O Padrasto (The Stepfather)

Filmes bons que passam batidos sexta-feira, 15 de março de 2013

Jerry Blake casa-se com mulheres viúvas ou divorciadas com filhos, buscando a familia perfeita. No entanto, ninguém é perfeito. Quando a família não demonstra ser como ele idealizava, o sonho de uma família feliz se transforma em carnificina.

Gosto de filmes de terror. Dentro do gênero não tenho preconceitos e assisto a tudo, há menos que venha das mãos de M. Night Shyamalan. Gosto do medo, do susto, das cenas de gore, do suspense. Comecei a assisti-los aos seis anos de idade. E não me perguntem por que, mas meus pais não apenas permitiam que eu assistisse como alugavam no nome deles, já que eu era uma criança sem comprovação de residência e sem dinheiro para sustentar o vício.

Nessa época eu tinha uma amiga que dormia na minha casa praticamente toda sexta-feira. E nesses dias especiais, porque sou filha única e tinha amigos imaginários para suprir a carência, mamãe passava no supermercado para comprar coisinhas gostosas para comermos e, de quebra, alugava uns filmes. De terror, lógico. E dos mais bizarros.

 Hey, mommy!

Era muito divertido. Nesses dias me sentia “a adulta” porque íamos dormir “supertarde” às 22h30. Chegávamos do colégio, fugíamos do banho, jogávamos Mortal Kombat II no Mega Drive, brincávamos de atacar a geladeira quando todos iam dormir e, claro, assistíamos a todos os filmes de terror que pudéssemos agüentar. E foram muitos ao longo dos quase 20 anos de amizade. Sem restrições. Poderíamos assistir na mesma noite filmes sobre eletrodomésticos assassinos e clássicos como O Bebê de Rosemary. Conhecemos todos os filmes das franquias mais (E menos) famosas dos anos 80. Mas de todos, O Padrasto, livremente inspirado na história de John List, sempre foi meu slasher film favorito. As sequências (II e III, de ano 1989 e 1992, respectivamente) também são boas, mas menos perturbadoras. O remake meia boca todo mundo viu na TV. Se viu no cinema, sinto muito pelo dinheiro gasto no ingresso. Para quem não viu, um aviso: É uma merda. Já o original, poucos são os privilegiados que conhecem. Ou eu conheço poucos privilegiados. Continuemos…

Terry O’ Quinn interpreta John Locke Henry Morrison, homem que assassinou sua família. Não, isso não é um spoiler. O filme começa com Terry completamente ensanguentado em uma das cenas mais aterrorizantes que já vi em minha vida. Junto com sua família, morre a personalidade de Henry. Um ano depois do crime, vemos uma mesma face, mas com um nome diferente. Desta vez, ele se chama Jerry Blake, recém casado com a viúva Susan. Eles vivem uma vida familiar ideal, praticamente invejável. No entanto, apesar de ser um bom marido e padrasto, sua enteada Stephanie não gosta dele e sente que há algo estranho no homem que vive em sua casa.

A investigação sobre a morte da família Morrison ainda é notícia e ao ver no jornal que ainda comentam sobre o fato, Henry/Jerry começa a surtar e a demonstrar atitudes suspeitas e agressivas. Stephanie desconfia de que seu padrasto seja o tal assassino do noticiário e se empenha na investigação contra o homem que ela acredita não ser quem diz que é. Não me perguntem como a garota chega a conclusão de que o cara que casou com sua mãe é um assassino sanguinário procurado pela polícia. Por mais esquisitão que o cara seja, essa não é uma coisa que você supõe assim, do nada. Mas ela tava certa mesmo e, em meio a pressão, seu padrasto começa a deixar a máscara cair e se envolve cada vez mais nas mentiras que criou.

O filme não tem surpresas “típicas”. Sabemos quem é o assassino e compreendemos antes da metade da trama suas motivações. Mas isso não quer dizer que não existe suspense. É tenso do começo ao fim. Li muitas críticas positivas, mas também li pessoas reclamando da violência gratuita do filme. Que a história não justifica a quantidade de sangue derramado. Porra, meu amigo, não existe justificativa para a psicopatia. Ou você tem, ou você não tem. Quer uma história rica em detalhes, bem trabalhada em incesto e sexo diálogos filosóficos? Vai ver Almodóvar e não enche meu saco. O Padrasto é para pessoas de estômago forte e que curtem ver sangue e marretadas na cabeça. Sem desculpas e sem chatice.

Quinn interpreta o protagonista com uma habilidade ímpar. Ele claramente comprou o personagem, apesar de não ser um desses papéis que marcam uma carreira. Temos retratado na tela um homem assustador, violento e genuinamente insano. Um homem sem limites e, claramente, com daddy issues. Contrariando os chatos que não gostam de sangue em filmes de terror, eu vejo uma crítica muito forte não apenas ao estilo de vida americano, mas também na forma que o ser humano em geral lida com a própria imagem. A falta de espontaneidade, a obrigação de ter mulher/marido e filhos, uma casa no subúrbio. A facilidade com que as pessoas se entregam a novos relacionamentos por causa do medo da solidão. Superficialmente podemos parecer normais e felizes dentro das nossas casas, ao lado de nossas famílias. Mas o mal está sempre rondando e se esconde onde menos esperamos. Aprendi a lição direitinho. Enquanto as meninas normais buscam por amantes nos celulares dos namorados, eu vou em busca de antecedentes criminais, máscaras suspeitas e materiais potencialmente letais nas gavetas e embaixo da cama.

 John Locke, pai de família.

Quando vi Terry O’Quinn em Lost senti um arrepio na espinha, porque pra mim ele vai ser sempre o Padrasto. Aquele cara que pode matar meu pai, casar com a minha mãe e me sufocar com o travesseiro enquanto eu estiver dormindo porque saí pra buatchy e cheguei tarde em casa. Posso assistir a esse filme mil vezes e com a idade que for. Ainda vou implorar por um espaço na cama da mamãe na hora de dormir e comprar um pacote de Pampers… Só pra garantir.

O Padrasto

The Stepfather (89 minutos – Terror)
Lançamento: Estados Unidos, 1987
Direção: Joseph Ruben
Roteiro: Carolyn Lefcourt, Brian Garfield, Donald E. Westlake
Elenco: Terry O’Quinn, Jill Schoelen, Shelley Hack, Charles Lanyer, Stephen Shellen

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