A Vida em Preto e Branco

Primeira Fila sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Por conta de um projeto paralelo com o colunista de cinema sério (Ou colunista sério de cinema, dá igual) dessa bagaça andei consumindo doses cavalares de filmes clássicos nas últimas semanas. Entre eles, uma quantidade razoável de filmes em preto e branco. Tão ou mais encantadores do que filmes coloridos, os B&W dão um gostinho especial de originalidade. Afinal, se no cinema e no funk “nada se cria, nada se perde, tudo se copia”, é deles que vem a inspiração. Se não fosse pelo som inexistente, vozes que não se encaixam com a imagem (e legenda) e acidentes sem sangue não teríamos nada do que se tem hoje. Até o 2001 – Uma Odisséia No Espaço influenciou e… divago. 2001 é colorido ATÉ DEMAIS.

Quase melhor do que assisti-las são as frases que uma escuta ao alugar ou enquanto vê essas obras primas da humanidade. Nove entre dez atendentes de locadora perguntaram se eu estava fazendo algum trabalho da escola. A décima quis me dar um prêmio de melhor cliente da semana pela quantidade de filmes que peguei. Mas nem deu, mesmo eu tendo deixado uma fortuna lá. E pior ainda é quando, depois da negativa, te perguntam “Então POR QUÊ você tá assistindo esses filmes????”. Aí eu ME pergunto: Cadê os chefes dessas lesmas que não estão lá na hora pra despedi-las e me contratar no ato O que essas pessoas têm na cabeça?

 “Poxa, podiam devolver logo pra eu assistir. Droga.”

Depois tem ainda seus entes queridos. Em casa, em meio a pessoas que você sabe que tem maior educação escolaridade, sempre tem um pra olhar torto e/ou perguntar “Todos os lançamentos estavam alugados, Uiara?”. Mas acho que já mencionei antes que minha mãe e provedora não se importa muito que eu tenha o culto vício da cinefilia, o que dificulta e muito a vida de quem é contra a pirataria e depende de cash pra alimentar esse verme gordo do vício. Minha mãe preferia que eu gostasse de sapatos, mas isso é assunto pro divã.

O fato é que assistir filmes em preto e branco te faz escutar PRÉULAS como essas. E o mínimo que eu posso fazer é dizer alguns dos que valem a pena, e que são, digamos, mais fáceis de assistir caso você seja um tanto relutante com filmes antigos. Não é um top 5, mesmo sendo cinco filmes geniais. É só o ponta pé inicial pra ver que a única coisa que falta nos B&W é… cor.

Dr. Fantástico

(Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying And Love The Bomb, EUA, 1964)

Dr. Fantástico é a celebrada e clássica comédia de humor negro de Stanley Kubrick sobre um ataque nuclear “acidental” que foi indicada para 4 Oscar em 1964. Criada durante um tempo que a paranóia da Guerra Fria estava em seu auge, o filme ainda se mostra atual em nossos dias.

Um dos dois melhores filmes do deus Kubrick. Isso, naturalmente, se você entender e tiver gosto por humor negro, o que aposto que não é o caso. Um general doido se convence que os russos estão envenenando a água do mundo (E por isso só bebem vodka. Russos espertos.) e resolve acionar um ataque aos comunistas. Ao descobrir que não tem volta, o governador americano vai bater um papo com o russo, que está bêbado, enquanto o fantástico Dr. Fantástico já vê o lado bom da destruição do mundo. É um filme pra rolar de rir. De milhares de aparições de Peter Sellers em diversos papéis até uma máquina de coca-cola como arma essencial pra evitar o Juízo Final, é um desses que cê tem que assistir antes de falar absurdos como “Nicolas Cage é genial”.

Uma Rua Chamada Pecado

(A Streetcar Named Desire, EUA, 1951)

Blanche Dubois vai visitar sua irmã grávida e seu marido Stanley em New Orleans. Stanley não gosta dela e começa a pressioná-la por informações sobre uma propriedade deixada pras irmãs. Ele descobre que ela vendeu o lugar e gastou todo o dinheiro, e isso o desafia a desvendar tudo o que puder sobre ela. Mais embates acontece entre os dois enquanto moram juntos no pequeno apartamento.

