Estagnação gamer

Nerd-O-Matic quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vocês sabem, eu bebo. E quando eu bebo eu resolvo jogar vídeo-game. Aí eu tava jogando Street Fighter IV com um bróder essa semana. Eu gosto de jogar bêbado, as coisas ficam extremamente divertidas e você ainda tem uma bela desculpa caso começe a tomar UMA SURRA do oponente; “ei, só estou perdendo porque TÔ BEUBO ok?”

 Feio bater em bêbado

Mas eu nem tava tomando uma surra. Na verdade as partidas estavam bem equilibradas, com uma porcentagem de vitórias de 52% a 48% ou algo assim. O melhor jeito de jogar Street Fighter com um oponente humano é colocando no random, na tela de escolha de personagens. Deixe a sorte escolher com qual lutador você vai jogar, e depois xingue as batalhas improváveis que acontecem. Eu estava me divertindo muito com as partidas, a não ser por um detalhe: o fidaputa que tava jogando comigo ficava dando pause de 30 em 30 segundos pra conferir os golpes do personagem com que ele tava jogando, já que o personagem era random e nem sempre ele dominava 100% dos golpes do lutador em questão. QUEM joga com o Dan porra? O cara é um bosta. NINGUÉM sabe os golpes do Dan, porque ninguém nunca pega ele pra jogar e tals. E aquele gordão novo, que eu nem lembro o nome? É óbvio que você vai apanhar com aquele cara, já que nunca quis jogar com ele antes.

Mas então, eu ficava bem puto, porque o cara estragava o fluxo da partida dando pause para verificar os golpes. Porra, isso quebra toda a adrenalina de uma luta, Street Fighter é um jogo que deveria ter a opção de pause durante as partidas DESABILITADA por default. “Não, não pode conferir os golpes. Se vira aí com os conhecimentos que você já tem de Street Fighter, seu merda”. Absolutamente irritante interromper uma partida pra verificar a sequência de comandos de um Ultra.

Mas depois eu estava pensando sobre isso com mais calma, e percebi que na verdade o errado ali era EU, que não queria conferir os golpes dos personagens. Como jogador dedicado de SF, a coisa certa a se fazer seria conferir os golpes, para dominar cada vez mais personagens, aumentando a proficiência geral no jogo e melhorando as chances de vitórias continuadas, não é? Então por que caralhos eu me negava a conferir os comandos?

Refletindo um pouco sobre o assunto, eu decidi que na verdade eu me negava a dar pause porque eu jogo Street Fighter IV exatamente da mesma forma como eu jogava Street Fighter II. Foda-se que tem personagens novos ou golpes diferentes. Foda-se a sutileza dos golpes especiais e contra-ataques recém adicionados no jogo. Eu não quero aprender a jogar Street Fighter DE NOVO, eu só quero jogar o bom e velho Street Fighter II, só que no meu X360, com gráficos melhores e efeitos mais legais. Aliás, na minha review do jogo eu já falava que ele tinha substituído SFII pra sempre em meu coração gamer. E foi exatamente isso que aconteceu: ao invés de receber o IV como um jogo novo, eu usei-o para ocupar o lugar do II.

Depois de perceber isso, fiquei pensando se eu era doente, o que é uma hipótese provável. Mas nem sou, porque essa parece ser uma tendência geral nos vídeo-games: trazer substitutos atualizados para grandes clássicos antigos. Tentem me acompanhar.

Na época do Nintendo 8 bits nós conhecemos grandes clássicos gamísticos, que nos marcaram para sempre como Castlevania, Contra, Mario e Metroid. São jogos que ocuparam nossas mentes e joysticks por um bom tempo, devido à sua jogabilidade e capacidade de nos absorver em seus característicos universos fantásticos. Depois veio a geração 16 bits, com Super Nintendo e Mega Drive, e algo que foi bastante peculiar do Super Nes é o lançamento daquelas mesmas franquias do Nintendo, mas com um certo nível de atualização. Essa tendência nos deu novos clássicos como Super Mario World, Super Metroid, Castlevania IV e Super Contra. Eram jogos que construíam e adicionavam conteúdo em cima dos originais, expandindo as franquias conhecidas e aproveitando a capacidade dos novos consoles.

Depois disso, tivemos uma forma diferente de inovação nas mesmas franquias, decorrente do avanço gráfico e sonoro disponível pelas mídias digitais. Várias franquias como Final Fantasy, Castlevania e Mario, foram adaptadas para o formato tridimensional, com resultados variáveis. Gostem ou não, era uma evolução das velhas franquias, que estavam se ajeitando nesse novo universo gamístico. No Playstation acompanhamos o florescimento dos Final Fantasy em 3D, que se tornaram a regra atualmente. Também vimos alguns experimentos fracassados em 3D como Castlevania, alguns medianos como Mario, e outros espetaculares como Metal Gear. Gostando ou não, o 3D tinha chegado pra ficar.

O Playstation 2 e o Xbox estagnaram essa tendência, sem apresentar grandes desenvolvimentos naquelas franquias já conhecidas. Logicamente, ainda eram lançadas sequências de franquias de sucesso, mas sem grandes alterações de formato ou jogabilidade. Os próprios jogos Final Fantasy podem ser considerados o estandarte dessa estagnação, sendo basicamente SEMPRE A MESMA COISA, desde pelo menos o Final Fantasy VIII. Até mesmo as novas franquias ficaram caracterizadas pela repetição, como é o caso de Crash Bandicoot, Halo ou Gran Turismo. Jogos bons, divertidos, interessantes, bonitos e etc. Mas sempre mais do mesmo.

Agora, na geração atual, parece que estamos acompanhando uma nova/velha tendência: relançar as melhores franquias, mas do jeito mais próximo possível do original. Isso é muito doido, porque no ápice tecnológico dos consoles, nós resolvemos que vamos utilizar todo o seu potencial gráfico e de processamento para, basicamente, jogar jogos VELHOS, que não utilizam nem 10% desse potencial. Querem exemplos? Megaman 9 para o Wii/360/PS3, o novo Contra para o DS, Punch-Out para o Wii, todos os Castlevania do DS, Secret of Monkey Island para o X360, Wolfenstein 3-D para o PS3, Bionic Commando para o PS3… a lista vai longe. O que todos esses jogos têm em comum é que eles não são remakes ou releituras dos jogos antigos, eles são EXATAMENTE OS MESMOS JOGOS ORIGINAIS, só que com gráficos um pouco melhorados.

WTF?

O que aconteceu conosco, jogadores? Em que momento nós decidimos que queremos usar os nossos consoles next-gen pra ficar jogando PORRA DE JOGO VELHO? Será que a gente ficou preguiçoso e não quer mais jogar coisas novas? Aprender novos comandos? Ter surpresa nos jogos? Que merda é essa que nos leva a ficar jogando as mesmas coisas de 10, 15 anos atrás, e achando isso um tesão? Vocês querem um console de ponta pra ficar jogando isso:

Sério que é isso que a gente quer?

Dá licença que vou lá jogar SFIV até aprender todos os golpes do gordão.

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