Metallica – World Magnetic Tour (POA)

Música quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tudo começou em novembro, quando o Opinião abriu as vendas dos ingressos para um dos maiores shows que Porto Alegre já teve. Meu namorado foi pra fila às 4h da manhã (Pois eu moro em Caxias do Sul) e já tinha umas 10 pessoas na frente dele. Como ele não podia ficar na fila até o momento que abrissem a Multisom, um amigo dele ficou no seu lugar e pegou para nós dois ingressos na área VIP.

 Vejam que a fila não é só comprida, como também…gorda.

Esperamos ansiosamente pelo show. Ele muito mais do que eu, visto que é fã há muito mais tempo do que eu sou. Comecei a ouvir Metallica pra valer ano passado, por volta de março. Antes eu conhecia somente as mais famosas de cada álbum e não era muito fã de thrash, ou seja, ainda ouvia “Filé-de-borboleta Metal”, composto por Nightwish e assemelhados.

Finalmente chegou o dia 28 de janeiro de 2010. Forno Porto Alegre estava em mais um de seus dias escaldantes para uma imigrante do interior do estado, mais precisamente da serra. Fiz uma breve refeição no Aeroporto Salgado Filho, que fica em frente ao Parque Condor, local que abrigou o show, pois o Zequinha não foi liberado pelos bombeiros. As únicas pessoas para quem a mudança de local não afetou em nada era quem iria ficar na pista em pé e quem comprou área VIP. O resto, que adquiriu arquibancada e cadeiras se ferrou bonito, pois as cadeiras ficavam praticamente ao lado do palco no Zequinha, e no parque elas foram transferidas para mais longe, numa estrutura que prejudicava mais ainda a visão para o palco. A arquibancada era pra pessoas como eu, que não tinham grana pra VIP, porém tinham mais apego à sua saúde e preferiam fugir do aperto da pista. A organização do show ofereceu reembolso para quem se sentiu prejudicado ou a oportunidade de conseguir ingressos melhores, desde que pagasse a diferença de preço. Eu consegui a VIP graças à uma ajuda de custo do meu namorado, que inteirou 90 pila e garantiu que eu fosse ficar mais perto do palco e em segurança.

Chegando na entrada do parque, às 19h, percebemos que ainda tinha fila para entrar. Estávamos em três malucos nessa altura do campeonato, ou seja, eu, meu namorado e um amigo dele, mais conhecido como Japa. Logo que passamos o primeiro gargalo, já deu pra sentir o chão mais…fofo. Tinha chovido umas horas antes do show, e provavelmente poderíamos pegar, no máximo, algumas poças no caminho. Onde a gente estava caminhando não estava seco, mas também não chegava a ser um banhadão. Passando o segundo gargalo, pra entrar na área VIP, aí sim a coisa ficou feia. Além de poças, tinha O SENHOR barro. Dava pra colocar duas minas de biquini e mandar elas lutarem numa boa.

 Esperem até ver a foto do barro.

Pouco antes de chegar onde o povo tava, tinha uma lojinha improvisada vendendo as camisetas da turnê. Antes de sair do aeroporto, eu tirei uns 100 reais pra garatir a camiseta, uma ou duas garrafas de água e o taxi. Cheguei na lojinha, e pedi o preço e quase caí sentada no lamaçal. Setenta reais!! O máximo que paguei por uma camiseta foi 40 reais, no Live N’ Louder, que também aconteceu em POA. Quando me recuperei do susto, eu mesmo assim escolhi uma e paguei, afinal, não é todo dia que eles decidem fazer show por aqui. O último foi há 11 anos atrás e sabe-se lá quando vão voltar de novo.

 A diferença dessa para a minha é que tinha só 2010 na frente e as datas da turnê na América Latina.

