coelho na convenção… Pode parecer legal, mas não é. Não encaixa com o resto do filme, sai completamente do que já tinha sido mostrado sobre o personagem e, ninjas que são cavaleiros de dragões ninjas (Num visual e estilo que apenas os piores Power Rangers alcançaram) são uma ideia extremamente ruim, mas não ruim ao ponto de dar a volta.

Ao invés de mostrar o que é legal (O grupo de RPG, jogando RPG, e a própria aventura dentro do jogo de RPG), o filme mostra a rápida ascensão de Cass no mundo dos CCGs, some com dois dos personagens principais, coloca Gary numa aventura própria irrelevante (Que, aliás, é a responsável por atrapalhar todas as tentativas do grupo de jogar RPG), cria um novo Gary que joga CCGs (Sim, isso mesmo, praticamente o mesmo personagem, do jeito que este era no segundo filme), quer desdobrar toda uma história de como The Legacy, o grupo fodão, está estragando o jogo e como Cass precisa vencê-los para conquistar Natalie… Enquanto há de se constar que os personagem do jogo de cartas também tem “vida própria”, e também tem que lidar com o problema de que “suas ações não importam de verdade, e que, quando o jogo na ‘vida real’ acabar, eles farão as mesmas coisas de novo no próximo jogo”… É confuso escrever, mas de assistir é fácil… E chato.

É coisa demais acontecendo, enquanto que o que te chamou atenção pra início de conversa, praticamente não é mostrado. Não deve chegar a vinte minutos de jogo de RPG no filme, e isso era o legal. Não teria problema se o resto desse conta, mas não dá. Romance of the Nine Empires é um jogo de cartas, mas que tem livros contando a história por trás, e as decisões dos livros são baseadas nos campeonatos: Por exemplo, se um personagem morre num jogo, durante um campeonato, ele também morrerá na história oficial, e isso é legal pra caralho na vida real (Na nossa vida real, a vida real de verdade) no filme é só mais encheção de linguiça. Toda a meta linguagem que te diverte nos primeiros filmes, que cria o vínculo entre os personagens-jogadores e o espectador, os jogadores e seus personagens no jogo, e os espectadores e os personagens dos jogadores, tem seu tempo absolutamente reduzido. Ainda existe meta-linguagem pros CCGs, mas não é a mesma coisa, já que jogos de cartas não tem interação que os RPGs tem. E depois de todo o resto ser resolvido, quando enfim os personagens podem jogar RPG, o filme acaba. Eu nem sei se foi um final aberto de propósito pra tentarem fazer outro filme ou se acharam realmente uma boa ideia terminar assim.

The Gamers: Hands of Fate é a prova de que dinheiro, tempo e produção não fazem uma grande obra, e que nem todo projeto independente, mesmo com todas as chances ao seu favor, faz jus ao que se espera dele. O filme poderia ser muito mais: Tenho certeza que decepcionou muita gente, eu incluso. Ainda é um filme divertido, ainda é legal ver que os produtores tiveram culhões de colocar seu maior sucesso numa direção completamente diferente, ainda tem os personagens que você gosta, ainda tem novidades que são bem vindas e, mesmo que pouco, ainda tem RPG… Uma decepção, sim, mas não um tempo jogado no lixo.

Ou sim, se você, diferente de nós do Bacon, tiver vergonha na cara, dignidade e vida social.

Você pode assistir a versão de festival pelo YouTube, junto com outras produções da Dead Gentlemen. O primeiro e o segundo filme também estão disponíveis. Todos em inglês, sem legendas.

The Gamers: Hands of Fate

The Gamers: Hands of Fate (125 minutos – Fantasia)
Lançamento: EUA, 2013
Direção: Ben Dobyns e Matt Vancil
Roteiro: Nathan Rice e Matt Vancil
Elenco: Brian Lewis, Trin Miller, Samara Lerman, Jesse Lee Keeter, Nathan Rice, Carol Roscoe, Scott C. Brown, Christian Doyle, Jennifer Page Jennifer Page, Conner Marx, John Bogar e Bryan Bender

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