O maldito escurinho do cinema

Cinema segunda-feira, 07 de maio de 2012

Quando os irmãos Lumière deram os primeiros passos para o que viria a se tornar o cinema, eles não desconfiavam o que estavam desencadeando. Tampouco imaginavam salas escuras com vários casais namorando, drive-ins com mãos bobas, Rita Lee cantando “no escurinho do cinema” ou Sandy e Júnior cantarolando “splish splash, fez o beijo que eu dei nela dentro do cinema”. Isso tudo porque em algum momento – que provavelmente não foi durante um La Sortie de l’usine Lumière à Lyon ou L’Arrivée d’un train en gare de la Ciotat – alguém pensou “Hey… Esse escuro… Esse clima…. Talvez seja uma boa ideia catar alguém aqui”. O ser em questão não sabia, mas ele estava criando um novo comportamento na sociedade. A partir daquele momento, o cinema virou um local de namoro e casais, e o famoso escurinho do cinema protagonizou vários beijos apaixonados e pegações longe dos olhares paternos. Porém, o que ninguém imaginava, é que esse comportamento viria a condenar milhares de amantes do cinema – ou nem tanto – quando a seguinte situação surgisse: Dois amigos indo ao cinema juntos.

Eu sempre tive uma visão simples sobre o cinema: É um local para se ver filmes. Mais do que isso é bobagem, até porque, duas entradas para uma sessão custam uns 30 dinheiros, e com esse dinheiro você consegue um motel, o que te dá bem mais liberdade que o cinema. Claro que eu entendo toda a “magia” do cinema e do ambiente em questão, assim como a paquera e a “prospecção” que o local proporciona, mas o principal do cinema é o que ocorre nas telas, e não fora dela. Deveria ser normal ir ao cinema acompanhado de um amigo(a) – ou até mesmo sozinho – e isso não gerar nenhum tipo de comentário ou pensamento, mas não é bem isso o que acontece. O que acontece é o seguinte: Se você vai com uma amiga, vocês são um casal; se você vai com um amigo, vocês são um casal; se você vai sozinho, você é um tarado solitário.

 Na dúvida, leva o cachorro.

Das três situações acima, eu considero a primeira como “a menos pior”. Você vai ao cinema com uma colega e irão pensar que é um casal, ok, tudo bem. Numa dessas ela é gostosinha e talvez todos pensem que você está pontuando nela [Crianças, pontuar não é um termo legal, respeitem as mulheres]. O problema é quando você convida uma amiga para ver um filme e ela, pelo contexto histórico do cinema, deduz que você quer pontuar nela. Lá se vão depilações, alisamentos, maquiagens, perfumes e roupas a toa. Ela vai ao cinema pensando “É hoje que esse homem me come”, e você vai se questionando “será que tem peitinhos e explosões?”. Esse conflito de objetivos se transformará em uma desagradável experiência. Ela passará o filme todo achando que todas as suas ações são tentativas de iniciar um contato físico. Nunca deixe a pipoca no colo dela, toda vez que você tentar pegar será como uma falsa esperança para a pobre moça; e caso você se assuste com algo do filme, nunca procure o braço ou qualquer parte do corpo dela. No fim ela sairá decepcionada e contará para todas as suas amigas que você é um frouxo. Não a culpe, ela é só mais uma vítima dessa pressão que fazem em torno do cinema. Para evitar coisas assim, estabeleça objetivos e metas com a amiga que você convidar.

 Novinha louca pra dá e o cara concentrado no filme. Classic.

Em segundo, temos o tarado solitário. Ir ao cinema sozinho irá resultar em vários julgamentos. Primeiro, esteja ciente que todos irão olhar para você. Entrar no cinema e ver alguém sozinho em uma poltrona passa uma sensação desconfortante. Todos irão ficar com pena e em seguida pensar “esse cara é tarado”. Se você for gordo é pior, pois ai você será o gordinho tarado. Evite calças de moletom, pois elas passam a mensagem “irei me masturbar com a mão no bolso assim que as luzes apagarem”. Outra coisa sobre ir sozinho é que todo lugar que você olhar irá criar um clima de desconfiança. Se você olha para uma garota que está na outra fila, todos irão achar que você está tarando ela. Se você olhar rapidamente para o rapaz que entrou no cinema, todos irão achar que você está tarando ele. Se você olhar pro protagonista do filme, o lanterninha do cinema irá mandar você parar de tarar o filme. Por isso, evite filmes infantis, pois você não poderá olhar para nenhuma criança. Eu sei que filmes infantis são legais e que as animações são divertidas, mas deixe para ver isso em casa. Ir sozinho em um filme infantil é ser o pedófilo tarado solitário. Triple combo.