Chegando na área VIP, nem mais mato tinha no chão. Só um puta barro, que meus tênis afundavam como se eu tivesse pisado num monte de cocô de vaca. É claro que o chão podia estar coberto de fãs de Megadeth cheio de cocô de elefante que eu jamais iria desistir de ver um show tão fodástico. Já fui em shows que o aperto era tão grande que eu podia pular e não encostar mais meus pés no chão. Quando Iron Maiden tocou por estas bandas, enfiaram 15 mil pessoas dentro do Gigantinho (Que não caberia 10mil) achando que ia ficar tudo bem. Mesmo nas arquibancadas, as pessoas estavam quase coladas umas nas outras, o que acarretou na invasão das cadeiras e alívio de quem já estava na merda por ver o show de longe.

 Isso era a pista vip. Imagina a pista normal, que tinha mais gente em menos espaço?

O show de abertura foi com Hibria, banda de Porto Alegre de power metal. Eu tenho meus poréns com o power metal, pois quando eles tentam fundir com o progressive metal, só pode dar porcaria. Fica uma música de 45min com vocal agudinho e bateção de caixa, fazendo com que meus ouvidos clamem por um protetor auricular. Os fãs de Hibria podem falar o que quiserem, mas eu achei a banda uma merda. Organizações de shows nunca sabem escolher as bandas certas para abertura. Por exemplo, no Live N’ Louder (POA), colocaram folk metal de abertura de um festival composto basicamente por death, gothic e speed metal. A única exceção que tinha lá era Scorpions, por isso acho que o erro deles não foi uma coisa tão horrível assim. Agora bilu-bilu-power metal com thrash é realmente a coisa mais burra que eu já vi na vida. Pior do que isso, só Carlinhos Brown fazendo a abertura do show do Iron Maiden no Rock in Rio.

 Um cara desse tamanho canta mais fino do que muita mulher.

Depois que acabou o show de abertura, recolocaram a péssima seleção de músicas que só uma organização de show sabe escolher. Imagino eles selecionando as faixas minutos antes do espetáculo:

“-O quê tu acha que devemos tocar antes do show começar e no intervalo entre a banda de abertura e a banda principal?
-Ah, acho que qualquer coisa que tenha guitarra deve estar bom.
-Tem que colocar uns sons pesados também, afinal, eles são do maaal…
-Ah tá, tudo bem. Ontem um amigo meu me mostrou um monte de coisa legal, fui na casa dele e tinha Smashing Pumpkins, Green Day, Megadeth, AC/DC e umas outras coisas lá que eu não sei o quê é, mas tem guitarra.
-Beleza, enfia tudo isso num CD e deixa rodando!
-Tá!”

Depois de uns 5 minutos de espera, já era possível ouvir cânticos que evocavam a aparição da banda no palco. Uns diziam “Metallica” em bom som, outros cantavam trechos de alguma música e outros apenas tentavam respirar naquele monte de gente suada que emanava um calor parecido com uma sauna. O lado ruim disso tudo é suar até onde você achava que não poderia suar e o lado bom é que isso sim é um show de verdade. Creio que ficamos na espera do show começar uns 10-15min e nesse meio tempo, a concentração de gente aumentou consideravelmente perto do palco. Eu estava à uns 15m do palco e mesmo assim, tinha tanto marmanjo quanto anãs de circo (Com a desculpa de “ainn, num vou cunsigui inxergá u xou, min dá um espasinhu??”) tentando atravessar a multidão de qualquer jeito. Eu não me abalei, afinal, 1,69m me garantem uma visão um pouco mais privilegiada, embora o padrão do metaleiro é ter 2 metros de altura e 5 de largura.

