Heróis e vilões humanos

Nona Arte quarta-feira, 01 de outubro de 2008

Hoje eu fui até a banca comprar alguns comics. Como não achei os que eu queria fiquei procurando qualquer porcaria, então eu reparei na capa de uma revista qualquer que falava sobre alguma coisa de “poder humano”. Eu nem comprei, mas a idéia ficou na minha cabeça e, na realidade, ela me fez pensar nos humanos dos quadrinhos e como eles não são humanos de verdade.

Dentre as várias raças que existem nos vários universos de papel, os humanos são os mais bacanas. Quando digo humano não estou me referindo àquele tiozinho que fica na rua vendendo jornal, estou falando dos heróis e vilões humanos, os fantasiados.

Os humanos são muito mais legais porque eles são simplesmente humanos. Eles batem, apanham, xingam, sangram, dormem, comem e fazem todas as coisas que super-seres não precisam fazer. Mas apesar de serem humanos, e fazerem coisas de humanos, eles estão muito longe de serem como eu e você, e não estou me referindo aos aspectos físicos, e sim aos psicológicos.

Um humano em uma HQ é muito diferente de um humano no mundo real. E como se já não bastassem serem diferentes de nós, eles também são diferentes entre si, como, por exemplo, humanos de comics são diferentes de humanos de mangás, assim como os vilões também são diferentes dos heróis. Dessa vez vamos focar só em heróis e vilões.

Como já falei, humanos de comics são variados entre heróis e vilões, mas quase todos têm a mesma história (vale lembrar que só tô mencionando os humanos da Marvel/DC).
Para ser um herói humano você tem que ter passado por um trauma ou uma experiência muito forte (pais mortos, barco afundou, família assassinada e outras tragédias). Logo, o que vemos, é que os heróis humanos são movidos por um senso de justiça barato, elas fazem o que fazem porque querem justiça e se empenham para isso.
O que percebemos com isso é que as reações humanas no papel são muito diferentes das reações reais. Qualquer humano que tenha sua família morta pensa em vingança, não em justiça, porque além de peludos os humanos também são bem filhas da puta. Fora que nenhum humano acredita em justiça, então não importa o motivo, qualquer humano mataria e não ficaria com essa preocupação de “não ultrapassar a linha”. Felizmente, temos um personagem que age conforme nossas idéias: o Justiceiro, quem nem é considerado tão herói e que deveria se chamar Vingador, mas enfim.
Os heróis humanos não têm muitas características humanas. Eles sempre são puros e bonzinhos e têm uma perseverança enorme, deixando de lado toda as características humanas primordiais e criando um ser que você sabe que não existe.

Os vilões humanos não chegam a ser tantos, mas existem e são idiotas. Um humano vira vilão por motivos idiotas e ações mais idiotas ainda. Pode ser insanidade, pode ser um trauma/experiência muito forte e também porque ele quer ser rico/poderoso. Um bom humano de verdade, quando quer ficar rico, vira deputado e rouba dinheiro do povo, como muitos humanos já fazem. Fora que, com isso, você também ganha um pouco de poder. Mas os humanos de papel decidem vestir máscaras e assaltar bancos, vai entender.
Existem casos estúpidos. Tinha um inimigo do Robin que inventou botas antigravidade e as usava para roubar, sendo que até o próprio Robin concordou que se essa tecnologia fosse vendida o cara já estaria milionário, ou seja, é o mesmo que ganhar na mega-sena e investir o dinheiro no crime. Fora que a maioria dos vilões, às vezes, não têm um porquê para o que fazem. Parece que o vilão é um vilão só para completar o herói e deu, sem nenhum motivo para isso, assim como você batia no seu primo de 10 anos só para incomodá-lo.

Pulando pros mangás, temos os piores tipos de humanos. Porque humano mangá é incrivelmente insuportável.
No mangá você não precisa ter passado um trauma tão grande para ser um herói, basta apenas você ter 12 anos e querer ser um herói. Nisso você viaja o mundo com um sonho do caralho, que normalmente é “ser o melhor do mundo em alguma coisa”, e essa coisa varia MUITO de mangá para mangá. Outra coisa horrível é que o herói de mangá sempre tem um senso de honra, justiça, amizade, coragem e perseverança tão chatos que um humano de verdade nunca teria. Os sentimentos de heróis explorados nos mangás estão MUITO longe de serem sentimentos reais. Até hoje eu nunca encontrei alguém que levantaria do chão só pra tomar uma porrada e cair de novo e ficar repetidamente caindo e levantando, como muitos heroizinhos fazem por aí.
Eles têm uma amizade muito forte com alguém e morreriam pelos seus amigos, e como não poderia faltar, eles sempre estão dispostos a ajudar os outros. Em geral, humanos de mangás parecem personagens da Malhação, sempre com aquela vontade de ajudar o fraco e oprimido e com discursos baratos de “o bem sempre vence”.

Já os vilões realmente parecem humanos, pois geralmente eles matam mesmo, sem pensar como, onde e quando, como qualquer bom humano faria, bem simples e objetivo. Talvez por isso ultimamente os fãs tenham preferido mais os vilões aos heróis.

Se você notar bem percebe que os humanos de papel estão muito longe de serem humanos, e a maior prova disso é que quando você lê uma HQ você pensa “porra, eu não faria isso”. Humanos de papel são artificiais demais e muito previsíveis.
As linhas DC/Marvel, e boa parte dos mangás, fazem um humano que não existe, com um senso de justiça que ele não deveria ter e com ideais que ninguém nunca imaginou ter. Isso foge da realidade e cria uma certa distância entre personagem e receptor. Temos algumas raras exceções que fogem dessa suposta humanidade de papel e criam um personagem identificável, que realmente corresponde aos padrões de humanidade de hoje em dia. Essas raras exceções são muito encontradas em histórias onde o roteiro foge do clássico herói/vilão e explora novas idéias, como um cara frustrado com a sua vida, ou um jovem apaixonado pela amiga.

Esses enredos geralmente são encontrados em histórias mais adultas, que fogem do selo Marvel/DC e dos mangás mais “pops”, onde a exploração do subconsciente humano não tem limites. Mas isso já é história pra outra coluna.

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