 Certeza que esse cara tá com a mão no saco.

Enfim, temos a pior combinação para ir ao cinema: Ir com um amigo. Tudo já começa errado desde o começo [Nota do editor: Redundância do caralho], pois só de convidar um amigo para ver um filme – mesmo que seja o mais explosivo possível – já cria um desconforto. Mas sempre há aqueles amigos que entendem o cinema e o filme e pensam coisas como “hey cara, vamos lá. Vamos ao cinema juntos. Depois iremos discutir o filme e fazer análises das melhores cenas. Também iremos tomar cervejas e pegar algumas ninfetas e trepar loucamente como se não houvesse amanhã. Qual o problema de irmos no cinema? Somos dois heterossexuais bem resolvidos e podemos ir juntos. Deveríamos ser exemplos para toda a sociedade”. Maravilha, você imagina que nada poderá dar errado nesse plano. Só que não. Ao comprar os ingressos você já é recebido com aquele olhar “há, boiolas”, e já começa um conflito: Pegar cadeiras juntas ou não? Não é tão simples responder isso. Pegar cadeira uma do lado da outra parece um atestado de boiolice, mas pegar cadeiras separadas é mais gay ainda. Deixar uma cadeira de distancia entre você e seu amigo faz com que a moça do ingresso pense “esses boiolas tão tentando disfarçar alguma coisa”. Pega a cadeira junto mesmo, se tá na merda, mergulha de cabeça né?

 Hmmmmm…

Passado o desafio dos ingressos, é hora de curtir o filme. Por favor, não seja estúpido a ponto de dividir pipoca com o seu amigo. Ou é uma para cada um ou nada. Nunca pegue pipoca no colo dele e tampouco deixe ele pegar pipoca do seu colo. Vocês já são gays de irem juntos, a pipoca irá piorar tudo. Quando o filme começar, nunca faça comentários sobre o filme ou algo que está acontecendo no cinema. O som do cinema é alto, isso quer dizer que você terá que aproximar sua boca da orelha do seu amigo e ele terá que inclinar a cabeça. Acredite, isso é mais gay que ser encontrado em uma banheira com 10 homens pelados. Você até pode estar dizendo para o seu amigo coisas como “olha lá, tem duas lésbicas transando na fila da frente”, mas quem vê de longe estará fazendo uma leitura labial de coisas como “eu te amo e quero dar para você”. Evite diálogos, isso o manterá hetero. E por favor, todo mundo sabe que ficar umas 2 horas no cinema dá vontade de ir ao banheiro, mas ao terminar a sessão não vire para o seu amigo e diga “preciso ir ao banheiro”. Apenas vá. Sério.

Terminando o filme, independente da companhia – ou falta de – saia o mais rápido possível desse ambiente. Você não vai querer ficar por lá. Essa sala escura e as pessoas que a habitam esperam casais, beijos e um romantismo que já foi perdido há anos. O cinema e sua atmosfera criam tanta expectativa que é até difícil se sentir bem lá dentro se você não tem um(a) namorado(a). Se você vai com sua amiga cria-se aquele clima e tensão de casal. Se você vai sozinho você realmente começa a se sentir um tarado solitário. E por último, se você vai acompanhado de um amigo, você fica tão desconfiado do ambiente que acaba tentando falar para o mundo de 10 em 10 minutos que não é gay, e no fim, aquele discurso de análise do filme acaba virando uma discussão de poucos minutos sobre alguma gostosa que apareceu nas telas. Aquela cerveja e a trepada prometida viram uma Pepsi e uma punheta no Redtube, mas, por favor, que essa ultima seja feita separada, de momentos constrangedores com um amigo já basta o cinema.

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