Um dos problemas pessoais que carrego é a incapacidade de entender certas coisas: Baseball, calças rasgadas, mulheres estatística e Clube da Luta. Quero dizer, entendo a coisa toda do maluco ser problemático, de querer apanhar e tudo mais, mas definitivamente não entendo o porquê da galera gostar tanto assim daquele troço, sendo que não faz o menor sentido você criar um clube e se culpar pelas merdas que você faz com o clube, enquanto você come a mulher e não cuida do clube, pra tudo explodir no final.
Vira e mexe o cinema resolve retratar o covarde conflito da raça humana frente a Mãe Natureza, uma questão sempre curiosa e mórbida (já que sabemos quem vence). Os gêneros enquadrados nesta temática, normalmente, se restringem a dois: os filmes catástrofes e o desgate físico/psicológico do Homem, isolado socialmente, tendo que enfrentar as agruras da natureza.
Os filmes catástrofes, já tema nesta coluna, sendo meu guilty pleasure favorito, são, atualmente, um subgênero de blockbusters: muito dinheiro envolvido, elenco reconhecido pelo público, mas o que interessa mesmo é a Mãe Natureza (na forma de meteoros espaciais, tempestades, ondas mortais, vulcões e etc), destruindo tudo que passa na sua frente junto a algum draminha familiar/romântico para nos identificarmos com os personagens que não irão morrer.
Porém, quando as tramas se concentram nos personagens, principalmente no comportamento deles, frente ao isolamento e a dureza de sobreviver ao ambiente selvagem e desconhecido, somos brindados com excelentes filmes como: O Naúfrago (com Tom Hanks e Wilson, você lembra?), O Homem Urso (documentário imperdível, já disponível em dvd) e O Sobrevivente (que, vejam vocês, é dirigido pelo cineasta Werner Herzog, também responsável pelo documentário acima, já disponível em dvd). Herzog, inclusive, é o principal nome deste cinema mais autoral que repetidamente busca em sua filmografia apontar as consequências do confronto Homem vs. Natureza.
No entanto, o filme que me inspirou a escrever a coluna é Na Natureza Selvagem, com direção de Sean Penn, ainda exibido em alguns cinemas e que irá ser lançado em dvd, agora, em Maio. Numa primeira impressão, a trama (no velho esquema baseado em fatos reais) parece ser apenas mais um filme de estrada (road movie), onde Christopher McCandless, um jovem recém-formado, decide viajar pelos Estados Unidos em busca de liberdade e aventura. Durante sua jornada pela Dakota do Sul, Arizona e Califórnia ele conhece pessoas que mudam sua vida, assim como sua presença também modifica as delas. Até que, após 2 anos na estrada, Christopher decide fazer a maior das viagens e partir rumo ao Alasca.
Não sei vocês, mas eu não sabia como a história real terminava (obviamente, imaginava). Assim, esta viagem (física e mental) de Chris para exorcizar seus demônios, principalmente se livrar da hipocrisia e falsidade familiar (neste ponto o roteiro comete pequeno equívoco ao enfatizar com demasia esta questão familiar, como se fosse somente este o motivo da viagem de Chris) retrata, para mim, a busca por uma utopia muito interessante pela ótica de um personagem tão obstinado pela dita L-I-B-E-R-D-A-D-E.
Dos filmes que estavam na corrida do Oscar deste ano, Na Natureza Selvagem me parece ser um dos injustiçados, afinal, este belo filme foi somente indicado nas categorias de ator coadjuvante, para o veterano Hal Holbrook (numa participação emocionante, observem seu olhar), e de montagem. Além disson, a trilha foi composta pelo músico Eddie Vedder, que casa muito bem com o espírito indômito do personagem e do filme.