Música para se ouvir no convés: Buddy Guy

Música segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tendo falado de uma verdadeira lenda da guitarra como Eric Clapton, me sinto obrigado a falar de uma de suas maiores influências. E não só do Clapton, mas de um certo Jimi Hendrix, também, não sei se vocês boiolas conhecem. Subindo mais um degrau na grande linhagem do blues, chegamos a um ótimo showman, que consegue empolgar qualquer um com seus shows. E olha que eu ainda nem tô falando do REI. Nascido em 36, em Lettsworth, Louisiana, Buddy Guy é o assunto de hoje. E, dessa vez, eu vou fazer a coisa AO CONTRÍRIO: Eu vou começar o post já mostrando o cara PIRAR tudo e DEPOIS eu falo sobre ele… apesar de Robert Cray já falar tudo sobre o cara no começo do vídeo. Divirtam-se:

Ya’all can help me sing that, I don’t give a damn!

Esse é o hôme, tocando no Crossroads Festival 2004. Ao lado do Clapton, aliás. A música é Sweet Home Chicago, um clássico do blues. E não adianta esconder: eu sei que você também se empolgou com esse cara tocando essa famosa guitarra com bolinhas, véi.

George “Buddy” Guy cresceu no Louisiana, pressionado pela segregação racial nos EUA, onde tudo era separado para brancos e negros. Seu primeiro contato com uma “guitarra” foi aos sete anos. O instrumento era improvisado: duas cordas presas com os grampos de sua mãe num pedaço de madeira. E foi com esse instrumento que Buddy Guy passou várias tardes na plantação, aprimorando sua técnica. Mais tarde, a coisa começou a melhorar. Guy ganhou um violão acústico Harmony. Eram quatro cordas a mais para se preocupar, e também mais um passo em direção ao sucesso.

No começo dos anos 50, o cara tocava com algumas bandas em Baton Rouge, capital de Louisiana. Mesmo assim, Buddy Guy nunca tinha saído do estado, quando, em 1957, um amigo seu disse “Ce devia trabalhar em Chicago, negão. Lá ce trabalha de dia, toca de noite e ganha tua grana, véi!”. E, claro, entre ganhar seus 28 dólares por semana trabalhando na Universidade Estadual de Louisiana e ganhar uns 70 por semana, tocar de noite e ainda ter a chance de conhecer nomes famosos como Muddy Waters e Howlin’ Wolf, que é que ce acha que o cara escolheu? Pois é, el… claro que não, sua BICHONA! Porra de faculdade o quê, véi! Ele foi tocar, porra! Ele era Buddy Guy, véi! Tinha o mundo pra conquistar! Eu nem sei por que eu ainda faço perguntas pra vocês. Buddy então se mudou para Chicago, onde arrumou um emprego e começou a tocar em bares, sendo bem aceito pela platéia. O cara era realmente carismático, empolgava a negada fácil fácil. E foi em 1958 que o cara conseguiu um contrato de gravação, numa competição com Magic Sam e Otis Rush. Uma beleza á primeira vista, mas ao contrário do que parece, Buddy não passou bons bocados com as gravadoras.

A Chess Records, que contava com artistas como Willie Dixon e Little Walter, além dos já citados Muddy Waters e Howlin’ Wolf, foi também a gravadora de Buddy Guy de 1959 a 1968. Pois é, nove anos sob o selo, e o máximo que fizeram pelo cara foi gravar um único álbum, “Left My Blues In San Francisco”, em 1967. A maioria dos sons mais voltados pro soul, que tava estourando na época. Ou seja, lascaram legal o cara. Claro que eles não deixaram de aproveitar o cara: Buddy Guy era quem tocava a guitarra de acompanhamento para os grandes mestres do blues da Chess, e era sempre o primeiro nome a ser chamado. Enfim, quem quisesse ver Buddy Guy tocando guitarra de verdade tinha que ver seus shows ao vivo, já que a gravadora não ajudava. E foi assim que sua fama se espalhou pela Inglaterra: Foi no “American Folk Blues Festival”, festival inglês dos anos 60, que Buddy Guy foi ouvido por jovens músicos como Eric Clapton, Jeff Beck e os Rolling Stones. Buddy se espantou com o quanto sua guitarra influenciou os ingleses. O cara pirava o bagulho, jogava a guitarra pra lá e pra cá e levava o povo ao delírio. Mas, como ele próprio disse certo tempo depois, “(…)apesar de eu ter tocado em outro continente, em casa eu ainda não tinha uma gravação minha(…)”. O cara achava que o problema era por ele tocar muito alto ou por usar muito feedback, mas aí Hendrix e Clapton estouraram por aí com os mesmos “truques” dele.