Poucos papéis foram tão perfeitamente escalados quanto a Blanche de Vivien Leigh e o Stanley Kowalski de Marlon Brandon. Vivien interpretava seus papéis no cinema com o mesmo tom do teatro e é assim mesmo que Blanche vive: como se o mundo fosse uma tragédia grega, mesmo que seja tudo só fachada. Brando está uma delícia de dar medo quando grita “Stellaaaa” com seu jeitão polaco bruto de ser. Se não for pra assistir porque é um dos melhores roteiros, com os melhores diálogos e melhores caras-e-bocas da Vivien Leigh, assistam pelo menos pra ver que aquele senhor balofo do Poderoso Chefão era mais do que um excelente ator. Era também um rostinho bonito.

Quanto Mais Quente Melhor

(Some Like It Hot, EUA, 1959)

Quando os músicos de Chicago Joe (Tony Curtis) e Terry (Jack Lemmon) acidentalmente são testemunhas de um tiroteio entre gângsters, eles rapidamente fogem em um trem para a Flórida, disfarçados de Josephine e Daphne, as duas mais novas e menos atraentes integrantes de uma banda de jazz composta só por garotas. Seu disfarce é perfeito… até uma cantora carente (Marylin Monroe) se apaixonar por “Josephine” e um experiente playboy se apaixonar por “Daphne”.

Eu consigo pensar em pelo menos quinze outros filmes com essa mesma sinopse. O diferencial é que esse, provavelmente, foi o primeiro. Tony Curtis (Pai da Jamie Lee Curtis) era um galã em Hollywood e só Billy Wilder (De Crepúsculo dos Deuses) pra convencê-lo a se tornar a mocinha de uma comédia. E é um filme com a Marylin Monroe, uma diva como não se faz mais. Falarei mais desse na ressurreição do BéT.

8 ½

(França/Itália, 1963)

O filme retrata a crise de criatividade de um cineasta que demonstra certo esgotamento no seu estilo de vida e resolve se internar em uma estação-de-águas para buscar inspiração.

Diz a lenda que 8 ½ é um filme autobiográfico do Fellini. Guido Mastroianni é um roteirista que não consegue mais escrever e acaba tirando sua próxima história da zona que acontece no spa/hotel para celebridades. Rodeado de mulheres, Guido lembra de histórias de sua infância entre ocasionais traições a sua santa esposa e a pressão de todos pra que o filme saia de uma vez. É um filme sobre filmes. E sobre mulheres. Aguardem que em 2010 sairá a versão musical (E colorida), do mesmo diretor do Chicago.

Ed Wood

(EUA, 1994)

Um filme incomum e exótico sobre a história real de Ed Wood, o pior diretor da história de Hollywood. Johnny Depp faz o papel do excêntrico diretor que se recusa a aceitar que suas fracassadas cenas e horríveis críticas destruam suas esperanças de fazer sucesso. Com atores desajustados – a rainha do horror na TV, um corpulento lutador de boxe sueco e o legendário Bela Lugosi, que está na pior – Ed leva a arte de fazer filmes ruins a novos recordes.

Se pra você a (Falta de) idade é o que conta, esse aqui tem só 15 aninhos. Mas já aguenta. Se Ed Wood tivesse vivido na era dos “Todo mundo em pânico” da vida certamente não teria ganhado o epíteto de “pior diretor de todos os tempos”. Edward D. Wood Jr., grande fã de Orson Welles, fazia filmes de terror trash sem se importar muito com continuidade ou mesmo com cenários que caiam no meio da cena. Ajudou a tirar da tumba o grande intérprete do Drácula, Bela Lugosi, que foi o motivo da realização em preto e branco desse filme em plenos anos 90 (Os produtores não sabiam como fazer um Bela colorido). Se não estivéssemos falando de Ed Wood dava até pra tirar uma bela crítica ao talento vendido dos diretores Hollywoodianos, que tem que agradar os investidores como puderem. O negócio é que Ed, nas horas vagas, era um perturbado hetero que tinha uma queda por se vestir de roupas de mulher, entre outras bizarrices. Interpretação magistral do camaleônico Johnny Depp.

Taí. Já tem o papo com sua vó do natal desse ano garantido. Aposto que ela vai adorar te contar como a estréia do Dr. Fantástico foi marcante, que a tal Mérilim era uma vadia e que sonhava diariamente com o Marlon Brando a jogando numa parede e chamando de Stela lagartixa.

Comentem aí com mais indicações de bons filmes em preto e branco. Isso se vocês não torcerem o nariz e disserem “Argh!!!!Kuantah velhariah!!!! KD downlodi do queprúsuclo????!!??Q?”, claro.

Esse texto é dedicado a pessoa que descobriu a Loratadina. Sem ela esse post não seria possível e a colunista já estaria morta e sem nariz.

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