127 Horas (127 Hours)

Cinema quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

 Aron Ralston gosta de passar seu tempo livre nas montanhas do Utah, escalando-as, mergulhando nos pequenos lagos e se sentindo livre, podendo fazer tudo o que quer, chamando o lugar de sua segunda casa. Para se sentir mais livre ainda, Aron costuma evitar que seus amigos e familiares saibam onde ele passa esses finais de semana. Em mais um final de semana nas rochosas montanhas do Utah, Aron acaba ficando preso numa fenda, com uma enorme e pesada rocha prendendo seu braço contra a parede. Ele não pode ser resgatado, já que está numa região completamente isolada e não avisou ninguém onde iria. E ele passará lá as 127 Horas do título do filme, que é baseado em uma história real.

Se você não conhece a história de Aron Rolston, fuja de todas as sinopses e até dos trailers. Sério. É até desastrado grande parte da imprensa e da divulgação do filme já contar inclusive o final e o clímax do longa. Pode-se defendê-los apenas pelo fato ter ocorrido há pouco tempo, em 2003, e muitos podem conhecer ou se lembrar de tal história, mas grande parte do público não conhece a história de Aron Rolston, portanto esse erro poderia ter sido facilmente evitado.

Mas quem já conhece a história, seja por ter lido o livro Between a Rock and a Hard Place – que inspira o filme – ou por documentários e programas especiais na TV a cabo, não se preocupe, o impacto não é diminuído. Falo com propriedade por conhecer a história do alpinista há cerca de 3 anos e, mesmo assim, os fatos do filme não foram menos dolorosos, emocionantes ou vivos.

 “Esse Coyote nunca consegue pegar o Papa-Léguas!”

O filme de Danny Boyle é tecnicamente irretocável: Desde a trilha sonora que não despenca no clichê de colocar músicas de suspense em cenas desesperadoras, até a direção de Boyle, que não precisa provar mais nada a ninguém, já que faz parte da primeira geração da nova geração de grandes diretores de Hollywood (Ele e David Fincher são essa primeira geração, por já terem se firmado nos anos 90, a segunda geração da nova geração é formada por Darren Aronofsky, Christopher Nolan…).

Mas as duas maiores virtudes do filme são a caprichada edição de Jon Harris e a excepcional atuação de James Franco. O ator, que surge em praticamente todos os takes do filme, consegue uma atuação magistral, tendo azar apenas de consegui-la no mesmo ano em que Colin Firth encarna o Rei George VI em O Discurso do Rei e garante todos os prêmios pra ele, caso contrário, Franco levaria o Oscar pra casa. É difícil pensar em um momento do ator que seja meu preferido no filme, desde as discussões consigo mesmo, até o olhar que faz ao rever o vídeo dos mergulhos que fez com duas garotas, pouco antes de ficar preso, numa cena que mostra como a sua opção de se isolar, durante toda sua vida, o levou até aquela fenda. Mas o grande momento de Franco é sua auto-entrevista, em que ele simula um talk-show para a câmera. Cena essa que cresce ainda mais graças ao design de som do longa, que coloca sons de plateia, para nos colocar ainda mais no lugar de Aron.

 Dá aflição só de pensar.

A edição de Harris também se mostra acertada em todos os instantes. Desde o iníco, com uma edição rápida e quase trocando de take no ritmo de música, ao melhor estilo videoclipe, dividindo a tela diversas vezes. É inspirada e já nos deixa preparados para o filme. Ao contrário de Enterrado Vivo (Outro filme que se passa com um personagem preso em local durante todo o filme), 127 Horas se permite ir ao passado e buscar motivações e fatos que levaram Aron a se isolar e evitar contatos mais íntimos com outras pessoas, preferindo passar seu tempo livre sozinho nas montanhas. E aqui, novamente, a edição se mostra inspirada, ao não ser exatamente linear e nem mostrar longos flashbacks de cinco minutos, como muitas obras costumam fazer, ignorando que nossa cabeça não funciona assim, mas em curtas lembranças e momentos importantes, que é o que acontece com o protagonista aqui.

(No próximo páragrafo, abordarei as cenas finais do filme, portanto, se ainda não o assistiu ou não conhece a história de Aron Ralston, pule para o outro páragrafo, logo após a próxima foto. Esteja avisado.)

Já assistiu ao filme, né? Já conhece a história, certo? Ok, pode ler. A escolha de Boyle de não desviar a câmera e nem acelerar o processo de auto-amputação do braço de Aron é corajosa e certíssima. É corajosa porque, inevitavelmente, muito sangue deveria ser usado nessa cena, o que aumentaria a censura do filme, diminuindo seu público. Mas Boyle não se acanha e faz a cena com um realismo impressionante e assustador, o que era o certo a se fazer, já que durante todo o filme somos colocados no lugar do protagonista e evitar o sofrimento que Aron passou nesse momento seria uma covardia imensa de Boyle e seus colaboradores. Sorte que o diretor era ele, certo? (Se o diretor fosse o Zack Snyder, Aron teria cortado seu braço de uma vez e a cena seria mostrada em câmera lenta.)

 “Hmm, água acabou…”

Sem dúvida alguma um dos grandes filmes dessa década (Que só tem 2010 e início de 2011, então, né), 127 Horas encontra um espaço abaixo de Cisne Negro (O melhor) e logo acima de Bravura Indômita e A Origem, como o segundo melhor filme do ano. Direção inspirada, edição fantástica, roteiro maravilhoso, fotografia belíssima, design de som sensacional e coroado com uma atuação genial de James Franco: não há o que não gostar em 127 Horas.

127 Horas

127 Hours (93 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle e Simon Beaufoy, baseados em livro de Aron Ralston
Elenco: James Franco, Treat Williams, Lizzy Caplan, Kate Mara, Amber Tamblyn

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