Filha do Mal (The Devil Inside)

Cinema quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

 Na Itália, Isabella (Fernanda Andrade) começa a frequentar sessões de exorcismo para tentar descobrir o que realmente aconteceu com sua mãe (Suzan Crowley), que assassinou três pessoas durante um desses rituais e acabou presa em um manicômio.

Filmes do gênero found footage – câmeras com gravações do sobrenatural descobertas após a morte dos protagonistas – são relativamente recentes, mas passaram um longo tempo “cozinhando” antes de virarem febre. O filme desse tipo mais antigo que me vem à cabeça é A Bruxa de Blair, de 1999. Mais de dez anos depois, filmes de terror têm sido gravados somente nesse estilo. Chutando por alto, deve haver meia dúzia de três ou quatro gatos pingados filmados como típicas produções hollywoodianas, com atores famosos, orçamento alto e o que todo mundo achava que não podia faltar em um filme: Cameramans.

Primeiro fato sobre esses filmes: Não acabam bem. Nunca. Não é spoiler, é só o fato. Consegue lembrar de um filme desse tipo que acabou bem? Em Rec (Quarentena, se você viu o remake) não foi assim. Atividade Paranormal muito menos. Nunca assisti ao Último Exorcismo completo, mas tenho certeza que alguém vai morrer naquela floresta perto da fazenda.

E veja bem, fiquei longe de reclamar: É um dos ingredientes que ajuda no sabor de “realidade” desses filmes. Afinal, a parada vem a público por que alguém realmente se fudeu no meio de campo. Ninguém vai acreditar em histórias bonitas de superação, de como a união familiar e o poder da amizade ajudaram as pessoas que se amavam a superar o poltergheist – espírito, demônio, filha do Roberto Justus, whatever – que atormentava a vida de todos.

O segundo fato, só pra completar, é que os atores normalmente são inexperientes, mas precisam saber improvisar, por que não há diálogo escrito. Só descrições pra situar o elenco no contexto da cena e eles que se virem. E é preciso tirar a sorte grande pra pescar alguém realmente talentoso no meio do bando de incompetentes que aceitariam cachê de 100 dólares.

Um dos problemas nesses filmes é que eles normalmente se perdem. Os produtores, querendo impressionar, exageram nos acontecimentos. O que era pra parecer real fica exagerado, ou cômico, ainda mais com os efeitos especiais toscos que metem no meio. Não dá pra levar a sério uma cena onde, sei lá, dá pra se ver os ganchos que seguram o objeto voador pela sala.

Mas a coisa que mais apurrinha nessas produções é a enrolação. De mais ou menos duas horas de filme, tenha certeza que uma hora e meia vai ser reservada às aparições de fantasmas. Mais quinze minutos de busca por respostas. Dez de clímax e voilá!, filmes sem ação, arrastados. Que só te deixam tenso, sem nenhum susto realmente grande.

E é justamente o que acontece em Filha do Mal. Há a necessidade de se mostrar cada aspecto do dia-a-dia das pesquisas e dos dramas de Isabela. E poxa, que contradição! Perde-se as chances de sustos maravilhosos que sairiam desses filmes, sem nem trilha sonora nem mudança de ângulo na cena pro público ver o assassino se aproximando. Em um segundo, você está feliz e contente comendo lanchinhos amanteigados no bosque. E é só piscar pra ter sido comido pelo demônio! Sem nenhum TAN NAN NAN NAN atrás pra avisar! É de sujar as calças de qualquer um. Mas, novamente, sempre é mal aproveitado.

Mas enfim, retornando ao filme. A falta de carisma dos atores, e principalmente, de química entre eles, é notável. A menina fica com cara de prisão de ventre o tempo todo. Não faz um único movimento facial que mostre tristeza, medo, raiva, ou seja lá o que devemos sentir quando encontramos o DEMONHO em pessoa. Os padres não parecem padres.

Ok, existem padres que não têm o dom e viraram padres por que a mãe mandou, mas santo cristo! Esses dois se formaram no Vaticano. Eu pensava que lá deveria haver algum controle de qualidade no material produzido, por que afinal, é a sede da Igreja Católica! E, no filme, eles simplesmente se abrem demais! Mostram dados de exorcismos ilegais feitos por eles mesmos, sem nem ligar pra possibilidade de serem presos. Confiando 100% no caráter de dois estranhos que pulam de para-quedas no lugar.

Isso sem falar no clichê de personalidades. Um é incrivelmente corajoso, cheio de fervor e com um ego tão grande que alcança Jesus Cristo; enquanto o outro é bondoso e passivo, como se espera de quem segue a batina, mas é covarde e irritante demais. Pede desculpas por cada passo que dá. E o ator tem a voz mais irritante dos últimos dez anos, de modo a fazer você querer socá-lo a cada vogal pronunciada.

Os sustos são bem óbvios e sem graça. Ficar tensa durante duas horas, sem nem uma carinha feia na tela pra soltar um grito e aliviar o clima é foda.

Mas há uma atriz que vale a pena no filme, apesar de aparecer em apenas cinco minutos de história: Suzan Crowley. Interpretando Maria Rossi, a mãe supostamente possuída da protagonista, mas que é tida como doente, a mulher dá um show. Principalmente por ter aquele ar naturalmente exótico, típico de atores que farão, para sempre na carreira, personagens loucos. Me lembra bastante a Helena Boham Carter.

Ah, as cenas de exorcismo, principalmente a do porão, são show de bola. Bem feitas, mas extramente simples, com aquela atmosfera de ei, isso realmente poderia estar acontecendo.

Mas o final… Puta merda. Acabou com qualquer suspiro de interessância que o filme podia ter.

Filha do Mal

Devil Inside (83 minutos – Horror)
Lançamento: Estados Unidos, 2012
Direção: William Brent Bell
Roteiro: William Brent Bell, Matthew Peterman
Elenco: Fernanda Andrade, Simon Quarterman, Evan Helmuth, Ionut Grama, Suzan Crowley, Bonnie Morgan, Brian Johnson, Preston James Hillier, D.T. Carney

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