O Leitor (The Reader)

Cinema quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

 Quando sugeri ao nosso estagiário-editor-chefe-morador-de-rua, vulgo Pizurk, cobrir lançamentos de filmes, não esperava, logo de cara, cobrir um filme como O Leitor, com Kate Winslet e Ralph Fiennes.

O filme, além de ser bom, é candidato ao Oscar e tem uma puta história, talvez o único ‘porém’ seja resenhá-lo com a linguagem do AoE, que carrega pelo teor cômico, por conta da história ser meio pesada.

Mas chega de papo, estamos na Alemanha, aparentemente no fim da década de 80 para início de 90, e somos apresentados a um homem de classe média alta, na casa dos 40 anos, divorciado e com uma filha.

Conforme esse homem é mostrado, vemos que ele é meio amargurado e que, certamente, esconde alguma coisa. Até o momento em que ele olha dentro de um trem e vê um garoto.

Agora estamos no início da década de 50, ainda na Alemanha, com o país se reconstruindo das brincadeiras que Adolfo aprontou anos antes. O nome do garoto no bonde – eu sei que era trem, mas voltamos no tempo, lembra? – é Michael Berg, ele aparenta ter 15 anos e sua cara não é das melhores. Ele desce do bonde, anda alguns metros, pára num beco e chama o Raúl, o Hugo e até o Ralph. A cena é meio forte, pois o esperto tentou segurar o vômito, com o dito cujo escapando por seus dedos e voando para tudo quanto é lado.

Mas e o Rudolph?

De repente aparece uma mulher que, mais incomodada com a sujeira que ele fez do que com ele próprio, o ajuda, limpando seu eu interior e lavando a entrada do lugar que Michael sujou.

Eles se despedem e o moleque segue seu caminho até em casa, onde, depois da visita do médico, é obrigado a ficar de molho alguns meses.

Passado algum tempo, um pouco melhor, ele resolve visitar a mulher para agradecer pela ajuda. Ele retorna ao local e a espera chegar, segurando um ramalhete de flores. Quando ela chega, ele entrega as flores, sem muito jeito e sem uma resposta muito agradável e fica reparando em seu apartamento, um cubículo com dois cômodos, uma cozinha com a banheira e um quarto.

Nesse momento, ela o manda esperar lá fora, pois vai se trocar. Michael espera, mas, com um pouco de medo, resolve dar uma espiada. Ele é recompensado com as tufas e os tufos da boa e velha Kate colocando uma cinta-liga. Claro que o alemãozinho é flagrado e ele, numa situação de homem, sai correndo em disparada.

No dia seguinte, meio arrependido por sua atitude de macho, retorna ao local. Ela o encontra e o manda buscar dois baldes de carvão no porão do lugar. Como ele é burro para caramba, se suja todo, e ela manda o tanga tomar um banho, senão ia se lascar em casa chegando sujo daquele jeito.

Acanhado, ele vai se despindo e acaba curtindo o banho. Quando ela retorna com a toalha, tapando sua visão, temos, mais uma vez, Kate Winslet como veio ao mundo, dando um susto no moleque e o intimando, falando que ele só voltou para lá para aquilo.

Tira! Tira! Tira!

Paro um pouco de falar sobre o filme para dizer que apesar da Kate já estar um pouco velha e com as tufas meio caídas, ainda dá um bom caldo, afinal só se passaram 10 anos desde que vimos ela sendo pintada no Titanic pelo Jack – que o fundo do mar o tenha. E, sim, tenho certeza que os leitores machos de plantão deste site queriam, em seus 15 anos, uma Kate Winslet para dar um trato em seus corpos tocados apenas por si mesmos. Infelizmente só o Jão e o Junnin podem ter chance parecida, mas do jeito que são, eu duvido que a sorte sorria para eles.

