Uma Noite de Crime (The Purge)

Cinema quinta-feira, 31 de outubro de 2013

 O filme acompanha uma família durante uma noite apenas, quando os cidadãos podem cometer crimes sem encarar as consequências. É que, numa América assolada pelo crime e com prisões superlotadas, o governo sancionou um período anual de doze horas no qual qualquer atividade criminosa – incluindo assassinato – torna-se legal. A polícia não pode ser chamada. Os hospitais suspendem a ajuda. É uma noite na qual a cidadania se autorregula sem pensar em castigo. Nesta noite, marcada pela violência e por uma epidemia de crimes, uma família luta com a decisão do que irão se tornar quando um estranho bater à sua porta. Estas quatro pessoas serão testadas para ver até onde vão para se protegerem quando o violento mundo exterior invade a sua casa.

Eu sei que é difícil pra você, brasileiro médio, imaginar uma onda de violência sem limites por todo o país, mas imagina só: Uma vez por ano, das 7 da noite até as 7 da manhã, tudo é liberado, é cada um por si e quem não concorda com isso tem que se trancar o máximo que pode, pra não acabar envolvido.

É, no fim das contas a gente algo parecido aqui faz tempo, chama Carnaval.

Bão, pra começar essa sinopse que mandaram ae não tá 100% correta, eu acho. Já que no filme nada é citado sobre superlotação de prisões ou alta criminalidade. Pelo contrário, os números jogados no filme falam de baixíssima taxa de criminalidade fora da noite de crime [Ou, numa tradução literal, da purga, que eu usarei a partir de agora], além de um desemprego de cerca de 1%, o que não faz muito sentido numa sociedade capitalista, em que o desemprego ideal [Ou o aclamado “emprego pleno”] se dá numa taxa de cerca de 4%, pra ficar bom pros detentores dos meios de produção. E nem fodendo que eles iam deixar bom pro povão. Mesmo que esse povão em si esteja se chacinando só porque é liberado.

 Esse não é o retrato do proletariado, certamente.

O filme é um prato cheio pra comunista, pra capitalista, e todos esses ista que gostam de discutir utopias ao invés de arregaçar as mangas e fazer algo que preste. Quando os caras liberaram a putaria toda, teve gente que se fodeu [Quem morreu, teve coisa roubada e o escambau] e teve gente que se deu bem, que foi a galera da segurança privada e dos seguros [Talvez o povo dos seguros nem tanto]. Uma dessa pessoas é o nosso protagonista, James. Pai de família, boa pessoa, vendedor de equipamento de segurança, apoia a purga porque dá dinheiro, mas acha todo o processo um pouco bruto.

 E essa é a filha tetéia dele.

Até que, por um descuido do destino [Ou talvez ironia, já que foi cagada mesmo], um jovem sem teto que estava sendo perseguido por um grupo de extermínio composto por riquinhos mimados adentra a casa dele. E o inferno toma conta. Primeiro porque tem um desconhecido dentro da sua casa numa noite em que nada é crime. Segundo, TEM UM BANDO DE RICOS FORTEMENTE ARMADOS NA PORTA DA SUA CASA QUERENDO TOCAR O TERROR. É, não parece nada bom, certo?

Pois piora. Os abonados querem o pobre, ou então vão passar fogo na família inteira de James. E ai temos um dilema ético muito forte: A vida da sua família vale a vida de um inocente? A vida de um inocente vale a vida de outro inocente, que você conhece? A ética começa a chutar portas e dizer que você não é o pai dela, porque não existe resposta certa. Ou errada. Situações limítrofe como essas estão numa zona cinzenta em que o convencional não funciona, e cada um trabalha com uma linha de raciocínio.

 Imagina isso na sua porta. Eu ficaria dividido entre preocupado e excitado.

E você acha que a angústia para por ae? Não senhor, tem a cereja no topo do iceberg, que é o deus ex machina que se revela na verdade um enviado de Satã em pessoa. Já dizia titio Hobbes: O homem é o lobo do homem. Tranque bem suas portas e janelas quando for dormir.

Uma Noite de Crime

The Purge (85 minutos – Thriller)
Lançamento: EUA, França, 2013
Direção: James DeMonaco
Roteiro: James DeMonaco
Elenco: Ethan Hawke, Lena Headey, Max Burkholder, Adelaide Kane, Edwin Hodge, Rhys Wakefield, Tony Oller, Arija Bareikis e Tom Yi

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