Culinária Auditiva

Música quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Tem algo de edificante em comprar pamonha de carro que passa na tua rua. Ontem foi pamonha, hoje foi morango aqui na frente. Não comprei, pra falar a verdade, desta vez. Mas é um barato legal mesmo assim. Não porque pamonha é um código pra drogas, mas porque pamonha é muito foda por si só.

Clássicos nunca morrem.

Passo bem longe de ser minimamente entusiasta por este país… Isto é um jeito fresco de dizer que eu sou meio nojento. Não que seja novidade pra ninguém aqui. Mas, de novo, tem algo de especial em comprar pamonha do carro da pamonha. É o mesmo sentimento do carro de morango, do carro de ovos, do caminhão de lixo, do caminhão de gás. Vira e mexe me pego pensando em como é absurdamente incrível que coxinha seja algo brasileiro. Massa pesada, carne, fritura, queijo… Porra, só pode ser americana!

Exceto que não é. Felizmente não é.

Não sei se outros países do mundo têm essa coisa de vender comida em carro… Quero dizer, comércio ambulante, claro, mas não sei se funciona que nem aqui… Será que o resto do mundo tem feira? Pastel pode ser asiático, a feira é nossa! Mercado de peixe, por outro lado, é algo praticamente universal.

O ponto é que o carro da pamonha, a feira ou aqueles caras anunciando promoções nas portas das lojas fazem parte do que a gente conhece pelo som. Faz parte de como a gente espera que o mundo soe, como aglomerações de pessoas se comportem. Esses sons, que na maior parte do tempo são barulho, fazem parte do que a gente entende por Brasil, por mundo, por vida… Idílico isso, não? Pois vou admitir aqui: Quando era criança achava o caminhão de gás o máximo. Quando era mais novo ainda, lá entre os 2 ou 3 anos, achava o máximo o caminhão de lixo: Tenho não só a lembrança, mas foto pra comprovar. Pamonha só fui gostar mais velho; morango só gosto com creme porque comida saudável é a puta que pariu.

Enquanto que eu não ligo a mínima pra nacionalidade, patriotismo e nacionalismo; enquanto o país tá em crise que crise?; enquanto temos milhares e milhares de problemas a resolver, eu gosto deste país. Não como muito orgulho e nem com muito amor, mas gosto daqui… Talvez seja a falta de referência, mas porra, esse país é uma bagunça que eu curto pra caralho. E, vira e mexe, eu me lembro disso: Às vezes por causa da pamonha, às vezes por causa do caldo de cana, do suco de milho, do brigadeiro, da farofa. Até o bujão de gás e o caminhão de lixo se encaixam nessa orgia gastronômica nacional… Até neguei o serviço militar pra ser fiel à esse princípio.

… Este texto começou digno, mas agora eu só tô com fome mesmo.

Talvez esta seja uma tentativa extremamente pífia de juntar gastronomia, música e cultura, então bora resumir pra ficar menos feio: Parte do que a gente compreende por “mundo” é feito por sons, e parte desses sons não são só músicas, instrumentos e pautas, mas barulho também é. E parte desse barulho anuncia (Literalmente) que a penca tá seis reais, que tem pamonha mas tem curau também, e que no fim das contas um pastel de carne seca e cheddar até que vai muito bem com água de coco. E que nada disso seria tão gostoso se não fosse pelos sons ao seu redor.



















Eu vou perder a feira amanhã porque eu tenho compromisso.

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