A Intangibilidade Vilanística

Nona Arte quarta-feira, 04 de fevereiro de 2009

Como já foi demonstrado aqui, ser um vilão tem suas vantagens: gordinhas, vida boa, nenhuma preocupação e outras coisas que eu gostaria de ter facilmente. Mas, acima de tudo isso, você tem a certeza de que não vai morrer pelas mãos do seu inimigo, mas sim de algum acidente idiota ou velhice.

Certo, um herói vai bater em você depois que ele chegar ao limite de provocação. Você xingou a mãe dele, citou um fato que ele quer esquecer, enfim, qualquer coisa que fez com que ele ligasse o foda-se e tentasse transformá-lo em carne moída de quinta categoria. E aí está a sua carta na manga: por mais furioso que esteja, um herói nunca mata um vilão. Primeiro, ele quer que a justiça seja feita, acima de qualquer coisa, inclusive a própria vingança. Segundo, as editoras de quadrinhos não querem que a preciosa fonte de dinheiro delas fique mais fraca.

De qualquer forma, todos já estão acostumados a ler a última edição de um arco que termina com o herói semi-morto, o vilão mais ferrado ainda, sendo preso, e a babaquice voltando ao normal de sempre. Mas, imaginem o quão interessante seria se ocorresse o seguinte:

Após 3 horas de luta feroz, Brainiac finalmente é derrotado e seu corpo robô jaz prostrado no chão, sem se mexer. Superman, exausto, olha para o corpo do adversário no chão. Conta quantas vezes já o conteve, deletou, até mesmo instalou Windows 98 naquele ser prostrado a seus pés, sem resultado algum.
-“Já o venci muitas vezes, não vale sequer a pena contar.”, diz o Azulão.
-“Me venceu? Hmmm… tecnicamente, sim. Mas, quem vai fazer isso quando você se for? Ninguém. Você é fraco, meu caro. Sua mente não permite que você cause dano algum a outro ser vivo, mesmo sendo uma máquina.”
-“Cale-se! Vou entregá-lo à Polícia Intergaláctica! (!?)”
-“Ótimo, faça isso. Não fará diferença alguma. Basta a proximidade de um aparelho eletrônico ou uma rede wi-fi para que eu fuja, deixando para trás apenas uma carcaça metálica absolutamente desnecessária à minha existência. Mesmo que me isolem, não é um problema para mim manipular emoções humanas ou esperar um descuido por parte de suas mentes fracas para fugir.”
-“Não, você não vai escapar desta vez! Vou garantir isso.”
-“Não percebe a idiotice que está fazendo? Você já disse isso antes, muitas vezes, e aqui estou de novo. Não adianta me prender. Se quiser o fim disso, você tem duas escolhas: ou se alia a mim, ou destrua-me de vez. Meios-termos são irrelevantes.”
-“É isso que você acha?”
-“Sim.”
Com isso, Superman se levanta. Seus aliados chegariam em instantes. Aquilo precisava ser feito rapidamente. Com suas mãos, esmaga o robô que continha a última cópia de Brainiac. Ouvia o silício dos chips sendo esmagados, e, mesmo que não houvesse uma vida real naquele recipiente, sentia-se um assassino, mas o bem de todos estava acima de sua vontade. Sabia que, naquele gesto, tornava inúteis as mortes de milhões que lutaram contra a sanha por informações de Brainiac. Até mesmo seus conterrâneos de Kandor, que dependiam do conhecimento daquela máquina para voltarem ao normal, eram prejudicados. Todos o tratariam como a um herói, mas ele sabia que, no final das contas, não passava de um traidor. Superman e os traídos podiam concordar só com uma coisa: heroísmo é algo relativo.

Não estou querendo me lançar como roteirista, mas, meus caros, admitam: isso numa revista seria épico! (Mesmo que o vilão voltasse depois).

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