Kill Bill – Vol. 2

Cinema quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pois bem tangas, depois de apresentá-los à primeira parte de Kill Bill, o Vol. 1, aqui estamos nós para conhecermos o desfecho da história da Noiva. Muita gente (Mesmo) criticou Tarantino quando viu o filme dividido em duas partes, acreditando ser estratégia para margem de lucros maiores – o que obviamente aconteceu, afinal, dois filmes, duas bilheterias, dois DVDs, blá blá blá. Sinceramente, eu não sou contra esse tipo de coisa. Se tudo for bem feito e não sacanear o expectador, eu acho super válido esperar pelo próximo filme. Bom, eu gosto da emoção, vai entender… De qualquer forma, para o projeto Kill Bill não seria vantajoso o lançamento num único filme. A saga da Noiva contava com aproximadamente 4 horas de duração, o que levaria à possíveis cortes, queda da qualidade e pontas soltas no enredo. Graças a Deus, Tarantino desde o começo pensou em dividir seus filmes de forma coerente (subdividindo-os ainda em capítulos dentro do longa) e claramente diferente do Volume 1 (cheio de lutas, sangue e mortes), Kill Bill – Volume 2 é a parte explicativa. Aqui, o titio Tarantela dá uma aula de como fazer um bom enredo ficar ainda mais sensacional. E o gancho entre as duas partes está na última frase do primeiro filme, na inconfundível voz de Bill, tão boa que não há quem resista a assistir o Volume 2:

Só mais uma coisa, Sofie. Ela sabe que sua filha continua viva?

Sim, a Noiva estava grávida quando Bill tentou matá-la. E ela não sabe que o fidaputa crápula secretamente criou a filha dos dois ao longo dos anos. E logo no começo desse segundo filme, o relacionamento entre Bill e Beatrix Kiddo (finalmente é revelado o verdadeiro nome da Noiva) fica mais claro ao expectador. Até mesmo a motivação de Bill ao tentar matá-la é aos poucos construída (depois mulher que é rancorosa). Maas, até descobrir fatidicamente a verdade, a Noiva vai acertar as contas com mais dois ex-colegas da listinha negra: Budd e Elle Driver. Budd, no entanto, consegue armar para cima da loira, culminando nas cenas onde a Noiva é enterrada viva. E do claustrofóbico caixão, somos mandados para um passado de Beatrix, (onde ela e Bill ainda são íntimos), exatamente para um ponto crucial da história: o treinamento intensivo com Pai Mei, mestre Miyagi do fung fu e um dos melhores personagens da história. No começo, ela leva um pau absurdo do velho, se fode bagarai e é obrigada a engolir os insultos. Só depois de muita paciência e tempo é que Beatrix se transforma numa assassina mortal e aprende as técnicas que usa durante toda a sua jornada.

 Miyagi WHO?

Como tinha dito semana passada, esse Volume 2 é ainda melhor que o Volume 1, e se deve basicamente ao fato de que aqui o foco são as relações entre os personagens. Se antes tínhamos a sensação de que a Noiva era uma mulher fria e calculista, aqui a coisa muda de figura. Todos os piores e melhores momentos são explorados à fundo, desde o aprendizado com Pai Mei, o teste de gravidez à incrível conversa final com Bill. Todas as conexões e porquês que faltavam respostas estão aqui e muito bem feitas! Enquanto o filme um se ateve à parte sangrenta e tortuosa pela qual Beatrix Kiddo teve que passar, o filme dois conta como a guerra se armou e como ela vai realizar o único fim que idealizou: matar Bill. Sem contar que a cena de luta entre A Noiva e Elle Driver é uma das melhores sequências de briga de mulher que eu já vi, Daryl Hannah chutou a bunda da Lucy Liu com sua atuação.

Sobre a parte técnica, é a constante reafirmação do estilo Tarantino de fazer cinema. A história vai e volta no tempo, as músicas são diversificadas sem necessariamente fazer sentido, e as muitas referências que eu já citei antes (incluindo detalhes de seus filmes anteriores) se mesclam novamente. Na cena da igreja, por exemplo, Samuel L. Jackson faz o pianista, o que em algumas especulações seria um desdobramento, uma outra vida do personagem Jules Winnfield de Pulp Fiction. Destaque, sem dúvidas, para a cena do caixão onde é possível escutar a terra caindo enquanto a noiva é enterrada, extrema sensação de realidade e uma senhora atuação de Uma Thurman (aliás, eu preciso continuar babando ovo pra ela nesse filme?). O clima da segunda parte é mais leve e isso influenciou até mesmo na caracterização da Noiva (ou seja, tchau uniforme amarelo!), é freqüente vê-la com vestidos, saias e roupas menos estruturadas.

Pra mim, Tarantino fez uma homenagem ao cinema, a si mesmo e à sua musa Uma Thurman com Kill Bill. A cena onde Beatrix Kiddo chora após sua vitória é de um simbolismo sem tamanho e nos faz amar ainda mais aquela assassina. Na vida real, Uma Thurman acabava de se tornar mãe pela primeira vez, o que garantiu uma atuação de tirar o fôlego. Kill Bill teve uma primeira parte forte o suficiente para mostrar o lado terrível de uma mulher que deseja vingança e logo depois, trouxe todas as fragilidades daquela mulher. Em entrevista, Tarantino confessou a vontade de continuar com Kill Bill, dessa vez trazendo a história da pequena Nikki Bell que seria criada pela francesa Sofie Fatale e buscaria a vingança pela morte da mãe (Vernita Green), assassinada pela Noiva em Kill Bill – Vol. I (acabei de consultar o IMDB, e parece que Kill Bill – Vol. 3 já foi anunciado mesmo, para 2014). De muitos filmes que já assisti, sem dúvidas esse é onde tudo está perfeitamente em equilíbrio, o que surpreende tendo em vista o conjunto de aspectos tão diferentes num mesmo longa. Quentin Tarantino acerta no tempero de tudo, mostra como é fazer cinema, se diverte e ao mesmo tempo diverte o espectador como poucos. E só consigo finalizar pensando numa frase: obrigada pelo passeio, Quentin!

Kill Bill – Vol. 2

Kill Bill: Vol. 2 (136 minutos – Ação)
Lançamento: EUA/Japão, 2004
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco: Uma Thurman, Lucy Liu, Vivica A. Fox, Daryl Hannah, David Carradine, Michael Madsen e Sonny Tiba.

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