Jane Austen – Parte 2

Livros quarta-feira, 26 de junho de 2013

Como prometido (Viu como a segunda parte chegou?) aqui estou eu para a segunda parte do texto sobre as obras de Jane Austen. Na primeira parte, eu falei sobre os três primeiros livros dela publicados: Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito e Mansfield Park. No texto de hoje vamos aos últimos três: Emma, A Abadia de Northanger e Persuasão.

Vamos ao primeiro deles, que é Emma. A obra foi publicada em 1815, quando Austen já tinha certa fama no mundo da literatura. A personagem principal, que dá nome a obra, é uma jovem rica, linda e solteira. Ao contrário das outras heroínas de Austen, Emma é de família abastada e não está em busca de um marido. Ela mesma justifica sua completa ausência de romantismo e da vontade comum em se casar por dizer que não precisa de um marido, visto que é rica e, portanto, não precisa da segurança financeira que a maioria das jovens precisaria. Perdeu a mãe bem cedo, e tendo sua irmã mais velha já casado, ela é quem assume a responsabilidade de administradora da casa. Cumpre muito bem o papel de anfitriã e cuida muito bem do idoso pai, cheio de neuras com doenças. Emma é amorosa, gentil, intelectual e é adorável vê-la discutir em pé de igualdade com os homens, coisa incomum na época. Apesar disso, Emma é vaidosa demais, confia demais em seu julgamento dos outros e visto que se julga uma expert em identificar sentimentos e motivações em outros, ela manipula os que estão ao seu redor para agirem conforme ela acha que lhes será melhor. Faz isso de forma às vezes arrogante, mas não faz o que faz por maldade e sim o contrário. Ela quer que as pessoas sejam felizes, mas acha que precisa intervir na vida delas para isso.

O mocinho da história, Mr. Knightley, acredito que seja o meu favorito. Ele é a voz da razão num meio que acha que apenas Emma tem a razão. Ele percebe que ela interfere na vida dos outros e briga seriamente com ela por isso. Mas ainda assim é gentil ao falar com Emma, não querendo ferir seus sentimentos, mas firme o suficiente pra fazê-la entender. Ao contrário de Emma, Mr. Knightley vê como as pessoas realmente são e consegue mesmo enxergar as motivações delas. A coisa então desanda para o lado de Emma quando ela impede a amiga Harriet de casar com o moço que ela ama, por achar que ele não é um partido adequado para a amiga. Mr. Knightley fica revoltado com a intromissão de Emma em um assunto que ela desconhece: Os sentimentos verdadeiros de ambos (Da amiga e os do moço). Apenas quando o mocinho da história expõe o caráter de Emma para a própria é que ela percebe o erro e nota como pode ter ido longe demais. Como sempre, Jane Austen nos traz diálogos afiadíssimos, e como eu disse antes, discussões longas sobre diversos assuntos, nunca perdendo o timbre irônico que marca suas obras. Os diálogos nunca são interrompidos para descrever roupas, casas ou pessoas. Tudo é explicado de forma leve, em que se sabe como vivem os personagens e como são suas personalidades sem se delongar ao ponto de cansar o leitor. Nessa obra, o romance em si é meio que deixado em segundo plano, dando destaque para o amadurecimento de Emma. Vemos como não é lá muito proveitoso, pra nós e pra outros, querermos nos meter em assuntos dos corações alheios, visto que nem sempre sabemos os dois lados da história. E querer julgar os outros pelo que achamos ser o certo é quase certeza de fracasso.

O próximo livro é A Abadia de Northanger, publicado depois da morte da autora. Foi escrito entre 1798 e 1799 e publicado em 1817. Acho essa a obra mais irônica e divertida de Austen. É também o romance que mais foge do estilo da autora, visto que aqui temos uma bela paródia dos romances góticos, famosos na época. A Abadia de Northanger é daqueles livros que divertem demais, é leve, mas aqui Austen usa menos sua ironia com os costumes da época. É claro, existe a crítica, no caso ao preconceito da época de que leitura era um hábito fútil e que livros escritos por mulheres não eram dignos de leitura. Porém, a característica mais marcante dessa obra é a hilaridade das situações que a personagem principal imagina. A heroína da vez é Catherine Morland, uma jovem entre os 15 e 17 anos, que simplesmente adora os tais romances góticos. Catherine também é muito ingênua, mas é uma boa pessoa, muito alegre e gentil. É uma leitora voraz, porém lê apenas esses tipos de romances ‘água com açúcar’, quase um Crepúsculo. Como toda adolescente fã de romances irreais, Catherine confunde a realidade com a fantasia que ela quer que exista em sua vida, igual a que ela lê. Ela se mostra absurdamente ingênua e se não fosse a delicadeza de Austen em criar heroínas, ao invés de odiarmos a garota (Como fazemos com as adolescentes retardadas) nós nos apaixonamos pela adorável bobinha.

