Risíveis Amores (Milan Kundera)

Livros sábado, 01 de maio de 2010

Ah, o amor! Que coisa mais bela, sublime, tocante, emocionante! Ahhhhhhhh, L’amour! O que dizer do amor? O que sentir se não amor? Do que falar senão do amor? O que pensar senão no amor? O que ser senão o amor? O que esperar senão o amor? Tudo o que se refere ao amor é lindo, faz derreter corações, unir apaixonados, e sempre achamos que nada pode estragá-lo. Nada pode destrui-lo. Afinal, não há nada mais forte do que o amor!

Os poetas nos ensinaram isso, os padres nos ensinaram isso, nossos pais nos ensinaram isso, os livros nos ensinam isso, Shakespeare nos ensinou isso, o Rubinho nos ensinou isso! (Ops, o Rubinho só nos ensinou a andar devagar e a gostar de ficar atrás (heh) de um alemão). Os livros nos ensinam isso. Sejam eles bons, ruins, médios, grossos, finos, grandes, pequenos, conhecidos, desconhecidos, com vampiros purpurinados. Até Emmanuel nos ensinou isso!

Mas, eis que depois do fogo arrebatador da paixão, quando os lençois em brasa, que resguardam os corpos quentes após o ato de amor, e nem mesmo as mãos dadas e as palavras doces no pé do ouvido são suficientemente fortes para resguardar o frágil coração das pessoas “DAQUILO”. O pior inimigo das almas apaixonadas. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Qual o seu nome? Tenho até medo de dizer…

O COTIDIANO.

Sim, meus caros leitores, o cotidiano pode estragar vossos romances de folhetin. Ele pode jogar fora, em segundos, um amor que você levou várias ídas ao cinema para construir. Mas você deve ser um cético que não acredita em minhas pobres palavras. Um apaixonado que não consegue enxergar aquela verruga com pelos que sua amada tem bem na ponta do queixo. Pois bem. Vou dar-lhes provas. Ou melhor, indicar quem as dê.

Milan Kundera.

Esse tcheco revela muito bem como o amor pode deixar de ser sublime, e se transformar numa grande farsa. E eis que lhes apresento Risíveis Amores, uma coleção de sete pequenos (Ou não tão pequenos assim) contos, que revelam essas farsas amorosas de forma simples e direta, quase massacrante:

A maçã de ouro do eterno desejo;
Ninguém vai rir (Nikdo se nebude sat);
O jogo da carona (Zlate jablko autostop);
O simpósio (Symposium);
Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos (At ustoupi stari mrtvi mladym mrtvym);
O Dr. Havel dez anos depois (Diktor Havel po deseti);
Eduardo e Deus (Edouard a buh).

São brincadeiras de amantes que acabam por revelar aquilo que não desejariam, destruições dilacerantes das ilusões amorosas forjadas no alto da beleza, discussões filosóficas sobre do porque ser um Don-Juan. São diversas situações e personagens jogados nas mais equivocadas histórias, capazes cada uma de provocar circunstâncias novas no relacionamento. Os personagens de Kundera nesse livro demonstram uma incapacidade fundamental de comunicar-se com os outros e consigo mesmos. São descrições de uma solidão cotidiana, seja ela interior ou exterior. As pessoas que os cercam, sejam elas amigos ou amantes, não são mais do que objetos.

São personagens jovens, velhos, idealistas, realistas, solteiros, casados, belos, feios, ricos, pobres, religiosos, ateus, comunistas, não politizados, são personagens que carregam consigo caracteristicas que os transportam para cada um de nós. E são tão sutis, que é dificil perceber o que é nosso e o que é deles.

A obra de Milan Kundera é atemporal e ageografica (Neologismo mode on). Capaz de realmente dizer sobre o que veio dizer: nada é mais complicado do que amar.

E encerro aqui com as palavras de uma italiana, francesa por casamento, Carla Bruni.

“Eu não quero o amor,
Prefiro de tempos em tempos
Eu prefiro o gosto do vento
O gosto estranho e suave da pele dos meus amantes.
Mas o amor, hum hum, de jeito nenhum!”

Risíveis Amores


Smêsné Lásky
Ano de Edição: 2001
Autor: Milan Kundera
Número de Páginas: 264
Editora: Companhia das Letras

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