Estaria o show em estádio acabando?

Música sexta-feira, 11 de maio de 2018

Isto não é conversa nova: Fazer um show custa caro, principalmente quando se está falando de um show num estádio, para dezenas de milhares de pessoas. Tem o aluguel da parada (Afinal, seja de futebol, baseball ou qualquer outra coisa, um estádio precisa gerar lucro pra se manter), conta de energia, transporte de todo o equipamento de som e mais o palco, todo o equipamento de iluminação, o preparo da estrutura pra receber o evento (Já viu show rolar com milhares de pessoas pisoteando o gramado? Claro que não) e, por fim, toda a estrutura acessória, com a organização das portarias, as lanchonetes, barracas e os caralhos pra vender comida superfaturada, concessões, estacionamento… Isso tudo custa caro, leva tempo e requer profissionais específicos e capacitados, então não é de se estranhar que muito artista prefira lugares menores e festivais.

À bem da verdade, show em estádio é uma consequência: Com a popularização da apresentação como evento principal, o número de espectadores começou a crescer até o ponto em que os únicos locais que aguentariam toda a estrutura necessária pro show seriam os estádios de esportes. Por muito tempo, “show ao vivo” era sinônimo de “roda de violão” ou “música ao vivo”: Era o tipo de coisa que ou se fazia ao redor de alguém que sabe tocar ou que ocorria como barulho de fundo. Peguem as primeiras “casas de show” do mundo: Era o teatro. E o teatro tinha teatro, a peça era o evento principal, a banda ficava na frente do palco, embaixo, e fazia o acompanhamento das cenas que rolavam alí em cima. Com o tempo os teatros sofreram modificações e aumentaram em tamanho, até que alguns séculos depois foi criado o cinema… E a banda ficava na frente da tela, embaixo, pra fazer o acompanhamento das cenas porque o cinema não tinha som.

O que antes era uma extensão da tradição oral, passou, com os séculos, ao ponto alto do espetáculo, e portanto todo o resto teve que se adaptar pra suprir as novas demandas. Pode parecer estranho, mas é muito mais uma questão de modificação de costumes do que de necessidade técnica: Um show pode muito bem ser num estádio gigante lotadíssimo, cheio de pirotecnias e telões, e ainda assim ser um show de banquinho e violão. O espetáculo, no que se trata de um show em estádio, é, muitas e muitas vezes, mais importante que a música em si… Isso é um debate que fica pra outro momento, mas o fato é que, independente do que o artista faça com um instrumento, é bom ter uns lança-chamas à mão.

O grande ponto é que já tem um tempo que mesmo os grandes nomes da música têm preferido fazer suas apresentações em locais menores, que requerem menos trabalho e recursos para preparar pro show, ou então ir à festivais, nos quais toda a estrutura já está pronta, bastando ajustes menores e específicos para cada banda… Fala o nome aí de quem tá fazendo turnê em estádio pelo mundo, eu espero.

Pois é, Metallica, Iron Maiden, U2, Stones: Só gente velha. Só gente que criou sua carreira na base de show pro maior número de pessoas possível, seja 50 pessoas num boteco sábado à noite ou 50 mil num estádio… Não há downsizing por opção. Cês não vão ver essa gente fazendo show intimista em terreiro de ubanda, nem acústico em porão underground (Há! Porão underground). Os atos mais recentes que cês vão ver fazendo show em estádio são Lady Gaga, Justin Bieber, Katy Perry: Uma galera que enche estádio quando vai fazer show internacional, porque em casa tá fazendo show pra metade desse público. É gente que faz show no Madison Square Garden e diz que lotou estádio… Lotou, o detalhe é que só tem um terço da capacidade do Morumbi.

O que é interessante de se notar nessa história toda é que ainda hoje temos aquela história de que venda de álbum não dá mais dinheiro por causa da internet, e que o que mantém artista é turnê… Tudo bem que diminuir gastos ao diminuir a produção de um espetáculo é uma opção válida, mas convenhamos que aumentar arrecadação também é uma estratégia a se pensar… Talvez o grande problema seja o risco: É muito arriscado colocar tanto dinheiro em tanto equipamento e produção e pessoal que, pra tanta gente não valha à pena… Talvez o problema não seja pirataria ou crise, só falta de confiança no próprio taco.

Não acho que isto esteja certo, verdade; só segui a linha de raciocínio. A opinião real é um pouco mais cínica (E clichê) que isso: Ganância.

Porque custa caro sim fazer um show em estádio, há muito custo escondido que nós do público não pensamos, mas a verdade é que também tem bem mais dinheiro entrando que nós não sabemos: Refrigerante e cerveja custa caro porque o artista tem uma fatia desse lucro. Camiseta, álbum, óculos brilhante, bandeira: Tudo tem participação. Quais marcas de cada uma dessas coisas que serão vendidas: Outra porcentagem, pra ter esse espaço de venda. Meet and Greet (Que eu acho de uma babaquisse gigantesca)? Mais dinheiro. Estação de rádio sorteando ingressos? Mais arrecadação. Contrato com o site que vai fazer pré-venda? Mais receita. Se você acha que o que um show arrecada depende exclusivamente de venda de ingressos você não tem noção alguma de que música é um negócio… Aliás, um dos mais rentáveis do mundo, mesmo com toda a “crise do mercado radiofônico”.

Não, show em estádio tá acabando porque tem menos gente disposta a subir num palco e ter que gastar pra isso. Os lucros não importam, o que importa é a margem, e se a margem disser que se você cobrar 500 reais por um assento de arquibancada ninguém vai assistir o show, então não vale à pena.

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