“TOP 100 FILMES BACON FRITO” 25 – 21

Cinema sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

25) Deus e o Diabo na Terra do Sol

(Glauber Rocha, 1964)

Uiara: Esse filme mostra as consequências da devoção cega, seja para o bem ou para o mal. Manoel resume as agruras do ser humano, que não quer mais enfrentar que é o único responsável pelo próprio destino e assim obedece a ídolos religiosos ou populares pra procurar algum sentido na vida. Se você também anda atrás de um pro seu, Glauber Rocha pode te ajudar. Amém.

Pedro: Seria Deus e o Diabo na Terra do Sol alguma espécie de cota para filmes brasileiros no Top 25? Não. O mais importante filme brasileiro não está aqui por sua nacionalidade – mas pelos seus próprios méritos. Meses antes do golpe militar de 1964, Glauber Rocha não faz um filme em ode ao norte, mas um relato dos seus problemas sociais, através da história do boiadeiro que mata seu patrão e vai atrás de uma nova liderança – primeiro um líder religioso e depois do cangaceiro Corisco. Assistindo aos eventos que ocorrem no sertão, é o mercenário Antônio das Mortes que dá o tom da obra – onde inexistem vilões ou heróis. Apenas homens lutando pela sobrevivência.

Veredito Final:
Uiara diz:
um filme que não é nem de longe tão celebrado quanto deveria ser. E também tem um pé no surrealismo, como o último filme que falamos
PA diz:
Apesar do aparente maniqueísmo do (ótimo) título – Deus e o Diabo conta um filme onde não existe bons nem maus, mocinhos nem bandidos – todos são filhos do Sertão.
E sem em Auto da Compadecida – a crítica social vem pelo humor, aqui vem pelo plano de fundo da história – embora em nenhum momento o diretor tenha apontado alguém como vítima ou algo parecido

24) O Sétimo Selo

(Ingmar Bergman, 1956)

Uiara: É um filme surreal. Ingmar Bergman mostra cenas com diálogos sobre a fé que são capazes de deixar qualquer um – ao menos qualquer um que tenha a mente aberta o bastante pra pelo menos OUVIR opiniões que divergem das suas – com um senhor nó na cabeça. Encaixa perfeitamente com Deus e o Diabo na Terra do Sol. Depois de ver o que a fé cega é capaz de causar, nada melhor do que ouvir pérolas como “Temos de imaginar como é o medo e chamar essa imagem de Deus”. Pra botar mais lenha na fogueira da discussão da fé (e da falta dela) ou se é saudável ou não ter crenças, O Sétimo Selo serve no mínimo pra te fazer pensar.

Pedro: A minha maior crítica aos diretores “de arte”, são as inúmeras dificuldades de linguagem que eles criam em seus filmes (com complexas metáforas e diálogos) impedindo que o público não cinéfilo assista, criando dessa forma um barreira entre intelectualóides e “pessoas normais”. Para mim, a arte perde todo seu sentido quando restrita a um público específico – e não compartilhada com o mundo. É como recriar o costume da idade média de restringir o acesso às obras primas à pessoas de alto poder econômico. Por isso, eu sempre me manifestei contra Persona (o projeto mais venerado do diretor sueco), mas sempre admirei seu trabalho em O Sétimo Selo, por mais que esse ainda seja um filme sem apelo aos espectadores “hollywoodianos”. Falando sobre um tema “tabu” – a morte – Bergman coloca através um jogo de xadrez (entre a própria e um cavaleiro) uma das mais eficientes alegorias que o cinema já presenciou.

