O Nicho na Catedral

baconfrito segunda-feira, 24 de junho de 2019

Esse texto faz parte de uma série, em que ex-colaboradores e conhecidos retratam sua percepção sobre os 10 anos de Bacon. Nesse caso, o último um dos últimos funcionários.

Dez anos… Estranho.

O Bacon Frito tinha pouco mais de nove meses quando eu entrei aqui. Naquela época era uma bagunça entre o Ato Ou Efeito e as suas crias, até que só sobrou duas: O Bacon e o Sake Com Sal. O AOE morreu, o SCS morreu e o Bacon já ficou bem perto, bem perto mesmo, de morrer também, e olha que eu nem sou a melhor pessoa pra falar sobre isso.

Quando eu entrei, a galera que tava aqui era velha de casa e das internets. Novos entraram junto comigo, outros após… Aos poucos eles saíram. Alguns foram tirados. Boa parte simplesmente sumiu. Era outra internet.

Já tem um tempinho que o Pizurk me perguntou se eu ainda tinha o contato de alguém que escreveu pro site, muito infrutiferamente inclusive, mas pelas graças da tecnologia ainda deu pra contatar alguns, e eles toparam escrever novamente pro Bacon: Como dá pra notar pelos textos deles, esse bagulho aqui funciona, tanto literal quando empiricamente, por conta do Pizurk. Posso estar errado, mas creio que essa seja graça de manter o Bacon pra ele: Conhecer gente, ter contato. Também, acho, seja por isso que o Bacon ainda não morreu: Dá a chance de manter ativa uma vida virtual – uma produtiva, que te mostre coisas novas e te mantenha incluso no mundo – que vá além de adicionar gente em redes sociais e compartilhar memes. Uma que te permita criar conteúdo simplesmente porque sim. De novo, eu posso estar errado.

É por isso que, pra mim, é estranho fazer este texto. Pra mim hoje é uma madrugada de sábado, escrevi Jogaí… É um dia qualquer, de uma semana normal. Ainda tem textos meus em rascunho e PR. Semana que vem terei de fazer mais, repetindo todo o processo: Não é um revival é… Rotina.

Assim como todo mundo que já participou deste site, eu escolhi estar aqui. Também como todo mundo, muita coisa mesmo mudou na minha vida neste tempo todo… Exceto o Bacon.

Não… Não é verdade.

O Bacon mudou bastante. Tá, o layout mudou pouco e ainda é o WordPress, mas acho que só… O Bacon de dez anos atrás era um spin-off; hoje e já há muito tempo o Bacon é o Bacon, próprio, pessoal. E é pessoal porque, aos poucos, cada um de nós pôde contribuir pra isso. Porque dá pra traçar parte das nossas histórias lendo os nossos textos. Isso é… Arcaico?

São poucos os sites como o Bacon ainda restantes. A gente esconde a intimidade nesta fachada de cultura pop. A real é que eu não ligo. Escrever pro Bacon é escrever pro Bacon, não sobre cinema, quadrinhos, TV. Eu ainda gosto de ver, ler e jogar essas coisas todas, e de falar sobre, mas poderia muito bem fazer isso em qualquer rede social ou grupo do Whatsapp (E faço, inclusive). As page views, os visitantes diários, os comentários importam pra mim tanto quanto as séries, livros e jogos: Nada. Não é por causa disso que eu continuo aqui… Acho que não importa pra nenhum de nós… Acho.

Se você está lendo isto aqui e nunca foi do Bacon, não leve a mal. É gostoso ter leitores, é divertido ver leitor aparecer por aqui de vez em quando, comentando alguma coisa, reclamando. A gente conhece vocês por nome, por avatar, por estilo de escrita… Mesmo que seja só um pouquinho. Mas seria mentira dizer que eu pararia se vocês não estivessem aqui.

O Bacon de hoje é diferente do que há dez anos primordialmente porque há dez anos a gente daqui de dentro se entendia menos, se conhecia menos. É diferente porque hoje temos uma maturidade de entender de cultura pop totalmente diferente. É diferente porque há dez anos todos éramos muito velhos e sabidos sem ninguém ter mais de vinte. É diferente porque hoje fazer o Bacon é a finalidade.

Eu não sei quanto tempo isso vai durar. Eu não sei o que vai mudar nesse processo. Eu não sei se terá texto de 20 anos. Eu não sabia que teria de dez.

O Bacon ficou velho. Tá tudo bem.

Já passou muita gente por aqui. Vocês fizeram isto. O Bacon é o que é hoje porque cada um fez uma parte, cada um contou um pouco de sua vida através de textos sobre séries idiotas, filmes ruins, jogos quebrados, livros chatos e, eventualmente, coisa muito, muito boa mesmo. E não estou falando por falar, eu já li este site inteiro. Este é o motivo pelo qual, pra mim, é tão difícil pensar no Bacon de dez anos atrás, porque é tão difícil lembrar de como as coisas eram: O Bacon que eu gosto, que eu realmente gosto, é bem mais recente. E ele não existira sem todas as pessoas que passaram por aqui. Não estou falando pelo site, nem pelo Pizurk, tô falando por mim mesmo: Com texto bom e texto ruim, o site que eu gosto é culpa de vocês.

Os dez anos do Bacon, pra mim, são as muitas, muitas hora que eu passei conversando com vocês, trocando memes com vocês, reclamando de vocês com vocês. São as milhares de revisões e edições em tantos textos, agendamentos perdidos, links quebrados e plugins conflitantes. São todas as vezes que entrei no site e me supreendi por um leitor velho dar as caras em sua visita semestral. E são, mais que tudo, a representação de que, no fim das contas, mais importa o que nós fazemos por nós mesmos e com outras pessoas, do que os resultados e o impacto.

Os dez anos do Bacon Frito são uma pequena parcela da vida de muita gente, entre leitores e autores. Eu não sei onde a maioria está, o que está fazendo, como está de vida. Provavelmente nunca saberei. Não sei se importa, mas se importa aí está: Tem quem lembre, e ainda dá pra conhecer um pouqinho de vocês através do Bacon.

Não sei como será o Bacon no futuro, tanto quanto não sei o que o Bacon será pra mim no futuro. Sei que, há dez anos, era mais um. Sei que há uns anos foi parte formativa em quem eu sou. E sei que hoje, é grande parte do que dá sentido à internet pra mim. Obrigado à todos vocês por fazerem parte disso.

Loney tá ficando velho, e com isso mais ranzinza ainda. Se é que é possível.

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