Humor relativo

Televisão segunda-feira, 02 de abril de 2012

E aí eu estava na agência ~trabalhando~ e vi uma arroba por aí, e rachei o bico. Era um humor corriqueiro, que eu to super acostumada a ver. E rir, claro. Mas é aquela coisa, né? Eu to constantemente online e habituada ao humor baseado no meme, no tosco, no nonsense. Mas ok. Eu tava lá rachando o bico, como eu disse, e inventei de dividir com meu dupla o que estava lendo. Eu quase tinha um AVC de tanto rir e meu colega ali, estático, me olhando com cara de ~que diabo é o problema dessa menina??~ Fail pra mim.

É aí que a gente percebe que humor não é só humor. Ele ta mais do que segmentado, dividido em classes, grupos, países, planetas, on e off. A gente vive num tempo em que praticamente não dá mais pra separar online de offline, como eu disse no último post. Mas, aí, tu vai ver o que faz galere rir, e tu não consegue entrar num consenso. Ok, cada um é cada um, mas essa cultura de internet ta influenciando até naquilo que a gente vai achar graça ou não. Eu não consigo mais rir de uma frase sem pé nem cabeça com meu colega que não usa Twitter, por exemplo, porque ele não vai achar a menor graça. Primeiro que ele não vai entender. Segundo que não é o meio dele.

A gente ri do que ta acostumado, então? Também não é bem por aí, né? O humor de quem tem uma cultura de internet mais intensa permite compreender o além do tosco e achar graça de uma tirinha que vem com a frase “para nossa alegria”. Não quer dizer que quem vive nessa cultura wébica só se divirta com o tosco e o sem sentido. Mas a gente vive e respira isso, e acha sentido onde quem não é tão conectado em redes sociais não encontra.

Cultura. Evoluções.

Diferenças a gente sabe que existem desde sempre. Antes da morte do Chico Anysio, tu curtia o humor dele? Eu, particularmente, não. Achava sim ele brilhante, com uma cabeça além, muito além do tempo dele. O cara foi gênio ao criar esse monte de personagens, se consolidar de uma forma tão forte e ser ícone não só da televisão brasileira, mas de uma geração toda. Mas eu não ria das piadas dele. Questão de gosto, puramente gosto. Mas outros comediantes do mesmo segmento que ele me agradam. O que significa que gosto influi muito sim. A forma e o meio onde tudo se apresenta, também. Vai colocar na televisão uma pessoa falando em 140 caracteres pra ver se cola. Não cola. O tosco até vai (Oi, Zorra Total), mas a tv exige um pouco mais. O público que usa a tv como seu maior meio de comunicação precisa de mais. Não só de uma imagem tipo essa:

Na nossa realidade, aquilo que não se compreende é descartado. O humor ~convencional~, vamos chamar assim, é conhecido por todos. A gente conhece, reconhece, se identifica e curte. O humor internético, se tu não ta online, é desconhecido, e pouco compreendido. E ele acaba passando por um tipo de humor vazio, quando não é. Ele é específico, e faz sentido pra quem já foi educado a achar graça dele.

Quem tá online foi educado a aceitar a toscalização, a aceitar palavras como toscalização, a escrever de formas específicas e ser compreendido, a dar risadas aleatórias no intervalo do trabalho sem fazer grande esforço. Claro que o tosco também tá do lado de fora da rede. Óbvio. Mas a gente sabe que, online, ele aparece muito facilmente. O que não é, necessariamente, ruim. Só é uma realidade diferente, talvez.

Cada um tem um tipo de educação. Claro. E até as nossas risadas agora viraram questão de cultura, de hábito. Tudo é relativo. Por que o humor não seria também? Escolhe teu meio, teu canal, e prepara a tua risada da forma que mais for conveniente. E não te preocupa se teu colega do lado não achar a mesma graça que você, ou não achar graça nenhuma. Você não tem problemas, não é mais tosco do que ele, muito menos mais evoluído que ele. É só a conexão de vocês que é um pouquinho diferente. Nada que um Google Tradutor não dê um jeito.

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