A Rainha de Versalhes (The Queen of Versailles)

Cinema quarta-feira, 15 de maio de 2013

 Os bilionários Jackie e David decidem construir a maior casa dos Estados Unidos, um castelo de 90.000 m², inspirado no Palácio de Versalhes, na França. Mas nos dois anos que se seguem, durante a construção, a situação financeira de ambos se degrada rapidamente. Este documentário acompanha as mudanças na vida de do casal, quando a casa é confiscada e suas vidas mudam bruscamente.

Sim, outro documentário. Ou melhor, outro documentário que virou o que virou “por acaso”. O que aconteceu foi o seguinte: A diretora Lauren Greenfield tava registrando a construção da maior casa dos Estados Unidos, enquanto o proprietário David Siegel era dono da maior empresa de timeshare do mundo e tinha bilhões e bilhões de dólares. Só que nesse meio tempo *PÁ*, estoura a crise de 2008 e David perde tudo. E o filme passa a documentar a nova realidade da família, nessa clássica história de superação às avessas. Que levou o prêmio de melhor direção em Sundance hein, prefeito pra vocês se exibirem pra os amiguinhos hipsters.

Mas primeiro, bora esclarecer o que é timeshare. Basicamente, a Westgate, empresa do cara, vende casas, ou quartos luxuosos de hotel, por um tempo determinado. Ou seja, você pode comprar o lugar por duas semanas no ano, por dez, vinte anos. Ou pela vida toda. Bem mais barato do que comprar uma casa de verdade ou pagar um hotel equivalente. E, como você só vai tirar férias naquelas duas semanas mesmo, nem faz diferença, dá pra usufruir do lugar pra sempre. Já a empresa pode vender o mesmo local dezenas de vezes, todo mundo ganha. O problema é que mesmo sendo mais em conta do que as alternativas, ainda é caro demais para o cidadão comum. Justamente o público alvo da empresa, que costumava pagar em centenas de parcelas.

Negócio perfeito, enquanto os EUA viviam aquele momento de euforia que antecede o desastre e todo mundo (Todo mundo mesmo) tinha acesso a crédito, geralmente colocando o imóvel que possuía como garantia. Com o mercado imobiliário em franca ascensão, parecia loucura deixar dinheiro parado, e David tinha todos os seus bilhões reinvestidos na empresa, e através de empréstimos ia expandindo o negócio, gerando mais dinheiro.

Mas uma hora, a fonte secou. O esquema dos empréstimos imobiliários não aguentou o aumento exagerado dos preços e os bancos se viram com um monte de casas sem ter pra quem vender e dinheiro nenhum em caixa. E fecharam as torneiras. Nisso, David ficou sem grana pra continuar financiando os projetos em andamento, como a construção de um prédio de 400 milhões de dólares em Las Vegas.

Só que não se trata de mais um documentário tentando explicar a crise de 2008. O foco é a transformação na vida do casal. De uma família que começou construindo a maior casa dos EUA somente porque podiam, nas palavras de David, e acabou brigando por causa da conta de luz. Uma visão única de como a crise afetou o tal 1% da sociedade que detém a maioria das riquezas e toda aquela história.

O mais interessante é que nem David nem Jackie nasceram ricos. E mesmo assim se comportam como se vivessem num mundo de fantasia. Mas é só o dinheiro acabar que David se enfurna nos negócios e passa a tratar a mulher como a esposa troféu que ela é. Dá até pra sentir pena de Jackie e de como ela não tem ideia do que fazer com os sete filhos, dezenas de animais de estimação e toda a tralha que foi juntando ao longo dos anos. Até que decide declarar que está na mesma situação das milhões de pessoas comuns que perderam suas casas por causa dos banqueiros malvados.

E mesmo o foco não sendo a crise em si, o filme fornece uns elementos que servem pra deixar ainda mais clara a inacreditável situação do sistema financeiro dos EUA. Como o fato de o banco vender a própria dívida de David pra outra instituição. E a história do motorista da família, que antes da crise tinha uma dúzia de casas e uma renda de 3,5 milhões anuais.

No final, o filme vale a pena pelas risadas provocadas graças ao absurdo dos personagens e situações. Até que a gente lembra que se trata de um documentário. E perde mais um pouco da fé na humanidade.

A Rainha de Versalhes

The Queen of Versailles
(100 minutos – Documentário)
Lançamento: Estados Unidos, 2012
Direção: Lauren Greenfield
Elenco: Virginia Nebab, David Siegel, Jaqueline Siegel

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