Rango

Cinema quinta-feira, 10 de março de 2011

 Rango é um camaleão doméstico, sempre viveu em seu aquário. Mas um acidente acontece e ele é jogado no meio do deserto do Mojave e precisa saciar sua sede. Enquanto busca por água, Rango enfrenta alguns perigos naturais do deserto, conhece Feijão, uma iguana, e vai parar na cidade perdida de Poeira, onde estranhas criaturas vivem e a escassez de água está para levar a cidade à extinção. Mas Rango, que adora fazer encenações, finge ser um herói e, equanto se torna xerife de Poeira, promete a todos os habitantes da pequena cidade que trará a água e a esperança de volta.

Há muito não víamos uma animação que não fosse em 3D estereoscópico nos cinemas. Mentira, teve O Mágico, que foi até indicado ao Oscar, mas eu quis dizer das animações de grande escala, como é Rango. E se eu começo esse texto com um elogio, acredite que praticamente todo ele será com elogios. E não é infantil. Não é. É preciso uma boa bagagem pra acompanhar o filme e entender algumas referências – e algumas cenas mais violentas podem não ser tão apropriadas para os pequenos.

Rango quebra dois estigmas que já estavam impregnados às animações contemporâneas: 1) Precisar ser em 3D pra justificar apuro técnico visual até os mínimos detalhes e 2) precisar conter uma carga emocional mais forte ou buscando alguma redenção, pra fazer o público se debulhar em lágrimas. E isso andava atrapalhando seriamente a cabeça de alguns realizadores, que chegaram a fazer o patético Meu Malvado Favorito, que, teoricamente, traria uma boa carga emocional e uma redenção, mas o resultado foi uma besteira enorme. Enfim.

 Pequena Miss Sunshine.

O apuro técnico de Rango é espetacular. O filme cria uma atmosfera western e traz um clima quente do deserto que não é tão fácil de conseguir. E as paisagens e os planos são maravilhosos, levando as animações para um novo patamar, onde não são necessárias cores alegres e 3D em todo objeto de cena para passar alguma mensagem. Aliás, reparem nas cores de todo o filme: Sempre escuras e sem vida, com exceção a Rango e seu traje inicial (Que ele logo abandona ao conseguir realmente entrar no universo da cidade).

A fotografia (Que teve como consultor apenas Roger Deakins) é excepcional. Uma cena em especial ressalta a excelente fotografia e o também excelente trabalho de direção de Gore Verbinski: Ao entrar no Saloon pela primeira vez, Rango, sem saber o que esperar do povo da cidade, se sente intimidado, e Verbinski nos coloca no lugar do protagonista, apequenado com todos os olhares do local sendo dirigidos a ele. A fotografia também funciona perfeitamente: A iluminação do estabelecimento é apenas a natural, que penetra pelos buracos do teto e pelas janelas, o que faz com que nenhum rosto seja inteiramente visto. Mas, na sequência, quando Rango toma o controle da situação e vê que não há nada de mais ameaçador ali e começa a contar suas histórias – inventadas e adaptadas, dependendo da conveniência -, o pessoal do bar é que começa a ver Rango com fascínio e é aí que o diretor muda a câmera de lado, nos colocando no lugar dos clientes, admirando Rango.

 Se adaptando.

Aliás, cada criatura recebeu um tratamento especial. Extremamente bem detalhadas e distintas umas das outras, elas são um fascínio à parte: Todas têm sua característica especial, sua inabilidade em algo e um grande trabalho de criação da famosa ILM (Industrial Light & Magic), debutando de maneira arrebatadora nas animações. É bom a Pixar tomar cuidado, porque a ILM já provou ter uma técnica absurda com animações já em seu primeiro trabalho.

Mas nenhuma técnica seria tão bem aplicada se não fosse um bom roteiro e uma excelente direção. O roteiro, que trata de tantas questões de uma vez, mas sem fazer discursos moralistas, é excelente. Temos nele: Os humanos estão acabando com o espaço dos animais?, abuso de poder, busca por um salvador, racionalizar consumo de água e por aí vai. Humor – físico e sarcástico – sempre presente. A trilha sonora, do sempre ótimo Hans Zimmer, também é acertada e orgânica, não exagerando e não se omitindo. E, claro, o detalhe mais chamativo do longa: Rango é um camaleão. E o que o camaleão faz? Se mistura, se camufla, se adapta. E é extamente isso que ele faz durante o filme: Se adapta, mentindo ou não, até descobrir quem realmente é.

Trazendo infindáveis e orgânicas referências, como Apocalypse Now, Sergio Leone, Clint Eastwood, Star Wars, Medo e Delírio em Las Vegas (Com o próprio Johnny Depp) e tantos outros, Rango já dispara como melhor filme desse início de ano e já é – por que não? – um dos candidatos ao Oscar (E pensando que a Pixar tem apenas Carros 2 para esse ano, Rango é um candidato fortíssimo). E, de novo, basta olhar as referências que o filme faz, o filme não é infantil. Nem toda animação é. Aí: Terceiro estigma!

Rango

Rango (107 minutos – Animação)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: Gore Verbinski
Roteiro: John Logan, baseado em história de James Ward Byrkit e Gore Verbinski
Elenco de dublagem: Johnny Depp, Isla Fisher, Bill Nighy, Alfred Molina, Ray Winstone, Timothy Olyphant, Abigail Breslin

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