Veredito Final:
PA diz:
Eu sei que 90% (ou seja, 9) dos leitores do Bacon não vão assistir a esse filme nem com a boa colocação no Top 100. Mas vale a pena insistir – o sétimo selo é a mais forte alegoria sobre a morte que um diretor já produziu.
Bergman pegou um tema tabu e o personificou jogando xadrez – em plena era medieval e os problemas da peste negra – expondo um pouco dos pensamentos do diretor, que passava por uma crise de fé na época

Uiara diz:
os leitores do bacon não veriam esse filme nem amarrados. Pena, porque vão perder uma das melhores indagações sobre a fé que já foram colocados em um filme
Eu acho que cheguei a anotar algumas coisas enquanto assistia, de tão boas

PA diz:
achava que só eu tinha esse costume
Uiara diz:
nah, eu também tenho (mais) essa esquisitice

23) Moulin Rouge: Amor em Vermelho

(Baz Luhrmann, 2001)

Uiara: Copiado Inspirado em La Bohemme, a famosa história que glorifica os ideais boêmios, Moulin Rouge é a junção perfeitamente equilibrada de comédia, drama, romance e musical. Poucos homens teriam a coragem de Baz Luhrmann de unir na mesma cena Christina Aguilera, Mya, Lil’ Kin, Pink, Queen Latifah e… Nirvana, dançados ao ritmo de can-can. Além disso, tem um astro de um filme subversivo feito o Ewan McGregor como um galã cantor e Nicole Kidman cantando “Diamonds are a girl’s best friend”. E a melhor cena de tango. E um argentino. E Like a virgin cantada por vários homens. E muito, MUITO absinto.

Pedro: Moulin Rouge teria tudo para ser apenas um musical – se não fosse pela ousadia do diretor (característica marcante de Luhrmann) em acrescentar todos os seus maneirismos cênicos, proporcionando uma das histórias mais fascinantes do cinema moderno. Com acelerações de cenas, closes pouco usuais, uma fotografia que ao mesmo tempo é deslumbrante e cômica, e personagens caricatos – mas com certa profundidade, Baz consegue subverter os musicais e tocar Nirvana em pleno século XIX, como se em meio a todo o absurdo isso fosse normal.

Veredito Final:
Uiara diz:
é um musical que fala sobre os ideais boêmios, incluindo Toulouse Lautrec, fadas verdes e o cabaré mais famoso de Paris
Que, cá entre nós, é a maior decepção da minha vida

PA diz:
Sabe aquele filme que te chama atenção pela sua forma única de contar uma história? Moulin Rouge é isso. E muito mais.
Só porque é um casebre com moinho na vida real?

Uiara diz:
depois de ANOS idolatrando o filme acha que é pouco chegar na frente do lugar e se perguntar se errou de endereço?
Nem é um moinho… É um… troço. Um trocINHO.
decepções a parte, continuo achando que tem a melhor trilha sonora de um musical por pegar canções já conhecidas e dar uma nova cara pra elas

PA diz:
E jogando os respeito cronológico pela janela. Nada importa para Luhrman. Desde que divirta.
Uiara diz:
é um filme regado a absinto. Queria ordem como?

22) Três Homens em Conflito

(Sergio Leone, 1966)

Uiara: Nunca viu um filme de faroeste? Este aqui é perfeito pra começar. O elenco é escolhido a dedo e inclui aquele que até hoje, mesmo depois de diversos filmes na frente (e atrás) das câmeras, é lembrado como um dos maiores ícones de Macho Alpha, daqueles que não fala muito e já chega atirando: Clint Eastwood. Os personagens são icônicos. O Bom, o Mau e o Feio são muito mais do que se espera pra um filme desse gênero. A fotografia te faz sentir calor mesmo se estiver nevando. E, claro, tem dinheiro e tiros. Como não poderia deixar de ser.

Pedro: Faroeste definitivo e insuperável. Mesmo para quem não gosta do gênero é um pecado cinematográfico não assistir a obra prima de Leone. Embalado por uma das melhores trilhas sonoras que já tiver o prazer de ouvir (assinada pelo lendário Enio Morricone), o filme conta a história de três bandidos (todos interpretados por monstros do western): o Bom (Clint Eastwood), o Mau (Lee Van Cleef) e o Feio (Eli Wallach, em um atuação fenomenal), cujos caminhos se cruzam quando se vêem atrás de um tesouro. Não bastando ser um western de primeira, Leone deixa para o final duas das cenas mais magníficas da história da sétima arte: a corri de Tuco (o feio) pelo cemitério da guerra civil (ao som de “Êxtase do Ouro”) e o confronto final entre os 3 (que é de criar uma tensão a lá Hitchcock).