Ela é convidada pelos vizinhos a passar uma temporada em Bath, e com isso conhece os irmãos Isabella e Jhon Thorpe. Isabella se mostra uma jovem ótima para se ter como amiga e seu irmão Jhon um belo e muito animado paquerador de Catherine. A garota, porém, não está nem aí para o moço. Mais pra frente, porém, vemos que os irmãos não são exatamente o que parecem. Ao longo da sua estadia ela acaba fazendo amizade também com outro casal de irmãos, Eleanor e Henry Tilney. Esses por outro lado, são bem mais dignos de serem chamados de amigos. O jovem Henry é o escolhido para o coração de Catherine, e sua irmã Eleanor uma jovem que realmente acrescentará algo a Catherine. Com o tempo, os dois a ajudam a ver a realidade da vida e mostram a garota o mundo da forma que ele é e tentam fazê-la entender a diferença entre os romances góticos e a vida real. Quando Catherine é convidada para passar uns dias na casa da família Tilney (A tal Abadia de Northanger) e enquanto ela continua sua leitura do romance gótico, Catherine começa a criar fantasias sobre a abadia e confunde a realidade com sua imaginação. Cria teorias de assassinato contra o dono da casa e tudo… Quando, porém, Henry a pega em sua louca investigação sobre o suposto mistério da Abadia, ele fica muito decepcionado e chuta o balde explicando a Catherine que a realidade não é como nos romances que ela lê. É aí que a bobinha percebe que realmente é fútil ter uma visão da vida tão estreita e baseada em histórias irreais. A Abadia de Northanger é um livro delicioso de se ler. E se você é do tipo que acredita que a vida real é como nos romances que lê, e acha que seu perfeito Edward Cullen (Ecaecaecaecaecaeca) vai aparecer, esse livro é pra ti!

O terceiro e último livro de hoje também foi o último romance completo escrito por Jane Austen. Persuasão também foi publicado postumamente, em 1818. Na época em que o escrevia já estava doente, doença esta que a levou a morte, em 1817. É o romance mais curto de Austen, mas é meu segundo favorito. A autora constrói da forma brilhante de sempre uma história em que a heroína, diferente de suas outras heroínas, já não é tão jovem. E como sempre, sua crítica aos mais abastados, que acham que os mais pobres que eles não deviam ser levados em conta. Jane Austen mostra também que com persistência, ambição e trabalho duro pode-se alcançar seus objetivos. Anne Elliot já está com seus 27 anos, é muito perspicaz, enxerga bem o caráter das pessoas, é bondosa, sensível, mas não tão alegre quanto antes e permanece solteira. Descobrimos logo nos primeiros parágrafos que é a segunda filha do baronete Sir Walter Elliot, um homem extremamente vaidoso, arrogante, extravagante e que com sua filha mais velha, Elizabeth, gasta muito, mas muito mais do que devia. O ponto da história, no entanto, é o amor frustrado de Anne pelo agora Capitão Frederick Wentworth. Na época em que se conhecem, 8 anos antes de quando começa o livro, os dois se apaixonam, porém, a família influente e extremamente preconceituosa dela não os deixa levarem seu amor adiante. Visto ter perdido a mãe bem cedo, a vizinha e amiga de sua mãe, Lady Russel, acaba se tornando sua melhor amiga e conselheira. É ela quem convence Anne a recusar a proposta de casamento do Capitão Wentworth, pelo simples fato de ele, apesar de ser inteligente e ambicioso, não ter posses e seus recursos financeiros serem limitados.

Enfim, Anne é persuadida a deixá-lo, o que pra ela se tornou um tormento diário. Anne se convence então de que jamais o verá novamente, visto que ele havia ingressado na Marinha. À primeira vista eu quis dar um murro em Anne por ela ter se deixado convencer tão facilmente a deixar seu amor, porém, com a leitura, vi que as coisas não eram tão simples. A garota cresce sem uma mãe, o pai não liga pra ela, só se importa com a própria aparência e em viver da forma mais extravagante possível, a irmã mais velha é uma cópia do pai, a irmã mais nova casa-se cedo. Todos na casa a consideram quase uma serva da família. Anne encontra consolo em Lady Russel. Ao contrário do que parece, ela foi convencida sim, mas não tão facilmente. Ela realmente se casaria com Frederick, mesmo sem ele ter dinheiro algum, mas ela acaba convencida quando a velha lhe diz que não seria prudente nem benéfico para nenhum dos dois. Ela rompe com ele sim, mas vendo mais o bem estar dele do que o dela. Coincidências e acontecimentos depois, eles novamente se veem frente a frente, sendo obrigados a se encontrar sempre, visto frequentarem então o mesmo círculo social. Dói ver Anne tão angustiada e ao mesmo tempo feliz de tê-lo por perto. Ele por sua vez ainda a ama também, mas a mágoa que sente por ter sido rejeitado há 8 anos é difícil de superar. Muitos desencontros e mal entendidos entre os dois acontecem antes de finalmente se acertarem, e esses acontecimentos são narrados e descritos de uma forma que só Jane Austen poderia fazer com que não se parecesse em nada com todos os clichês de romance. Quanto tudo parece perdido, a coisa volta para os eixos certos e confesso que poucas páginas antes do derradeiro fim, algumas lagriminhas me fugiram ao ver o sofrimento de ambos, tão apaixonados quanto eram, mas impossibilitados de ficarem juntos por eventos que eu não vou contar. Por fim, a obra é mais curta, mas de forma alguma deixa a desejar se comparado aos outros romances da autora. Mostra que de uma forma ou de outra, ter o poder de persuadir alguém a desistir ou a fazer isso ou aquilo pode resultar em dor e sofrimento. Portanto, se forem convencer alguém a algo, pensem bem no que a decisão poderá causar, pensem nas consequências a longo prazo, pensem nos sentimentos dos outros envolvidos e lembrem-se que estarão alterando pra sempre o futuro de alguém. Afinal, nem sempre as coisas são como nos romances, em que a vida nos dá uma segunda chance.

Bom, acabam aqui meus textos sobre as obras de Jane Austen. Espero que leiam e que gostem das obras. Agora dá licença que eu vou ali reler todos os livros…

E como já me foi esclarecido, não preciso dar ficha técnica. Será que agora acertei?

Aline Freitas é praticamente uma funcionária do Bacon, só não sabe disso ainda. Também quer o glamour e a escravidão de colaborar com o Bacon? É fácil, prático, rápido e indolor [Pra mim].

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