Tudo começou com Ecstasy of Gold, passando o final do filme The Good, The Bad and The Ugly. No que terminou, a banda explodiu com Creeping Death, levando o público ao delírio e nos fazendo pular como malucos. A essa altura, o barro era o menor dos meus problemas e o maior deles foi conseguir enchergar o palco, já que duas estátuas tinham aparecido na minha frente do nada. Do set list de Porto Alegre eu conhecia praticamente todas as músicas, porém tinha decorado a letra de algumas somente. Aí veio For Whom The Bell Tolls e eu destruí minha garganta cantando a música toda o mais alto possível. Como esta é muito mais popular, o coro de vozes cantando junto era bem mais alto do que antes, fazendo muita gente se arrepiar. Em seguida veio Ride The Lightning e The Memory Remains, que eu ouvi poucas vezes, mas ao vivo as músicas soavam muito melhores do que no meu humilde iTunes. Eu cheguei a decorar frases que se repetiam em ambas, só pra não ficar de fora. Quando terminou, James Hetfield subiu numa elevação que ficava no palco e tocou os acordes iniciais de Fade to Black. Nesse momento minhas pernas amoleceram, pois mal consegui controlar a emoção de cantar no show uma música que cantei inúmeras vezes com a banda que eu participava. Essa música sempre mexeu comigo, de uma forma que eu não sei explicar, mas eu simplesmente acho que é pessoal demais para achar um motivo que faça vocês entenderem como eu me sinto. Só tenho três palavras que poderiam definí-la: Foda pra caralho.

Em alguns momentos, James conversava com o público, pedindo qual música queriam ouvir ou se queriam algo mais pesado. Em meio aos berros dos fãs enlouquecidos, eles continuavam com o set list e tocavam a próxima música. Nisso, veio That Was Just Your Life e The End Of The Line, ou seja, mais outras duas que não eram tão familiares. Quando alguma música que eu conhecia menos era tocada, eu aproveitava para tirar algumas fotos, afinal, palhetas e baquetas é algo que só se você for muuuito alto ou com muita sorte para conseguir pegar. Como eu sou azarada pra caralho (Até hoje só consegui uma palheta do Edguy) e baixinha, o negócio foi garantir as fotos. Como vocês podem perceber, eu não consegui levar minha câmera, pois fiquei com medo que no dia da revista eles mudassem de idéia e decidissem recolher as câmeras da galera. Já vi gente que passou por isso e, particularmente, acho uma grande palhaçada. Tudo bem, a banda vive de merchandising, mas porra, o que custa deixar os fãs tirarem fotos? Além da oportunidade de ter conseguido grana pro ingresso e de ver a banda ao vivo, a única coisa que nos resta além da nossa memória (Que com sorte não terá Alzheimer) são míseras fotos pra ficar olhando em momentos de nostalgia. Foi pensando nisso tudo que eu decidi levar apenas meu celular e tirar fotos assim mesmo, já que celular eles não recolhem. A qualidade é ruim porque eu me recuso a investir grana num aparelho que amanhã pode ser roubado de mim, sei lá, no ônibus. Como a resenha é minha, eu coloco as minhas fotos e pronto. Quem quiser fotos melhores, use o Google.

Eu confesso que ouvi poucas vezes o novo álbum, o Death Magnetic. Quando tocou The Day That Never Comes eu até consegui cantar junto, já que foi a faixa que mais ouvi. Logo depois veio Sad But True, que ficou meses no meu mp4, garantindo que eu soubesse até os tempos dos instrumentos e pudesse dar umas chicotadas no pessoal ao redor, agitando a cabeça freneticamente e fazendo meus músculos do pescoço me odiarem por uma semana. Aí veio Cyanide, que é outra música realmente muito boa, porém como eu havia ouvido menos que a anterior (Do mesmo álbum) supracitada, acabou me garantindo outra pequena tentativa de tirar fotos dos caras.

Em One, eles se superaram. Até então, tudo que tínhamos visto era a ótima qualidade dos telões e do show de luzes. Eles apagaram toda a iluminação do palco e puseram a introdução de One, com barulhos de típicos de campo de batalha. Aí, de repente, saiu umas labaredas altas de fogo, cujo calor até eu senti, a 15m do palco. Usaram fogos de artifício também, o que deixou tudo mais foda ainda!

