1984 (George Orwell)

Livros terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Bom, essa é a minha primeira resenha/opinião aqui no Bacon. É uma resenha porque vou falar de um livro, mas é também opinião/devaneio porque eu fiquei pensando muito depois que li o livro e queria compartilhar isso com alguém. Espero que entendam que esse é o meu ponto de vista sobre o livro. O que quer dizer que vai ser diferente da opinião de muita gente, o que não quer dizer que a minha opinião seja melhor ou pior que a de ninguém (É, estou tentando não ser muito xingada nos comentários, se é que isso aqui vai ter algum).

 A capinha do livro (Dá pra ter uma ideia do esperar por esses olhos todos).

Enfim, começando sobre o que eu realmente vim escrever: O clássico 1984, de George Orwell. Já fizeram uma comparação aqui no Bacon entre 1984 e outro clássico, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Ambos falam sobre regimes totalitários dominando o povo graças a um tipo de lavagem cerebral. Um usa a dor e a tortura para conseguir obediência absoluta, o outro usa o amor e um tipo de desapego para alcançar o mesmo objetivo. A minha resenha é apenas sobre 1984 e o que significou pra mim. O mundo é então dividido em três super nações: Lestásia, Eurásia e Oceânia, a qual pertence Londres e onde a história se passa. A Oceânia é completamente controlada pelo Partido e por sua figura simbólica chamada de Grande Irmão. Todos são controlados, de todos os modos possíveis e imagináveis. Teletelas (Uma espécie de tv) existem em praticamente todos os lugares. Essas teletelas recebiam e transmitiam informações. Até quando dormia a pessoa era vigiada. Quando comia, quando trabalhava, quando andava pela rua, quando fazia compras. Cada mínima ação, cada movimento, cada mudança de fisionomia, era detectado por essas teletelas.

 Cartazes como esse eram espalhados em todos os cantos do país, para lembrar ao povo que sempre estariam sendo vigiados.

Somos apresentados ao protagonista do livro: Winston Smith. Um cara de meia idade, trabalhador do Partido, sem muitas perspectivas de vida, como todo mundo. Mas a diferença dele para todo o resto é que ele sente que há algo errado, vive angustiado no meio da sociedade opressora em que vive. Nesse ponto o leitor já percebeu que existe algo de muito errado com o governo. As pessoas são condicionadas a amar incondicionalmente o Partido e o tal Grande Irmão, os casamentos tem que ser aprovados por uma comissão do governo, e o que pra mim foi o horror: Aceitam sem questionar todas as notícias veiculadas e toda e qualquer decisão do governo. A população tem uma fé e um amor cegos e doentios pelos dogmas do governo. Além do que, o Partido manipulava, além da mente das pessoas, o passado. Inclusive somos apresentados a essa faceta do governo porque o protagonista trabalha justamente com falsificações de registros. Ele altera, de acordo com instruções, qualquer registro, sobre qualquer assunto, de qualquer pessoa, em qualquer época da história. As pessoas poderiam até mesmo deixar de existir, se essa fosse a vontade do Partido.

Bem, Winston está realmente achando tudo esquisito, por dentro ele começa a se rebelar contra o governo, começa a ter certeza que tudo o que o Partido fala é uma grande mentira e que na verdade, todos são manipulados e levados até mesmo a pensar da forma que o governo quer. Ele acaba por se envolver com Julia, uma colega de trabalho, e que também discorda dos lemas e de toda a loucura e manipulação da sociedade que vive. Em sua busca pela verdade e pela liberdade, ainda que escondida, Winston e Julia entram em contato com uma organização revolucionária. Decidem fazer parte dela, mas pouco tempo depois os dois são descobertos e presos.

A melhor parte do livro na minha opinião (E a maior parte das minhas reflexões) começa aqui. Winston e Julia são separados e presos. Winston é torturado e acaba por confessar “crimes” que cometeu e outros que não cometeu. Entrega todo mundo em vista de tanta tortura. Coloquei crimes entre aspas porque tudo quanto é coisa era considerado crime: Existia até mesmo pensamentos-crime. Pensar de modo diferente do partido em qualquer assunto era crime. Ter certos objetos, como um peso de papel ou um tinteiro era crime. Até mesmo falar enquanto dormia, dependendo do que você dissesse, era crime. Ter uma mente livre para achar o que quisesse, para questionar e discordar do que quisesse era crime gravíssimo. As punições eram extremamente severas: Quem não vivia de acordo com as loucas e obsessivas leis e tinha qualquer propensão a se rebelar (Eles sempre arrumavam um modo de descobrir o que você tinha de errado, usando as tais teletelas para vigiar cada mínimo movimento) era preso, torturado até se confessar e então nunca mais se ouvia nem via você, nem sequer uma lembrança de você existiria. Você era apagado dos registros e era como se nunca tivesse existido. Enfim, ele é preso, torturado e confessa seus “crimes”. Fim. Leiam pra saber como as coisas acontecem.