Veredito Final:
Uiara diz:
é o segundo melhor filme de faroeste que já vi, e olha que eu nem sou chegada no gênero
PA diz:
Não bastasse o filme ser um faroeste “com tudo que se tem direito”, com atores sensacionais – ele ainda tem um dos melhores atos finais do cinema. Sabe aquela expressão “fechar com chave de ouro”? Suspeito que foi criada para descrever esse filme.
E assim com em tubarão – Leone mostra que tensão pode ser criada na edição competente de closes e trilha sonora.

Uiara diz:
é também o filme que mostra que um dia, num passado distante, Clint Eastwood não foi aquele velho enrugado
PA diz:
E quem diria que atrás daquela cara de mal, surgiria um dos melhores diretores da modernidade?
Uiara diz:
vou começar a rosnar desde já, pra ver se melhora meu trabalho no futuro

21) O Bebê de Rosemary

(Roman Polanski, 1968)

Uiara: Esse filme do Polanski é assustador por todos os lados. Do começo florido ao final repulsivo. Do roteiro as páginas de jornal que falavam dos bastidores. Exorcista que nada, coincidências estranhas mesmo são as do Bebê de Rosemary. Mas como todo bom filme de terror, o melhor a fazer é não contar mais nada e deixar que vocês arrepiem até os pelos do dedão do pé enquanto assistem.

Pedro: Uma das minhas manias mais peculiares é a de ler as críticas negativas no IMDB após assistir a um filme. Isso porque muitas vezes os motivos pelos quais as pessoas não gostaram de um filme são justamente os méritos do filme. Por isso vou me abdicar de escrever a minha opinião sobre o filme, e postar a tradução da crítica de um homem que deu 1/10 para o filme – e cujos motivos são exatamente aqueles que fazem Bebê de Rosemary ser obrigatório.

Eu não gostei do filme porque ele fez me sentir uma pessoa impotente. A história é depressiva e nos faz sentir como uma pessoa que cai de uma montanha e exatamente no momento em que vamos chegar ao chão, ele acaba. Ele impede que sintamos a dor da queda de uma vez só e ao invés disso prolonga o seu efeito negativo por dias. Certamente que você será afetado pelo filme, mas eu acho uma tática covarde, elevar as coisas a esse nível de tensão. Meu comentário pode parecer cínico, mas eu não recomendo o filme para quem está procurando apenas uma boa obra de terror cujo objetivo é te fazer pular da cadeira somente enquanto o filme está rodando.

Ps. Ruth Gordon (que levou o Oscar por esse papel) faz, possivelmente, a interpretação mais brilhante conseguida por uma atriz coadjuvante.

Veredito Final:
PA diz:
Imagine uma escala de 10 a 0, onde dez seja “feliz e contente” e zero seja “desesperança total”. O Bebê de Rosemary começa no 10 e acaba no 0 – sem nenhuma válvula de escape – uma vez que a escala começa a diminuir (gradualmente – como uma tortura silenciosa) ela não sobe em nenhum outro momento
E assim que chega passa do 0,1 para o 0, o filme acaba – só para de deixar com um gosto amargo na boca
Coisa de fazer Jason e Freddy e seus sustinhos, parecerem brincadeira de boneca

Uiara diz:
e tudo se torna ainda mais assustador quando misturamos um pouco de realidade a ficção ao lembrar que a mulher do diretor, Sharon Tate, foi assassinada enquanto estava grávida pelo Charles Manson
o mesmo Charles Manson que distorceu as palavras do Helter Skelter dos Beatles
do mesmo John Lennon que morou na casa onde o filme é passado

PA diz:
E que a cara de derrotada de Mia Farrow, muito tem a ver com o fato de ter recebido nos sets – os papéis do divórcio do então marido. Um tal de Frank Sinatra.

Este texto faz parte de um TOP 100. Veja o índice aqui.

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