O Rei de Ferro (Maurice Druon)

Livros quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Esse foi um livro que eu me arrependi de ter comprado cinco minutos depois de ter entregue a grana pra tia da banquinha, na Feira do Livro em 2007. Achei que “repugnante” seria o mínimo xingamento por um livro semi-romanceado baseado na história da França, na época de 1314 a 1328, onde tudo era uma porquice extrema. Mas tudo bem, já tinha pagado e o único remédio era ler.
No início do livro, logo naquelas páginas que contêm prólogo, índice e afins, me deparei com uma frase tocante: “A história é um romance que foi”. Sabe aquela outra clássica “A volta dos que não foram”? Achei ambas da mesma profundidade de significado.
Decidi tocar o barco e continuar lendo, afinal, eu não podia desistir diante de uma frase tosca. Fui reto ao primeiro capítulo e lá dizia: “A Maldição”. Pensei: “agora a coisa tá boa!”.
Nas páginas iniciais do livro, você facilmente identificará que a história do livro começa na Inglaterra, com a rainha Izabel (é com ‘z’ mesmo) sentada na sacada do castelo com uma dama-de-companhia que estava lendo poemas pra ela. Naqueles tempos (e também assim como hoje), bastava ser rico e não necessariamente inteligente ou auto-suficiente na vida. Aliás, “auto-suficiência” não era necessária, já que haviam criados (ou escravos, tudamesmamerda) para fazer tudo que precisasse. A nobreza só precisava existir, respirar, cagar e comer, gerando “empregos” para os menos afortunados.
Depois de algumas páginas relatando o sofrimento inicial da rainha e sua vida em um castelo enorme e frio, eis que então surge seu primo Robert d’Artois, para visitar-lhe e contar-lhe sobre os últimos babados da corte. Ele diz que os outros irmãos da rainha são cornos e que eles precisam jogar essa merda no ventilador. Mas como? Bem, como o priminho não era nada bobo, sugeriu que desse às três cunhadas de Izabel, três algibeiras (um tipo de bolsa que se pendura no cinto).

Entenderam a extensão da viadagem da época?

O plano maquiavélico era que, como elas eram putas generosas, além de darem de graça, iriam entregar as algibeiras como presente para seus amantes e, assim, ficava fácil saber quem eram os ricardões. Em pouco tempo depois, os amantes das cunhadas da rainha apareceram passeando com as bolsinhas penduradas ao cinto, alegres e pimpantes pela França medieval. Bastou uma pequena emboscada para pegá-los e levá-los à uma sessão de tortura em praça pública. Pra quem não entendeu muito bem a extensão da humilhação, os ricardões eram submetidos à instrumentos de “alongamento” que esticavam o corpo até quebrar todos os ossos e que podia ser tanto numa mesa quanto em uma roda. Havia também mutilações e queimaduras, mas isso era apenas o aquecimento para o resto que viria. Quase sempre apareciam uns bandos de feiticeiros que, logo após os corpos serem abandonados pelos algozes e pela multidão, engarrafavam o sangue, cortavam a língua e os colhões dos falecidos para fazer simpatia. Já as punições para as putas pagas cunhadas da rainha foram bem menos cruéis, pois apenas rasparam seus cabelos à zero (como não havia máquinas, foi usada uma lâmina de espada curta) e foram levadas pra um convento, ou algo do tipo. Eu achei bem melhor do que morrer e depois ter o próprio corpo saqueado por um exército de “João-Bidus” medievais.
A Idade Média possuía muitas peculiaridades em sua história que jamais foram relatadas em documentos oficiais, como, por exemplo, que o marido da Izabel, rei Eduardo II (Inglaterra) era fruta. Vivia de chamegos com os pedreiros que reformavam o castelo e, de quebra, dava as jóias da esposa de presente pros caras. Hoje ninguém dá bola pra isso, mas numa época que a moda era ser rude, suado e cheio de cicatrizes, ser uma bicha enrustida era no mínimo motivo de piada pra família dele e de sua esposa.
Além de conflitos amorosos e familiares, o livro conta também a prisão dos templários na França. Alguém aí já ouviu falar de Jacques de Molay? Pois é, esse cara foi pra fogueira com mais uma galera. O curioso é que antes de morrer, ele lança uma praga no rei Felipe que realmente pegou e fez um enorme estrago à corte francesa. E à partir de agora, se eu contar mais alguma coisa, vou acabar contando o final e não quero ser spoiler.
O autor desta maravilha de série se chama Maurice Druon. É francês e nasceu em Paris no ano de 1918 (quase um Matusalém). Depois de pesquisar na Wikipedia, descobri que ele é decano na Academia Francesa de Letras. Se você é extremamente noob e não entendeu, imagine o Dohko de Libra na sua forma “jabuticaba de chapéu amarelo”, que dá pra ter uma idéia.
Depois de chegar ao final do livro eu pude ver que tinha investido bem o dinheiro. Não que ele seja emocionante do início ao fim, mesmo porque a história começa a ficar boa um pouco depois da metade do livro. Pensando numa escala entre 0 e 10, eu diria que esta obra fica com nota 8.

O Rei de Ferro

Le Roi de fer
Ano de Edição: 2003
Autor: Maurice Druon
Número de Páginas: 266
Editora:Bertrand Brasil

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