Bem-vindos à Skynet 0.1

Livros segunda-feira, 18 de junho de 2012

Façamos de conta, por um momento, que estamos alguns anos no futuro, algo como 2015, 2018, e que a tecnologia recém apresentada nas feiras do setor seja a do reconhecimento de voz. Sim, eu sei que isso já existe, mas não é algo perfeito, então imaginemos que finalmente conseguimos produzir tal tecnologia de forma plenamente satisfatória, e que ela pode ser “embutida” em tudo, de celulares à televisores. Além dos aparelhos “clássicos”, surge um novo utensílio (Ou aplicativo): Um que escreve absolutamente tudo que você fala, preenchendo “cadernos” e mais cadernos.

Não sei vocês, mas eu falo sozinho. Pois é, e tal fato se dá pela minha incapacidade em não pensar em qualquer coisa que seja. Feliz ou infelizmente, eu não sou um boçal, e tenho consciência de que a gigantesca maioria das coisas que eu faço não importam para mais ninguém além de mim mesmo. Agora, caso você não tenha a memória de uma borboleta, há de se lembrar que o que mais tem na internet é gente idiota. Imagine portanto que absolutamente TUDO que elas falassem iria para a internet, e uma internet muito mais avançada (E portanto mais “presente”) do que temos hoje.

Seria o derradeiro entupimento da internet, mas é claro que a coisa não se resumiria ao mundo virtual. Que jeito melhor de controle do que saber tudo que todo mundo fala, o tempo todo, no mundo inteiro? Que melhor meio de comunicação do que responder a pergunta de alguém para o “nada” e a pessoa com quem você está falando, do outro lado do mundo, receba sua resposta? Que jeito melhor de foder com o mercado literário de vez, do que lançando bilhões de livros, “escritos” por bilhões de pessoas?

Num mundo onde a facilidade de transmitir informações (Por mais irrelevantes que sejam) ultrapassa os limites da individualidade, ocorre coisas interessantes: As já mencionadas superlotações, a possibilidade de controle, seja de indivíduos seja de massas, a quebra da definição de “literatura”, e, juntando tudo, chega-se a uma conclusão. Conclusão esta que adiarei, na esperança de que descubram por si mesmos e para deixar o post maior.

Sei que boas ideias podem se perder quando estamos no meio de um raciocínio e algo, por mais banal que seja, nos desconcentra: Já perdi algumas ideias para posts assim. Seria extremamente útil ter um registro de tudo que você falou, afinal, não só ideias passam por nós, mas informações, dados e datas também, e estas podem ser deixadas de lado: Você teria um registro, que poderia lhe servir como agenda, lembrete ou o que quer que seja. “Escrever” seria infinitamente mais fácil, e não há modo melhor de guarda algo que não seja por meio de palavras (E sim, podem reclamar a favor do som e da imagem).

Como eu disse alí em cima, bastaria uma ideia, seja qual fosse, para que qualquer um escrevesse um livro. E quando digo “qualquer ideia” e “qualquer um” eu faço isso de forma literal: Qualquer uma das 7-bilhões-e-não-sei-quantas-pessoas do mundo inteiro. Todo mundo teria uma das mais poderosas ferramentas criadas pela humanidade, e é claro que esta não seria usada da melhor forma. Não quero entrar na discussão do que é bom ou ruim, melhor ou pior, mas pense que teríamos livros geniais, sobre física de moléculas, e livros narrando a ida ao shopping no domingo. E não preciso dizer qual teria maior aceitação.

Enquanto a produção de livros só aumentaria, a noção de sociedade mudaria: Todos teriam acesso a o que outras pessoas falam. Claro, há modos de fazer com que apenas as pessoas certas troquem mensagens entre si, mas seria questão de tempo para burlarem tal bloqueio. Mais e mais, nesse mundo, informação é poder. Pode-se fazer o que quiser com informação, então, ao mesmo tempo que teríamos uma enchente de lixo, teríamos as consequências de pessoas, pelo mundo todo, com poder de armar o caos no planeta. E “caos” não é anarquia, é destruição.

Imaginem uma sociedade que une o que Orwell, Maquiavel, Platão, Huxley, Sartre, Kafka, Montaigne, Hobbes, Aristóteles, Nietzsche, Bacon (Heh), Descartes, Kant, Locke, Montesquieu, Pitágoras, Rousseau, Schopenhauer e Voltaire disseram, com suas (Amplas) diferenças, mas sem poder dizer que qualquer coisa que eles disseram é válida ou não: Seria uma pluralidade, em que nenhum se sobrepõe. Uma mutação, uma fusão, dos mais variados, contrários e problemáticos conceitos criados, postos em prática. E sim, vou dizer o óbvio: Vai dar merda.

Esse post começou com um intuito totalmente diferente, mas descambou para esse lado, o que significa que só me resta uma coisa agora: A conclusão óbvia a que me referi lá em cima. Então, para recapitular, temos poder quase ilimitado nas mãos de todo mundo, temos conceitos conflitantes ditando as “leis” da sociedade e temos a solução jogada, perdida no meio de tanta informação inútil. Meus caros, se algum dia ocorrer de criarem algo que reconheça voz, e que divida tais vozes com as vozes de outras pessoas, teremos ditadores. Com trocadilho e tudo.

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