Guerra: 1939-1945 (Conrad)

HQs terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma das áreas do Bacon onde eu menos escrevo é a de quadrinhos. Isso acontece porque eu tenho poucas HQs; aliás, raramente compro uma, devo ter uma dezena delas aqui. Para o “colecionador de quadrinhos” (Estereótipo que corresponde assustadoramente bem com a realidade) isso pode parecer heresia e gente como eu não deveria escrever debaixo da categoria de HQs do Baconfrito. Não, eu não tenho todas as revistas obscuras do Homem-Aranha e nem tenho coleções inteiras que nunca li e só compro pra juntar em pilhas pela casa. Em oposição a isso, coleciono HQs que me pareçam singulares o suficiente, ou que me reportem à realidade, ao ser humano, à história. Costumo dar bem menos valor à super-heróis, na acepção abrangente do termo (Principalmente suas versões modernas, que vivem de estórias vazias), e colocar toda a minha atenção em dramas verdadeiros, em revistas únicas, em alguns raros “heróis” que me chamam a atenção, etc, etc.

Por esses e outros motivos explicados acima que gosto tanto de Will Eisner, por exemplo; por isso que leio heróis como o Spirit, Batman, Capitão América; por isso que procuro sempre nas bancas e livrarias coisas que me surpreendam, me fascinem.

Recentemente fui surpreendido, e é isso que venho contar hoje.

Entrei na banca de revistas. Olhei em volta, olhei para a prateleira de HQs e só vi a parafernalha colorida de sempre. Virei pra prateleira oposta e vi a palavra Guerra escrita em vermelho, contrastando com uma capa preta e branca. Peguei e aqui está a surpresa: Era uma justamente uma HQ, tão diferente das outras, que estava junto com os livros e revistas sobre conflitos mundiais.

 Surpreendido.

Algum tempo depois, voltei e comprei a revista. Sem informação sobre o autor (Que eu não fazia idéia de quem era), sem saber nada mais sobre a obra do que dizia na capa (Estava em um plástico), só com a impressão que tive, e esperei que não tivesse jogado dinheiro fora.

Vim a descobrir que o que eu trouxe para casa foi uma HQ – mas com jeito de álbum – sobre os anos da Segunda Guerra Mundial. O autor é o paulista que atende pela alcunha de Julius Ckvalheiyro. Este seu trabalho tem algumas peculiaridades que me chamaram a atenção. Vejamos:

Primeiro vem a arte, que é escura, densa e extremamente realista. É muito apropriado para se desenhar a guerra – armas, borbardeios, soldados, etc. O trabalho foi todo feito em cima de referências fotográficas, mostrando coisas como aviões, fardas e armas de maneira acurada. Em suma, é o realismo, belo e que choca, reservado às emoções, às pátrias, aos combatentes desconhecidos. E agora falei sem querer, mas falei na hora certa: Além dos desenhos, gostei do fato do livro ser narrado por desconhecidos, por mortos em guerra. Julius mostra o ponto de vista lacônico de soldados, em suas palavras perdidas, como se os narradores descrevessem os próprios minutos finais.

 Tripulação que bombardeou Nagasaki: Imagem cortada, mas que aparece no álbum do livro.

A HQ se divide em seis partes e mostra pontos distintos dos campos de batalha, e em pontos diversos do tempo entre 1939 e 1945: O alemão na Escandinávia em 1939, o soviético em Stalingrado em 1942, o dissidente político aleijado em Auschwitz-Birkenau em 1943, enfim. E por todas as páginas se sente uma visão sem clichês, sem tomar partido e sem apontar certos e errados (Um dos maiores erros que se pode cometer no estudo da história e da guerra em específico é ter uma visão simplória, dividir tudo em “bom e mau”).

Preciso aqui dar mérito ao autor por ter realmente pesquisado: No final da HQ há uma lista de referências bibliográficas – quem estuda história sabe a importância de ter uma base. Toda a beleza visual da obra seria meio oca se não fosse o trabalho da pesquisa e o esforço em realmente conhecer o passado, ou parte dele.

Talvez eu tenha sido aqui quase sentimental, por meu fascínio pela história, e principalmente, pela história do século vinte; talvez seja a idéia do “soldado desconhecido”, quando penso no que estava na mente de cada pessoa em batalha. Não sei. Mas com certeza vi no livro de Julius Ckvalheiyro algo que vejo muito pouco, um entendimento de algo como a Segunda Grande Guerra, a tradução em desenhos e palavras de um conjunto de sentimentos e idéias, de uma atmosfera geral e de várias menores, com o passar de cada ano da guerra. E acima disso tudo: Uma sincera e ríspida qualidade.

Obs: O álbum do livro traz mais ilustrações e também informações sobre o autor e a obra.

Guerra: 1939-1945


Lançamento: 2011
Roteiro e Arte: Julius Ckvalheiyro
Número de Páginas: 136
Editora: Conrad

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