Pirâmide, A (Ismail Kadaré)

Livros quinta-feira, 02 de abril de 2009

Enquanto vemos proliferar por aí trilogias, quadrilogias e sextologias de romances históricos, mostrando de forma heróica a Roma Antiga, Gengis Khan e outras figuras e lugares de forma completamente infantilizada, ainda encontramos pérolas da literatura que ousam pela inventividade e inventam através da ousadia.
A Pirâmide é justamente um desses livros. Um romance que nada tem de histórico, mas possui toda a força de uma boa crítica política, eternamente atual.

Ismail Kadaré, para quem não sabe, é um escritor albanês conhecido pelo livro Abril Despedaçado (que teve, inclusive, adaptação para o cinema). A maioria de seus romances se passa na Albânia, seja na idade média, seja no século XX, quando o país passava por um arrasador regime comunista.
Com exceção dA Pirâmide….aparentemente.

Imaginem um jovem faraó Quéops, tendo assumido há pouco tempo o poder. Com sua pouca experiência (e sua muita pretensão adolescente), decide que não quer construir uma pirâmide para seu túmulo. Os sacerdotes, conselheiros e ministros ficam horrorizados com a idéia, mas começam a perceber que seu horror não é o suficiente para atingir argumentos lógicos que possam fazer Quéops mudar de idéia.
E é justamente esse o problema: qual é, afinal, a finalidade lógica da Pirâmide?
Após uma série de pesquisa em hieróglifos antigos, em enterradas catacumbas, a corte do faráo chega à incrível verdade: a Pirâmidade foi criada no momento em que o Egito passava pela pior de todas as crises.
A Falta de Crises.

A economia ia tão bem, a comida era tão farta e a população vivia com tanto conforto que o poder faraônico começou, pouco a pouco, a se enfraquecer.
Entendam: em um Estado de bem-estar geral, sobra-se muito tempo para a reflexão e, conseqüentemente, para a crítica, algo que vai diretamente contra a idéia de poder totalitário e centralizado.
O povo refletia mais e, portanto, passava a cada vez mais desconfiar da figura do Faraó.
Era necessária uma solução que retrocedesse o estado da população egípcia à total necessidade de conforto burro que um governo ditatorial oferece.
Era necessária a criação de uma nova crise.

Uma guerra? Arriscado demais. Uma peste? Como ter controle?
Não. Algo maior. Uma construção. Algo que sugasse todas as energias da alma do Egito, algo que gastasse quase todos os recursos naturais do país e, principalmente, algo que embrutecesse e mastigasse a população a tal ponto que mal sobraria espaço para a reflexão. E melhor: algo cuja utilidade fosse completamente supérflua.
Um túmulo. Uma Pirâmide.

E os conselheiros, após uma completa explicação ao faraó sobre a ligação que a pirâmide possuía com seu poder, após demonstrar que a construção tem muito mais a ver com a Vida do que com a Morte, ouviram a setença do governante.
Faremos a Pirâmide. E que seja a maior e mais incrível de todas.

Crônicas de uma construção.

Pirâmide, A

Piramida
Ano de Edição: 1994, 2000 no Brasil
Autor: Kadaré, Ismail
Número de Páginas: 152
Editora:Companhia das Letras

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