One é uma música que é perfeita sozinha, sem precisar de mais nada além dela mesma. Com o show pirotécnico, ficou além da perfeição, quase algo inacreditável. São essas coisas que fazem um ingresso valer cada centavo, cada hora extra trabalhada para conseguir comprá-lo. Depois veio Master of Puppets e Battery, igualmente usando labaredas e fogos de artifício. Eles realmente queriam que esse show jamais fosse esquecido por nós, que a gente ficasse falando dele por meses e meses após este dia. Em Nothing Else Matters, eu me acabei cantando junto do meu excelentíssimo namorado, pois essa música foi simplesmente feita pra isso. Em seguida eles puxaram Enter Sandman, sugaram o máximo de energia do público, agradeceram a presença de todos e se mandaram. Como não poderia faltar, o público ficou chamando a banda o mais alto que podia, para ouvir pelo menos mais uma música. Depois de uns 2-3 minutos, eles voltaram e James pedia se queríamos realmente que eles voltassem ao palco. Após os gritos alcançarem a estratosfera, eles irromperam com Die, Die My Darling. Eu posso dizer que essa era uma música que eu jamais esperaria que eles tocassem ao vivo num show no sul do Brasil. Foi a coisa mais aleatória que eu presenciei, e olha que tinha até cadeirantes na platéia (Antes que me joguem pedras, eu nunca estive num show onde tivesse cadeirantes no meio do público). Depois veio Phantom Lord, que eu agitei junto sem conhecer a música. Ligaram as luzes novamente e James pediu se queríamos mais uma música. Como uma pergunta óbvia, a resposta foi igualmente óbvia. Desde que eu ouvi falar do show, eu esperei (De verdade) que tocassem apenas uma do Kill ‘Em All, especificamente. E para a minha grande surpresa, foi essa mesma que tocaram, ou seja, SEEK AND DESTRROOOY!!! Mais uma vez minhas pernas se amoleceram e eu lutei para manter a sanidade no meio de tanta vontade de berrar o mais alto que pudesse, tão alto que (Na minha ilusão), faria James notar a minha presença no público.

 “Our brains are on fire with the feeling to kill, and it will not go away until our dreams are fulfilled.”

Por fim, eles se juntaram no palco, deram-se as mãos, agradeceram o público, jogaram palhetas e baquetas (Que eu obviamente não consegui pegar) e saíram. Muita gente tentava procurar palhetas no chão coberto de lama e coisas que prefiro nem pensar que poderiam estar ali, enquanto que o resto da massa tentava sair dali. Eu nunca tinha visto um engarrafamento de pessoas e nunca tinha dados passos tão lerdos na minha vida. Pra sair do local onde eu estava até o aeroporto, com certeza levei mais de 40 minutos. Encontrei até um amigo na multidão, que estava na pista normal, pra vocês terem uma ideia da lentidão. Lá fora eu me dei conta da quantidade de barro que tinha nos meus pés e nas minhas pernas. Por sorte encontramos uma torneira logo na estrada do aeroporto (Já com uma pequena fila) e pude tirar a maior parte do barro. Havia um mar de gente de preto, esperando qualquer tipo de condução até suas casas, hotéis ou onde quer que estivessem hospedados. Pegamos um ônibus até a casa do Japa (Ainda lembram dele, lá no começo do texto?) e ele gentilmente nos deu carona até em casa. Isso tudo aconteceu entre meia noite e 3 da madruga.

Me faltava um show dessa dimensão no meu currículo de shows. Agora posso até morrer, pois eu vi a maioria das bandas que mais me influenciaram no mundo do rock. Além do êxtase de estar ali, participando de tudo, ainda foi possível fazer amizade com um monte de gente. Incrível como é possível até arranjar parcerias no meio dessa confusão, combinar de ir todos juntos pra frente na hora do intervalo, abrir caminho e revezar na hora de comprar uma água ou uma cerveja. Esse clima, essas pequenas coisas me fazem cada vez mais ir em shows cada vez maiores, somente para poder dizer que não apenas existi, porém vivi o mais intensamente que pude.

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