Taylor Swift é a Alanis Morissette desta geração

Música quarta-feira, 01 de fevereiro de 2017

Pode não parecer, mas a Alanis Morissette já tá aí desde 1983… Até que Jagged Little Pill aconteceu, e meu deus, como as coisas mudaram: O mundo estava cansado do grunge mas ainda carente do Nirvana, o bom e velho rock estava perdendo espaço pro rap, pro hip hop e até mesmo pra dance music e Michael Jackson estava lançando seus últimos sucessos… Isso foi em 1995. Demoraria mais de uma década pro mundo conhecer Taylor Swift, e nesse meio tempo Alanis foi da garota que revidava a traição do namorado pra tia que vive namorando mas tá sempre solteira.

Mentira, ela tá casada desde 2010.

Tirando doce dos tabloides

Vamos tirar o elefante branco da sala pro resto da festa ser só diversão: A temática de ambas é totalmente parecida, desde o já clássico “malhar em público o cara que eu tava namorando” até o desrespeito léxico, ambas passam álbum após álbum e faixa após faixa variando entre o (Já morto) girl power, relacionamentos falidos e a eventual “a vida é a assim mesmo e eu aprendi a ser forte”. Claro, elas fazem isso de forma relativamente diferente: Taylor, mesmo quando ainda era a garotinha favorita do sertanejo country era muito mais pop do que Alanis jamais foi.


Outdoor do bom-mocismo

Enquanto nenhuma das duas abraçou coisas como anel de castidade ou o revival de movimentos das décadas de 60 e 70 que ocorreu na década de 90, ambas estão do lado da Força. Ou da Luz. Ou da Paz. Ou dos Direitos Humanos. Mesmo que ambas não sejam belas, recatadas e do lar, ambas representaram e representam aquele ideal neo-familiar de bons modos: Se algo errado acontece, foi pelo motivo correto, justo e ético… É como ir pro puteiro com um padre, saca? O padre ainda tá no puteiro, mas vai usar os minutos entre uma lap dance e outra pra te dizer que faz tempo que ele não te vê na missa.


Abraça o capeta e vai

 Nunca é tarde demais pra heresia nossa de cada dia.

Enquanto tia Alanis passou os primeiros anos de sua carreira se dedicando aos putz putz das baladas discotecas, Taylor dedicou a sua aos rodeios de shopping, mas ambas se cansaram de sua vida de sucesso mediano e resolveram investir numa guinada em suas carreiras: Tia Alanis decidiu apostar no alternativo e Taylor, como bem disse o Jo, Pharrellizou.

Isso significa, é claro, que elas “se venderam”, mas também significa que ambas tem um monte de fãs pé no saco, que ouviam “antes de ser mainstream” e que já há anos estão se perguntando o que caralhos aconteceu no fim das contas. O fato, porém, é um só: Seja com Glen Ballard, Shellback ou Max Martin, o troço funcionou, e nenhuma das duas seria o que é hoje.


Para meninas do mundo todo

 Só de procurar esse tipo de gif já me dá alergia

Com a união de temas adolescentes babacas e a postura de um mordomo, é claro que seria apenas uma questão de tempo pra galera apontar o dedo e encomendar uma placa: Porta-voz de uma geração. Esse tipo de coisa não é uma merda só por ser um reducionismo tosco, mas porque, seja pra falar de crimes, armas e prostituição ou pra falar sobre namorados de escola e matar aula pra ir na praia (Tudo muito hardcore isso aí), sempre significa colocar uma coroa em alguém e declarar que tudo que sai da boca dessa pessoa é praticamente um novo evangelho. Se eu cago até pros evangelhos de verdade não é um chororô revolts que vai mudar a minha vida, mas é claro que tem gente que dá aquela moral, então…


Strong and Independent

 Se eu quisesse dava pra lotar este post de Beyoncé, e isso não é coincidência.

Em algum momento no meio dessa bagunça, lá na década de 90, tia Alanis virou o ideal de mulher pra uma galera, e a Taylor Swift também, só que vinte anos mais tarde. Porque, de alguma forma, esse ideal inclui lavar roupa suja em público, mandar beijo pra recalque e dizer que você pode fazer o que quiser, contanto que tenha seus próprios bons motivos pra isso: É a política do “se você está solteiro é porque ninguém te merece”. Todos nós já vimos essa história, do cinema à música, dos livros ou teatro… Pago o aluguel de quem me provar que já viu essa coisa funcionar na vida real.


Da nossa família pra sua

Este baita clipe é a primeira indicação pra esse música no Google e no YouTube.

Na grande lista de estratégias oportunistas baratas que o empresariado mundial resolveu adotar nas últimas décadas, essa de dizer que uma empresa é uma família, um time ou uma equipe vive no topo das mais desprezadas pelas pessoas com mais de quinze pontos de QI, mas isso nunca impediu relações públicas antes e claro que não impediria nenhuma das duas: Entre swifties e qualquer que seja o nome dos fãs da Alanis, há essa formação fajuta de comunidade.

Não é de verdade, é marketing: Isso não quer dizer que elas desprezem os fãs, mas nenhuma das duas te ama. É um acordo tácito entre as partes envolvidas: Camisetas grátis e tchauzinho durante os shows por pagar ingresso e dar views, e estaria tudo muito bem se fosse só essa troca de banners, mas não, tem que ter a embalagem não biodegradável de amor e amizade. A ignorância só é uma bênção quando não é voluntária.

Mas na real mesmo, quem se importa? Quer dizer, eu não vou à show e nem compro álbum de nenhuma das duas, e se quem faz está de bem com isso, de que importa? E, como não poderia deixar de ser, Taylor Swift tem sim Alanis Morissette como exemplo, pra olhar pra trás (E pro presente) e notar que, se continuar no mesmo caminho, o futuro não é exatamente promissor… Eu bem que gostaria de dizer que ainda tem tempo para ambas fazerem algo de substância, mas o que falta não é tempo, é vontade.

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