O Caso Richard Jewell (Richard Jewell)

Cinema quinta-feira, 02 de janeiro de 2020

 “Há uma bomba no Centennial Park. Vocês têm trinta minutos”. O mundo é apresentado a Richard Jewell pela primeira vez como o guarda de segurança que relata ter encontrado uma bomba no atentado de 1996 em Atlanta – o fato o tornou um herói cujas ações rápidas salvaram inúmeras vidas. Mas em poucos dias, o aspirante a agente da lei se torna o suspeito número um do FBI, difamado pela imprensa e pelo público, tendo sua vida destruída. Chegando ao advogado independente e antissistema Watson Bryant, Jewell firmemente professa sua inocência. Bryant, porém, descobre que lutar contra os poderes combinados do FBI, GBI (The Georgia Bureau of Investigation) e APD (Atlanta Police Department) para limpar o nome de seu cliente, enquanto impede Richard de confiar nas pessoas que tentam destruí-lo, está além de suas habilidades.

Se você nunca viu um filme dirigido pelo Clint Eastwood e liga pra essas coisas, eu não recomendo começar por aqui. Vai ver Os Imperdoáveis, que pra quem gosta de faroeste, é um prato cheio. Mas O Caso Richard Jewell é uma ode do diretor aos heróis não reconhecidos, como é o caso de Richard Jewell [Trocadilho intencional], que foi tirado pra bode espiatório pelo FBI e pela imprensa pro caso da bomba do Centennial Olympic Park. Mas graças ao advogado Watson Bryant, ele conseguiu provar sua inocência. Ou ao menos que não existia prova contra ele.

Claro que, sendo um filme, um lado tem de ser tomado, e obviamente é o lado de Richard Jewell. Tudo que o FBI e a mídia fazem, no filme, é pra foder com Richard, enquanto ele é visto como uma pessoa bonachona, que comete erros mas nunca fez nada de errado. Se você prestar atenção, ele fez várias merdas, como não pagar impostos, e ter sido preso por fingir ser um policial. Enquanto isso, a jornalista Kathy Scruggs [Falecida em 2001], que fez a primeira matéria sobre Richard ser um suspeito, o que não era mentira, é posta como o diabo encarnado, num maniqueismo simplista: O mocinho é puro e ingênuo, e quem está contra ele são vilões. Na vida real, não é bem assim. Chega a ser irônico que num filme falando de assassinato de reputação, você vá na direção de… Assassinato de reputação. Mas a realidade nem sempre tem o impacto dramático necessário para um filme.

 “Tão falando que eu dormi com QUEM?”

O que não quer dizer que o filme não seja bom, ele é. No quesito “olha só como um homem comum pode ser cheio de sinais que são virtudes ou sinais de alerta, dependendo do observador”, mostra perfeitamente como, para o diretor, Richard Jewell é um homem comum, que faz o que tem de ser feito, e é penalizado por isso. Ele inicialmente é mostrado como correto e cumpridor da lei e das regras, mesmo quando isso vai ser um incômodo pra ele. Mais tarde, entretanto, é citado abuso de autoridade, sonegação de impostos e o fato de que ele fingiu ser um policial, o que mostra que ele pode não ser tão correto quanto parece. Ou, se você não tem problema com esses crimes, que ele é um ser humano como eu ou você.

 “Ninguém pode entrar na área VIP.”

Além de mostrar a trajetória de Richard Jewell, o filme mostra como surgiu e o que virou a amizade dele com Watson Bryant, advogado que ele conheceu num trabalho 10 anos atrás. Inicialmente convidado apenas a dar uma olhada num contrato de direitos de imagem pra um livro, ele acabou se envolvendo num caso de ausência de presunção de inocência por algumas pessoas, o que é perfeito pra um advogado com problemas sérios em relação à hierarquia e autoridades. A antítese de Bryant, no filme, é o personagem Tom Shaw, um agente do FBI presente na cena do crime, que não existe na vida real, sendo provavelmente uma amálgama de vários agentes do FBI. Tratado claramente como vilão, é ele quem vaza a história de Richard pra imprensa, além de ser um cuzão de marca maior. Mas em qualquer outro filme, ele seria um herói americano fazendo o que é necessário contra os bandidos do mal.

De novo: É um filme com roteiro sólido, cronologia linear bem-construída e clara, com atuações convincentes. Mas algumas direções do roteiro, pra mim, foram infelizes pela forma de construção, ou pela execução. Eu torço que não seja de propósito, que se for é mau-caratismo, mesmo.

O Caso Richard Jewell

Richard Jewell (131 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2019
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Billy Ray, baseado no artigo de Marie Brenner
Elenco: Paul Walter Hauser, Jon Hamm, Sam Rockwell, Kathy Bates e Olivia Wilde

Leia mais em: , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito