Mexendo com Telas – Parte 1

Clássico é Clássico segunda-feira, 23 de março de 2009

Mais um tema recorrente nesta coluna. Em Mexendo com Telas, eu farei com que grandes pintores fiquem se remoendo no túmulo, irei fazer comparações de algumas obras primas da pintura com clássicos do cinema. Nada muito específico, apenas uma forma de trazer informações sobre outros tipos de artes, na tentativa de deixar, vocês, meus leitores menos burros um pouco mais cultos.
Inclusive é por este motivo que os meus parâmetros para comparação podem ser qualquer coisa: o estilo, tema, fama… O que der pra relacionar um quadro com um filme, tá valendo. Afinal, clássico é clássico – independente se for pintado em uma tela ou reproduzido em uma telona.

MONA LISA x CIDADÃO KANE

Não poderia deixar de começar com os dois maiores representantes de suas reespectivas formas de arte. Porém, a qualidade de ambos é apenas um dos aspectos que podem ser comparados. Seus autores, por exemplo, também podem ser equiparados, não só pela genialidade, como pela versatilidade.
Se Leonardo Da Vinci foi considerado um gênio em diversos campos (arquitetura, botânica, cartografia, engenharia, entre outros além de própria pintura), não se pode negar que Orson Welles também mostrou competência em mais de um ofício. Lembremos que no filme em questão, por exemplo, trabalhou como diretor, protagonista e co-roteirista.
Outro ponto em comum é ligação de ambas as obras por um mistério – seja o enigmático sorriso de Mona Lisa, ou a misteriosa última palavra de Kane. Ambos, além de tudo, trouxeram gigantescas inovações técnicas, sendo assim fundamentais na história da arte. Para exemplifcar algumas – enquanto o quadro de Da Vinci, retoma a impressão de movimento, o contrapposto da escultura clássica – de forma a “reagir” de acordo com a posição em que a olhamos, Welles revisita algumas inovações dispersas criadas no cinema experimental, fazendo com que interejam e dando-lhes, dessa forma, um sentido. Outros pontos dignos de nota é a quebra com as obras até então – tanto o olhar direto e não submisso da Gioconda, quanto os recortes temporais de Cidadão Kane tão comuns hoje em dia, devem sua utilização por esses dois grandes mestres.

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA x UM CÃO ANDALUZ

Claro que haveriam milhares de semelhança entre estas duas obras, afinal Salvador Dalí foi o pintor e co-diretor (ao lado de Buñuel) de ambas. Ambos são exemplos clássicos do surrealismo em diferentes artes, se utilizando de uma inspiração onírica bebendo muito dos estudos do inconsciente freudianos, e por isso mesmo sem um sentido definido – a não ser levar a Uiara a loucura.. Os relógios, instrumentos mecânicos e por isso regulares, ao adquirir um aspecto fluido, nos remetem a um mundos de sonhos. As formigas – figuras presentes em ambas as obras, são o símbolo de decadência, e enquanto no quadro atacam o único dos aparelhos ainda sólido, fazem o mesmo com a mão de um dos personagens do curta.

A BIGGER SPLASH x UM CONVIDADO BEM TRAPALHÃO

Ambos são obras que demonstram sua genialidade através da simplicidade. Tanto o quadro de David Hockney quanto o filme de Blake Edwards, nao se utilizam de uma técnica primorosa – e ainda sim, são muito mais expressivas que inúmeras obras renomadas. Além de um cenário misteriosamente semelhante (o filme também se passa em uma casa com portas de vidro e tem a piscina como elemento fundamental), o tema de ambas também é comum – a tensão entre Ordem e o Caos.
Enquanto no quadro, o mergulho é o único sinal de humanidade em um vazio pertubador, o mesmo pode se falar da presença do personagem de Peter Sellers em The Party, no original. Afinal, falamos de um desastrado figurante que é convidado, sem querer, para uma festa de alta sociedade – onde todos agem de acordo com suas frívolas máscaras sociais, e é a presença atrapalhada do protagonista, que retoma de certa forma a humanidade do local. Retomando o aspecto da simplicidade, vale ressaltar que o filme foi filmado em ordem cronológica (o que é raríssimo), sendo as cenas escritas momentos antes das gravações, pela equipe que decidia qual seria a próxima situação absurda que poderia acontecer.

É com esse clássico, que considero um dos mais genias filmes já produzidos (não devendo nada as outras obras citadas nessa coluna), que encerro o assunto de hoje. Espero voltar nesse tema outras vezes, afinal, se existe algo tão bom quanto cinema, com certeza é dar uma pintada.

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