Aqui começam meus devaneios a respeito do livro. Minhas reflexões sobre o livro começaram quando eu entendi todo o sistema de governo do Partido. Obediência cega, amor aos princípios do governo, cegueira quanto ao absurdo que era toda a manipulação. Meu primeiro pensamento foi que as pessoas não poderiam ser tão manipuladas assim e achar tudo lindo e normal. Logo em seguida me lembrei de Hitler e de seus discursos sobre uma sociedade perfeita, discursos que levaram milhões a se alistar no exército alemão e cometer barbáries contra outros seres humanos. Li muito sobre o nazismo e Hitler fazia com que as pessoas, da mesma forma que o governo no livro, odiassem o que deviam odiar e amassem o que deviam amar, sem perguntas, sem questionamentos. Ele era um orador tão carismático que as pessoas o idolatravam, achavam mesmo que todo aquele horror dos campos de concentração era normal e “merecido” pelas pessoas que ali estavam. E acho que Orwell queria nos alertar sobre isso. Sobre como seria perigoso alguém ter muito poder, ter muita persuasão e então existirem pessoas de mente e personalidade fracas o suficiente para se deixar manipular. De como seria perigoso uma sociedade controlada em excesso por uma ou mais pessoas com uma mente doentia, megalomaníaca e preconceituosa.

Pensei bastante também em como hoje, em pleno século 21, com tanta informação, com tanta liberdade, as pessoas ainda são levadas a acreditar em coisas sem ao menos pararem e se questionarem o porque acreditam nisso ou naquilo. As pessoas veem televisão, ouvem rádio, leem jornais, mas quantos questionam: Será que é isso mesmo que está acontecendo? Será que nada é alterado nem maquiado nas notícias? É claro que existem pessoas que pensam isso, que veem que as coisas não são bem isso que é apresentado. O que falta nas pessoas hoje, na minha opinião, é conseguir pensar por elas mesmas, ver ou ouvir alguma coisa e não acreditar sem antes questionar se o que estão ouvindo é mesmo a verdade. Revistas e canais de televisão (Não preciso citar nomes, preciso?) manipulam as informações como querem e existem pessoas que simplesmente acreditam. Falta contestação nas pessoas e principalmente nos jovens, que parecem só se importar quando algo ameaça seu “mundinho”.

Outro ponto que eu pensei muito é na parte que Winston é torturado. O objetivo era que ele confessasse seus crimes. Confessar que fez o que ele realmente fez não seria fraqueza. Seria reconhecer que realmente se rebelou contra algo que acreditava ser errado, e que lutou por aquilo que achava ser o certo. Nada é mais digno que isso. Fiquei pensando numa passagem do livro, antes dele ser preso, logo depois dele ler uma parte do livro da tal organização rebelde, que Winston chega à seguinte conclusão (Vou colocar palavra por palavra):

O fato de ser uma minoria, mesmo uma minoria de um, não significava que você fosse louco. Havia verdade e havia inverdade, e se você se agarrasse à verdade, mesmo que o mundo inteiro o contradissesse, não estaria louco.

Lembrando disso é que eu refleti, enquanto lia Winston virando as costas para tudo o que antes ele descobrira ser a verdade, apenas para que o membro do Partido parasse de torturá-lo, se as pessoas podem ser íntegras mesmo em face da pior tortura. Me dei conta de que sim, elas podem. Muitos foram mortos na época do nazismo ou até mesmo na época da ditadura aqui no Brasil, ou por terem sua religião, ou suas convicções políticas, enfim, terem opiniões divergentes do que se esperava que tivessem. Muitos, mesmo tendo a oportunidade de desistirem do que acreditavam em troca de não serem mais torturados e ganhar a liberdade, não o fizeram. Preferiram morrer, e milhões realmente morreram, a trair suas convicções e sua integridade. O único defeito do livro, a meu ver, foi esse. Ter construído um personagem do ponto que ele desconfiava daquilo tudo, se rebelar contra o governo, ter a certeza que aquilo estava errado, se envolver com uma organização rebelde, e depois de decidir no íntimo que não seria vencido pelo Partido, para então ele se curvar diante da tortura imposta. Depois de tanto sofrer, de tanto lutar contra a própria ignorância, o personagem desiste. Eu sei que muitos realmente o fazem, traem suas crenças para sobreviver, mas de que adianta então acreditar em algo, se, quando se é questionado sobre isso, você se acovarda? É fácil afirmar que é isso ou que acredita naquilo quando se está livre para isso, mas e em face de perseguição? De prisão, de tortura? Aí é que está a diferença de pessoas íntegras para pessoas covardes. Elas jamais se curvam, jamais desistem de sua integridade, jamais viram as costas para o que acreditam. Também acho que isso falta nas pessoas hoje. Acreditar em algo e lutar até o fim por um ideal. Mas hoje, basta uma pressão para alguns desistirem do que são, de como se vestem e do que acreditam para ser aceitos e fazer parte de um grupinho de adolescentes acéfalos. Falta convicção e coragem para defender aquilo que realmente acreditam.

Concluindo isso tudo eu realmente recomendo que leiam o livro. Por esse resumo extremamente bem feito (Aham, tá…) o livro não parece nem de longe tão bom quanto realmente é. Me fez pensar muito (Como deu pra perceber) sobre o que eu mesma faria numa sociedade opressora e totalitária como a que Orwell criou. Então saiam logo da internet, parem de ler só suas atualizações do Facebook e vão ler algo que preste e que exija um pouco desses neurônios atrofiados de vocês!

 Os lemas do Partido. Leiam o livro e entendam o porquê.

Aline Freitas é uma leitora vinda direto do século XIX, quando as pessoas tinham garbo, porte e sangue revolucionário nas veias. Quer ter seu texto publicado aqui também? É muito simples!

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