Guia do Blues – Cap. I – Para Entender

New Emo quinta-feira, 06 de maio de 2010

E vamos ao primeiro capítulo deste livro sujo, trazido por aquele tio mais velho, que parece sempre ter uma poeirinha no aro dos óculos. Pode ficar um pouco grande, mas não vou separar em partes. Eu mesmo odeio esperar post. Sem falar que a produtividade não pode parar, meio que pensamento proletário/burguês. Enfim. Definir o Blues, ou até mesmo linearizar sua história, é uma tarefa hercúlea. Eu poderia deixar uns dois vídeos aqui na base do “toma, escuta que é isso”, mas prefiro ir contando as particularidades que fazem esse estilo tão especial. Principalmente pra mim.

Para começo de conversa, o Blues está intimamente ligado com a cultura negra do sul dos USA. Lá, não tinha nada de Born In The USA, era na base do trabalho mesmo. E pense num trabalho danado! Basicamente, o sistema de plantation que tínhamos por aqui, como a cana do Brasil colonial. Só que majoritariamente algodão. Monucultura-latifúndio-escravocrata-exportação. Se eu definisse desse jeito, meu professor de Formação Territorial comeria minhas orelhas. Mas não se estressem, é isso mesmo.

Deu pra perceber que não é lá muito novo, né? Se você não conhece, deve recordar vagamente quando te apresentar uns sons. Até o grande Raul Seixas gravava seus blueszão, com a memorável Clínica Tobias Blues AKA Canceriano Sem Lar.

Enfim, vamos tentar entender como se deu a gênese do estilo.

Como toda cultura coagida num sistema fora do seu, todas as suas manifestações vão ter ao menos um viés de expressar aquela situação. Em outras palavras, os negão daqui tinham a capoeira pra desestressar (Eu sei que não era pra isso…), e os de lá tinham… A música, por assim dizer. Com um pouco de religiosidade e protesto, claro, mesmo que mascarado. Uma coisa bem parecida com o Soul/Funk. Não os do tipo Furacão 2000, mas do tipo JAMES FUCKIN’ BROWN.

Mas antes de embaralhar as coisas, vamo logo mostrando o que de fato é o Blues.

 Le-le le-le

Dizem que o Blues é uma música triste. Eu não acho. Na verdade, dependendo do estado de espírito, pode se tornar melancólica. Mas triste? Jamais! E não importa a sua vertente (Que descobriremos sobre essas variedades mais à frente), o Blues sempre será animado, te dando aquela liberdade de voar e explorar o mundo.

Fica mais fácil definir o Blues pelo que ele ajudou a criar. Pegue o melhor do Rock, separe a nata do Jazz e Funk, funda com o topo do Soul e do Gospel, uma pitada de Funk com Country, e voilá, você tem uma mistureba que funciona muito bem.

Eu sei que essa definição de início tá horrível, mas desafio qualquer um dizer o que é o Blues desse jeito.

Continuando, é um estilo que explora bastante seus instrumentos. O Blues de raiz, que usa mais o violão, prima pelo estilo dos acordes. O elétrico, mais moderno, faz com que cada parte do conjunto seja importante. O baixo, sempre marcante, a bateria pra acompanhar, os metais pra agitar, e claro, a guitarra pra solar. Uma coisa claramente perceptível é que os músicos tem habilidade EXTREMA na coisa. Eu sinto aquela humilhação motivante ao tentar tirar um blues de respeito nas minhas cordas. Na verdade, é “colocar a nota certa no lugar certo”, pelo tempo que ela merece. Improvisação também é comum, com aquelas paradas, diminuídas, conversas com o público… Tudo num clima de diversão, como se tivéssemos num bar num sábado, relaxando. Aliás, tou escrevendo isso num sábado. Entenderam, adventistas?

Finalizando essa parte, com vocês, o Rei, numa reunião de feras, que é bem comum nesse estilo, graças a Deus. Estourem o caixa, e bote até sua vizinha gostosinha de 15 anos pra curtir. Mas antes, outro senhor de respeito:

Calma, preciso de uma pausa. Eu fico muito contagiado. Preciso aliviar. PUTA QUE MEU PAU, QUE MÚSICA BOA! Pronto, prossigamos.

Claro que Blues vai bem além disso. Se acalme, rapaz. Com certeza que eu mostrarei mais, senão não seria um GUIA. Dóóó.