Foi então que Buddy deixou a Chess Records, assinando contrato com a Vanguard. E foi aí, também, que Leonard Chess, fundador da gravadora, percebeu a besteira que fez em não ver o quanto o estilo de tocar de Buddy Guy venderia. Assim sendo, a Chess Records acabou lançando muito mais álbuns de Buddy depois que ele SAIU da gravadora. Uma maravilha, não?

Sempre com o sorrisão na cara, véi.

O estilo de tocar guitarra de Buddy Guy é único, variando desde o blues mais puro e tradicional até o jazz experimental aéreo. O cara manda bem não só no blues, mas também no rock, no soul, em tudo. Porra, se ce botar Buddy Guy pra tocar samba, é bem capaz de Adoniran Barbosa REVIVER pra ir no show do cara. No DVD Lightning In a Bottle, de Martin Scorcese, pode-se ver Jimi Hendrix admirado na platéia assistindo Buddy Guy quebrar tudo, e… não, não quebrar tudo como Kurt Cobain fazia, véi. O cara tocava com uma mão enquanto tomava cerveja com a outra, tocava com o pé, com a boca, com o pé na boca, com a boca nas costas, de cabeça pra baixo, lavando o convés, saqueando mouros, enfim, de tudo que é jeito. Se você não se empolga com um show de Buddy Guy, então você não se empolga com NADA. Aliás, você é uma BICHONA ALOPRADA. O cara sempre disse que queria tocar como B.B. King, mas que queria se apresentar como Guitar Slim. Não que você, tanga, conheça alguma coisa de guitarra, claro. O estilo de Buddy é explosivo, passando rapidamente de um solo profundo e lento a uma explosão de velocidade, e se resolvendo na mais profunda expressão do blues, com bends em duas ou três casas, e vice-versa, ou qualquer coisa parecida com isso. Ou diferente. E, é claro, o vozeirão do cara ajuda bastante, também.

Quanto aos prêmios, se é que alguém realmente se importa com isso, Buddy Guy foi introduzido (heh) na Rock and Roll Hall of Fame, pra onde doou aquele seu primeiro violão Harmony, e ganhou cinco Grammys. Agora, perto do que pode ser considerado o maior “prêmio”, isso são só souvenirs: Muddy Waters, pouco antes de morrer, disse a Buddy “Don’t let them goddamn blues die on me”. O cara praticamente passou a tocha do blues pro negão, véi. A Buddy Guy Foundation até hoje paga pelas lápides de músicos de blues já esquecidos, dando a eles o respeito que eles mereciam em vida.

Buddy, hoje com 71 anos, ainda toca em festivais, junto a grandes lendas do blues e do rock, como B.B. King, Eric Clapton, Jeff Beck e Carlos Santana. E mesmo assim você prefere ouvir Franz Ferdinand e Arctic Monkeys. Você é uma vergonha.

Como de costume, eu deixo vocês com mais do cara tocando:

Voodoo Chile. Até o próprio Hendrix pagaria pra ver esse cover.
Um exemplo do estilo explosivo de Buddy, num violão acústico
ORRÔ! Essa aqui eu aposto que ce já ouviu com o SRV tocando, véi.

…ah, claro! Buddy Guy, assim como o Clapton, também gravou com Mark Knopfler. Imagino que ces vejam onde eu quero chegar com isso.

E o próximo “Música para se ouvir no convés” terá uma agradável surpresa, aye? Enfim, imagino que o sobrenome Fogerty não seja desconhecido por vocês… ou pelo menos pelos PAIS de vocês.

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