Índio quer apito, se não der…

Televisão segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Eis que fui deliberada, intencional e propositadamente assaltado, furtado, roubado e saqueado. Passaram até a mão na minha bunda. Ou isso foi com o Manuel…? Foda-se, nenhum dos dois comeu ninguém ainda. Mas como malandro é malandro, mané é mané e eu estou cheio de grancinha hoje, falemos sobre Carnaval.

 Do tempo em que pierrot e colombina namoravam na sala da casa.

Pois então, o Carnaval foi há uns dias e pela primeira vez eu não assisti os desfiles, vi fotos, ouvi samba-enrredos e nem nada disso. Em suma, toquei o foda-se para o Carnaval como um bom – dizem alguns – hipster que sou. Não pelo Carnaval em si, eu ainda gosto dos desfiles e das músicas, mas como eu me nego a assistir a transmissão da Globo e nenhum outro canal o faz de forma minimamente digna, fiquei sem.

Hoje, portanto, estava pensando acerca das marchinhas, das fantasias e alegorias de antigamente. Quero dizer, eu não era vivo em 1962 ou qualquer coisa por aí, mas não precisa ser tão inteligente para saber que muita coisa mudou desde a saudosa época dos nossos pais e avós. Contamos mais com a tecnologia, a música sofreu grandes mudanças, o Carnaval, como festa, cresceu… Enfim, o que já foi uma festa do Brasil, aquele país que fala espanhol, atualmente é uma das maiores celebrações populares, famosa no mundo todo.

Deixemos de lado todo aquele debate de que “o Carnaval hoje nada mais é que uma putaria generalizada, uma desculpa para as pessoas fazerem merda, um rombo em cofres públicos e uma demonstração da falta de moral e inteligência por parte do povão”. Quero dizer, ok, o Carnaval está cada mais parecido com uma orgia romana ou essa é a parada gay?, mas isso fica para outro post.

Peguemos, como exemplo, o samba enredo de 1956 da Mangueira, O Grande Presidente. Saquem só a letra, véis:

Lindo, não? Simbólico, representativista isso existe?… Como diz a própria letra, “idealista e realizador”. Agora peguemos o samba-enredo de 2013, “Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América“:

Diferente, não? Como dito, muita coisa mudou: Em 1956, Juscelino era presidente, a Segunda Guerra (Em cenário mundial) ainda era muito próxima, o país passava por uma boa fase, costumes e tradições tinham mais força… Obviamente, “eram outros tempos”. Cada Carnaval, cada samba-enredo, reflete o seu tempo… De um determinado ponto de vista… Ou deveria. Quero dizer… Bem, foda-se Cuiabá, e os índios Guarani Kuat ou qualquer que seja o nome deles.

Não estou dizendo que um samba-enredo é melhor que o outro, só que tem focos diferentes, e para mim, nos últimos anos, o Carnaval tem refletido mais o “sentimento comum” que antigamente. Sim, eu sei que muita gente gostava de Vargas, mas ainda era uma opinião, um posicionamento, da Escola. Hoje me parece muito mais uma omissão: O comum, não por ser comum, mas por ser mais fácil.

 Criança curte mesmo é o old style, né não, Jo?

Falando agora sobre alegorias, os carros alegóricos começaram de fato como carros. Sim, quatro rodas, volante e aquela buzina com som esquisito. Eles eram enfeitados e um monte de gente subia neles, para percorrer a cidade, festejando… Tipo hoje, mas eram Fords conversíveis, carroças e caminhões e não Golfs com porta-malas abertos. Seja como for, “sempre” os tivemos: Em formatos diferentes, com enfeites diferentes, de tamanhos diferentes, mas de um jeito ou de outro, eles estavam lá. Mas vejamos as fantasias:

 Em 1967.

E em 2013, por cortesia de Andressa Urach quem? e da Tom Maior ou não:

Quero dizer, eu sei que o Carnaval é sobre “calor humano e sensualidade” e que há jeitos melhores de mostrar os peitos (E praticamente todo o resto), mas sejamos sinceros: Não há fantasia aí. Sério, já vi filmes pornôs e festas open bar com gente mais vestida que isso.

Não é a questão do mostrar (Ou talvez até seja), afinal, há muito tempo usa-se o nudismo no Carnaval, mas aí já é abuso: É só exibição, não há mais fantasia, não há mais “motivo” para a nudez. Há a pintura corporal, que é nudez e fantasia ao mesmo tempo, e já é algo clássico no Carnaval, e é uma boa opção. Uma fantasia mais requintada pode, facilmente, mostrar e esconder (Tanto em homens quanto mulheres), de acordo com a opção do carnavalesco e a adequação ao resto das alegorias. Dois panos de prato e uma tiara de papel-alumínio não contam. Sério.

Muita coisa mudou, seja em relação ao começo e a atualidade ou até mesmo de quando eu comecei a acompanhar o Carnaval até agora. Sim, as coisas eram diferentes, algumas continuam, outras acabaram. Não é saudosismo, nostalgia ou hipsterismo (Tou que tou hoje), mas eu sinto falta do engajamento e da opinião das escolas. Sinto falta de um desfile com finalidade, com planejamento. Sinto falta de “gente da comunidade” representando suas escolas, ao invés de celebridades (Ou sub-celebridades) contratados para isso.

Como eu disse, eu ainda gosto do Carnaval. Mesmo com os acidentes, as brigas, a depredação, a sujeira, a putaria e a distorção de “tudo que há de bom e puro”. De verdade, eu e mais muita gente relevam tudo isso, ano após ano, para ir ver os desfiles, cantar os samba-enredos e se divertir. E sim, ver peitos é legal, mas seria muito melhor se fossem usados como ferramenta, a boa e velha “vontade de chocar”: Um bônus, e não o comum. Quero o confete e a serpentina, mesmo que isso me custe todo resto.

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