Voltando pra história, antes que eu fique psicótico. Pela discriminação que os negros recebiam da sociedade, acabou sendo mais uma das tradições passadas através do contato de gerações, além de escassamente documentada. Inicialmente restrito e ligado à área de New Orleans, da Georgia e como é presumível, do grande rio Mississippi, tem muito isso de regional, ficar marcado por um lugar. Tanto que até bem pouco tempo atrás era estranho ver alguém que não tem muitas raízes afros nesse estilo. Mas que se foda, pelo menos isso a globalização trouxe de bom. Seria um crime deixarem uma música boa dessas ficar restrita. Aliás, qualquer teoria racial é idiotice.

Não dá pra dizer quem começou com a coisa, qual a primeira gravação. Seria a mesma bobagem de fazer isso com um Samba ou Axé.

Com a passagem dos anos, e a maior liberdade progressiva aos negros, os expoentes do passado remoto do Blues começaram a ganhar notoriedade. O grande boom foi pelas vias da Segunda Guerra Mundial, com o advento do Blues elétrico em Detroit, Kansas, Texas, Memphis (No Tenessee), Lousiana, e claro, Chicago e New Orleans. Ae fodeu o caralho todo, chegou um carinha chamado Muddy Waters que fez escola pro resto da galera. Sem falar que antes dele tinha ninguém menos que o preferido do capeta, Robert Johnson, que não fez tanto sucesso, mas abriu um caminho considerável principalmente para hoje.

Notem que não estou linkando pros nomes. Eles terão posts exclusivos mais tarde, não necessariamente na ordem cronológica. Vai ser na ordem do meu saco. E olha que nem comecei a falar de Blues Brothers

Pra piorar ainda mais a situação, surgiu outro carinha, o amigo do Joãozinho Bigode, o Chuque Bérri!. E assim, de show em show, de álbum em álbum, o Blues ia abrindo caminho nas terras usamericanas. Perdeu um pouco de força quando o outro rei apareceu, Elvis Presley. Esse, nem B.B. King, considerado um dos maiores mestres, conseguiu barrar na época. Mas as coisas andavam conciliadas, seja no Alabama ou no Congo.

Como é um estilo muito variado, que sempre fica se renovando, além de ter diversos expoentes, o Blues nunca chegou realmente a perder o fôlego, mesmo que não ficasse sempre no mainstream. Vamos agora explorar um pouquinho dos tipos.

DELTA BLUES

O mais raiz, o mais tradicional. Leva esse nome por ter surgido no delta do rio Mississippi. É praticamente com o uso de gaita + violão e por isso lembra o Country, tendo como grande expressão o Robert Johnson. É um pouco difícil achar material, porque tá bem espalhado. Esse é o mal das épocas antigas, as composições ficam perdidas em uns 400 singles.

CHICAGO BLUES

Esse é praticamente o Blues elétrico, com direito até a piano. Começou a se disseminar a partir dos clubs e da música de rua, no estado de Illinois. Costuma utilizar escalas maiores e um puta contrabaixo. Acione o bass boost que você não se arrependerá. O exemplo vai ser Buddy Guy.

MEMPHIS BLUES

Desenvolvido no começo do século passado, tem como marca aquele ritmo que você acompanha fácil com o pé, quando não se levanta pra dançar. É parecido com o Chicago Blues, e seu nome notável é o incrível B. B. King.

DETROIT BLUES

Um pouco mais velho que o do Memphis, este tem uma variável: Não tem grandes artistas. Talvez o único nome seja de John Lee Hooker, e também é mais um derivado do Blues elétrico de Chicago. Esse é mais cadenciado, livre, preguiçoso no bom sentido.

LOUSIANA BLUES

Esse é um Blues sombrio, que até originou outro subgênero de menos destaque. O clima tenso lembra até um pântano, como fora nomeado. As vozes costumam ser fortes, poderosas. Aqui quem comanda é Marcia Ball.

TEXAS BLUES

Texas Blues também é elétrico, só que mais pesado. Investe bastante na guitarra, em solos e riffs. Utiliza por vezes melodias diferentes. Ganhou seu boost na década de 1970, quando os irmãos Vaughan e os barbudos estranhos do ZZ Top tiveram notoriedade.
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E assim termina o primeiro capítulo deste pequeno guia.

E se alguém perguntar por que eu canto o Blues, diga que é para pagar minhas dívidas! Mas nada de dorgas dessa vez.

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