Top 3 Autores – Alan Moore – V

Nona Arte quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Protagonistas desconhecidos, por alguma razão ainda a ser compreendida pela ciência, atraem minha atenção de modo exarcebado. Obviamente, você deve achar que eu sou maluco, ao dizer coisas como “protagonistas desconhecidos”. Se é o protagonista, ele é o centro da ação, então, através da mais pura lógica aristotélica, deduzimos que ele é conhecido, certo? Elementar, meu caro Watson etc., não é mesmo? Não.

Como leitores do bacon, e, como deduzo através da mas pura lógica aristotélica, pessoas de bom gosto (A maioria, pelo menos. Sempre existem as exceções), suponho que todos vocês já assistiram e/ou leram Clube da Luta. Me digam, então: qual o nome do personagem de Edward Norton? Resposta: nenhum.

Esse véu de mistério sempre torna um personagem mais interessante. Em Clube da Luta, sabemos que o personagem de Norton trabalha numa seguradora, tem insônia, é um consumista desenfreado (o que, até agora, não o diferencia de muita gente), e, no fundo da consciência, nutre um ódio profundo pela sociedade que acaba por dar à luz a Tyler Durden, tudo o que ele queria ser mas não conseguia.

Em V de Vingança, temos menos informação ainda sobre o protagonista. V era uma cobaia num experimento envolvendo hormônios, conduzido pelo Governo. Fugiu utlizando-se de técnicas dignas de Angus McGyver (fabricando gás mostarda e napalm com material de jardinagem). Desapareceu por quatro anos, e, quando voltou com seu “uniforme” consagrado (Máscara de Guy Fawkes, peruca marrom comprida, roupa preta com capa, luvas e botas da mesma cor), foi para se vingar. Não apenas daqueles que o utilizaram como um erlenmeyer descartável, mas também de toda a estrutura por trás deles: o governo.

E, francamente, qual a melhor forma de acabar com o governo do que instituir a anarquia? (Não coincidentemente, Alan Moore é um anarquista roots).

O plano de V é, em sua essência: vingar-se de seus captores, derrubar o governo e, através da queda dos governantes, convencer as pessoas a se governarem. O plano, violento,muito bem elaborado e propositalmente teatral, é executado com perfeição mesmo após sua morte, apesar de não sabermos o que ocorrerá com a sociedade após isso.

O mais interessante de V, no entanto, é o fato de tal identidade não ser atrelada a um indivíduo. Quando se fala em Superman, pensamos em Clark Kent; Sonho dos Perpétuos? Morpheus, é claro! Quem aquele moleque do Daniel Hall acha que é? Homem-Aranha? Peter Parker, e não se fala mais nisso.

Assim como Anonymous, a identidade não se atrela a um indivíduo, mas a uma idéia, um princípio. E, citando o próprio V, pouco antes de morrer “Você pretendia me matar? Não há carne ou sangue dentro deste manto para morrerem. Há apenas uma idéia. Idéias são à prova de balas.”. E, mesmo morrendo, ele estava certo: o que ele representava continuaria vivo. O indivíduo morto, sangrando no chão? É irrelevante.

V é algo além de um personagem, ou uma idéia. É uma demonstração de genialidade de Moore, ao por, como protagonista de uma HQ de quase trezentas páginas, uma idéia, e não um indivíduo. E, quer saber? A obra de Moore vai durar mais que você e as próximas 10 gerações de seus descendentes. Não porque os livros são, em si, resistentes. Mas, as idéias neles contidas…

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