Voltando o filme, vemos Kate dando um trato no moleque. Claro que depois dessa, ele não ia mais parar de visitá-la. Sua janta com a família é com um sorriso de orelha a orelha, embora tenha que inventar desculpas para dizer por onde anda, já que ainda estava em licença médica.

Só lá pelo terceiro encontro que ele pergunta o nome dela, mesmo relutante ela diz que se chama Hanna Montana Schmitz.

Hanna aparenta ter 35 anos, trabalha como bilheteira nos bondes daquela região da Alemanha e é isso que Michael, o qual ela chama de ‘Menino’, tem que saber.

Durante esses encontros, Michael pede à família para retornar para a escola – mais para facilitar suas desculpas para encontrar com Hanna, do que para estudar de fato – sendo atendido, com uma certa desconfiança de sua mãe e irmã, por seu pai. Aí foi só alegria, toda saída de escola, lá ia Michael dar uma encontrar com Hanna.

Até que um dia ela o indaga sobre o que estuda na escola, perguntando se ele lia muitos livros. Diante da resposta afirmativa, como toda boa mulher que você arruma um compromisso meio sério, ela coloca uma barreira para o sexo: ele teria que ler um livro para ela antes do coito.

“É agora que a gente trepa?”

Ok, é difícil imaginar isso nos dias de hoje. Já pensou ler O Senhor dos Anéis para aquela gata antes de ir para os finalmentes? Ou ler Harry Potter? É, não dá.

Mas Michael lia. Desde Homero, Goethe, até Tintim. Lia de tudo para ela, que depois o recompensava com uma boa tarde de sexo.

Apesar de rolar alguns estresses entre eles, a coisa vai fluindo bem e eles, inclusive, saem juntos, com Hanna sendo confundida, muitas vezes, como sendo sua mãe.

Até que chega um dia e Hanna simplesmente desaparece, indo embora de mala e cuia e largando o pobre Michael na mão.

Passados oito anos, Michael Berg é um estudante de direito, que carrega uma mágoa no coração. Ele está em um grupo de estudantes que vai ver um julgamento de guerra, onde algumas mulheres, integrantes da SS Nazista, uma das polícias mais aterrorizantes do regime de Hitler, são acusadas de diversos crimes, inclusive de deixar 300 judeus queimarem dentro de uma igreja com as portas trancadas.

Michael vê que uma das acusadas é Hanna, a mulher que lhe mostrou o que é o amor e também a decepção.

Você é acusada de ser uma aeromoça!

É nesse momento que o filme dá sua reviravolta. Até o momento de Hanna abandonar Michael, estava mais para um pornô soft do que para um filme de drama/romance. E é aí que o bicho pega.

Falar mais pode até entregar alguns spoilers, ainda mais que essa crítica já está gigantesca, mas o que posso afirmar é que nesse momento o filme mostra a que veio, te prendendo na cadeira e te fazendo se revoltar a cada cena.

O Leitor é um filme de revolta e indignação. A cada momento você se revolta com algum fato novo, seja com Michael, seus colegas de faculdade, Hanna, suas ex-companheiras de SS, enfim, tem que ter tato e se entregar a esse sentimento tão comum em nossa vida, mas também tão repudiado por nós mesmos.

Kate Winslet deve levar o Oscar, talvez mais pelo conjunto da obra do que por sua atuação, que realmente é boa. Ralph Fiennes, como Michael adulto, está meio Keanu Reeves em sua atuação, enquanto o alemãozinho (David Cross) que faz o Michael jovem arrebenta, assim como seu professor (Bruno Ganz), que, coincidentemente, fez Adolf Hitler no espetacular A Queda.

Filme nota 9, mas não é para qualquer espectador.

O Leitor

The Reader (124 minutos – Drama)
Lançamento: Alemanha, EUA, 2008
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare e Bernhard Schlink
Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross, Bruno Ganz, Jeanette Hain, Susanne Lothar, Alissa Wilms, Florian Bartholomäi, Friederike Becht, Matthias Habich, Frieder Venus.

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