Mexendo com Telas – Parte 2

Clássico é Clássico segunda-feira, 04 de maio de 2009

Continuando com as minhas comparações entre famosas obras da pintura e da sétima arte, hoje trouxe três grandes representantes de cada uma.
Sejam quadros renascentistas ou modernistas, filmes em preto e branco ou coloridos… tudo é válido quando se está Mexendo com Telas.

GUERNICA X APOCALYPSE NOW

Começamos logo com duas obras primas, ambas manifestos universais contra os horrores da guerra, feitas por dois grandes gênios de suas reespectivas artes: Picasso e Francis Ford Coppola (da trilogia O Poderoso Chefão). A primeira retratando a Guerra Civil Espanhola, enquanto a outra, a Guerra do Vietnã.
Além das semelhanças temáticas, se tratam de dois trabalhos imensos. Para se ter idéia, a tela de Picasso tem cerca de 3.50 X 7,75m e precisou de 5 semanas para ser feito. Pouco, perto dos 16 meses de filmagem de Apocalipse Now (a previsão eram de apenas 6 semanas) que resultou em cerca de 2h30 de filme (com quase uma hora extra na versão Redux, lançada em 2001).
Maior ainda eram os problemas nos bastidores: Martin Sheen por pouco não morreu devido a uma parada cardíaca, um furacão destruiu grande parte do set e Marlon Brando (que recebera um cachê astrônimico) apareceu mais gordo que o Ronaldo, sem saber nenhuma linha do diálogo e se recusando de aparecer nesse estado, na frente das câmeras (por isso todas as suas tomadas são na penumbra). O resultado? O melhor filme de guerra já feito.

A ESCOLA DE ATENAS X AMADEUS

Novamente temos o caso de duas obras monumentais (ainda maiores do que as anteriores):A Escola de Atenas um quadro lotado de simbolismos, pintada por uma das tartarugas ninjas Rafael, e Amadeus, o trabalho máximo de Milos Forman (que já tinha feito Um Estranho no Ninho e Hair). Duas figuras históricas tomam o lugar central de cada trabalho: no quadro, os filósofos Platão e Aristóteles, no filme, os músicos Mozart e Salieri (cujo papel deu o Oscar de melhor ator pra F. Murray Abraham).
É necessário ressaltar a perfeição técnica de ambos – uma verdadeira homenagem as ciências e às artes, reespectivamente. Se em A Escola de Atenas são mostrados mestre e discípulo lado a lado, em Amadeus nos é mostrado uma relação de adimiração e ódio, por parte de Salieri, para com o jovem e irresponsável, porém genial, Wolfgang Amadeus Mozart. Vencedor de 8 Oscars (incluindo melhor filme) a obra prima de Forman é repleto de cores vivas e com uma expressão teatral que muito remete ao quadro de Rafael.

FALCÕES NOTURNOS X FALCÃO MALTÊS (a.k.a. Relíquia Macabra)

Obs. Relíquia Macabra foi o nome dado aqui no Brasil. Mas o que pegou mesmo foi a tradução literal do título original.
Esqueçam o nome. Essa é a menor das semelhanças entre as duas obras. Falcão Maltês, de Jonh Huston (diretor que ganharia dois Oscar anos depois com o sensacional O Tesouro de Sierra Madre), além de levar Humphrey Bogart ao estrelato, inaugurou o noir americano – estilo visual que se popularizou nos filmes policias da época. Apesar de alguns historiadores apontarem O Homem dos Olhos Esbugalhados (sem comentários quanto a tradução), feito um ano antes, em 1940, como precursor, não atingiu muita visibilidade.
Entre suas características: a femme fatale, os personagens de conduta moral duvidosa e as ruas ameaçadoras e solitárias. Essa atmosfera nociva e triste, expressam justamente os sentimentos de depressão e solidão, pela qual passou o povo americano (saindo da crise e entrando em uma nova Guerra Mundial em um espaço de uma década), e são as principais marcas do quadro de Edward Hopper (cujo bar seria retratado no filme O Fim da Violência de Win Wenders décadas depois), pintado uma ano após o filme de Bogart. O vazio e melancolia de ambas as obras era uma resposta a ideologia patriótica do American Way of Life.

A partir dessas comparações, por mais superficiais que sejam, é possivel perceber como estilos artísticos, estejam separados por séculos ou por um ano, traduzem sentimentos e preocupações humanas de formas diferentes, mas ainda sim, mantendo certa semelhança.
Bom… melhor parar por aqui. Se não daqui a pouco a turma do cavalete vem reclamar que eu estou metendo o meu pincel na aquarela deles.
E com esse lixo de comentário, eu me despeço.

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