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Música terça-feira, 19 de maio de 2015

Em 30 de abril de 2015 morreu Ben E. King, e em 14 de maio, B. B. King. O primeiro em Nova Jersey, o segundo em Las Vegas: Talvez isso diga alguma coisa se você for americano ou já morou nas terras de Tio Sam. E não, não eram a mesma pessoa… Vou deixar passar a piada racista dessa vez.

 Ou talvez não.

Mas apesar da piada ruim, tenho que admitir uma coisa: B. B. King ter morrido me foi uma surpresa. Primeiro porque descobri no 9GAG (Me julguem), segundo porque ele é o tipo de pessoa que estava aí há tanto tempo, e há tanto tempo falando em aposentadoria, pausas por causa da saúde e o escambau que você simplesmente ignora tudo isso: B. B. King é o tipo de gente que não morreria nunca, simplesmente porque você não conhece um mundo em que ele não estivesse vivo. Que nem a Dercy Gonçalves e o Robin Williams.

Mas eles morreram.

Com Ben E. King foi diferente, como nota-se pelo fato de eu só estar falando dele agora, mesmo ele tendo morrido há mais de duas semanas. Diferente de B. B., ele não me pegou de surpresa: Ben E. King nunca me disse muito mais que uma música, para a qual nunca liguei muito.

B. B. King, pra mim, sempre foi aquele senhor gordo, sentado no palco, com aquele jeito largado e grudante de tocar guitarra. B. B. King é um daqueles caras que você aponta e fala “ele é uma lenda da música”, que, quando surge o assunto na conversa, você concorda e afirma que é um gênio e um herói por ter feito o que fez “numa época com poucos recursos”. Eu não sei o que B. B. King fez. E não sei o que Ben E. King fez.

Claro que já ouvi músicas de ambos, claro que, surgindo na conversa, consigo me virar e debater, ainda que superficialmente, sobre ambos, mas a realidade pura e simples é que além de meia dúzia de hits não conheço nada. Ben E. King é uma música que eu passei a reconhecer pelo nome só depois de ouvir um cover, e B. B. King é um cara que eu conheço desde que passei a ouvir música, muito mais por ser B. B. King do que por qualquer coisa que ele já tocou. Essa é a mais pura e feia verdade. Agora a piada do começo nem parece tão ruim, né?

 Se eu disser que isso não é uma piada, alguém acredita?

Entretanto, além da semelhança de nomes, ambos me dizem uma coisa muito importante, uma lição que eu já deveria ter aprendido e que vejo tantas outras pessoas ignorando também: Eu deveria prestar mais atenção nas pessoas enquanto elas estão vivas. Em outras palavras, o bom e velho “só dar valor depois de perder”. Sim, estou comparando B. B. King, Ben E. King e Chorão.

Ao que sei, Ben E. King nunca esteve no Brasil, mas B. B. sim, logo já tive a oportunidade de ir num show dele. Mas não fui. Não fui atrás de show nenhum e nem da música de nenhum deles: Se está tocando, ótimo, caso contrário, não vou atrás. Não é exatamente falta de interesse, é mais uma falta de estímulo… A facilidade da passividade. Mas agora deixou de ser passividade para ser impossibilidade física. O soul e o blues falam muito de espiritualidade e ambos tem relações com religiões e magias, mas eu não sou do tipo que gosta de perturbar quem se livrou das mazelas do plano terreno, ainda mais depois de tão pouco tempo.

Isto obviamente não é uma homenagem. De um, o que conheço não chega a me ser marcante, do outro, o que conheço por mais que eu goste, não me levou a conhecer mais. A culpa não é de nenhum deles, longe disso, é minha, mas a questão central é a relação, e não um dos fins da corrente. A fatídica verdade, entretanto, é que ao saber da morte de ambos bateu aquela realização: Nunca os conheci enquanto podia, por mais difícil que fosse, mas agora é impossível. E como dita as regras do jogo, agora tenho a hipócrita vontade de conhecer. Bem feito pra mim, e vida longa ao rei.

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