Cthulhu Chronicles (Android e iOS)

Games quarta-feira, 06 de fevereiro de 2019

No final do ano passado, a Chaosium lançou um “jogo de ficção interativa” baseado no seu RPG mais famoso, Call of Cthulhu… Diferentemente do próprio Lovecraft, as pessoas que se inspiram em seu trabalho não têm uma gota sequer de criatividade pra nomes, o que levou à este “jogo de ficção interativa” ser chamado Cthulhu Chronicles… Seguinte: Cê curte Lovecraft? Curte passar um tempo olhando pra uma tela de celular ou tablet? Curte aqueles velhos livros-jogos? Então chega junto.

Só pra começarmos todos na mesma página: “Jogo de ficção interativa” é uma definição de merda.

Que nem eu disse alí em cima, Cthulhu Chronicles é baseado no RPG Chamado de Cthulhu, e não diretamente na obra do Lovecrat, e em termos práticos isso significa que o que você terá no jogo serão aventuras do RPG, e isso é uma das coisas legais sobre este treco: São nove aventuras (O jogo foi lançado com cinco e, creio, não haverão mais além das nove), várias delas aventuras já clássicas do RPG, enquanto outras são mais recentes, principalmente das duas últimas edições do RPG. Ainda não joguei todas, mas qualquer um que tenha feito qualquer coisa com o RPG vai reconhecer a grande maioria delas. Importante porém, dizer que modificações e adaptações acontecem, então elas não serão exatamente iguais… Em algumas há até mesmo personagens totalmente novos.

Independente da aventura que você escolha jogar, você pode escolher entre seis personagens: Uma dona de antiquário, um detetive particular, um bibliotecário, uma tira policial, uma socialite ou um diletante. Cada um tem seu próprio background e suas características que irão influenciar diretamente nas aventuras. E não, não é jeito de falar, elas fazem a diferença mesmo: É muito óbvio quando um personagem se sairia melhor numa aventura que outro, tanto nos testes quanto na história… Pode parecer algo ruim pra um jogo, mas não é: Call of Cthulhu não é sobre facilidades e nem Cthulhu Chronicles também.

Entretanto vale ressaltar logo de cara que isto aqui não é um RPG (Inclusive, só pra tirar uma eventual dúvida, é um single player, sem mestre e com apenas o seu personagem). Como eu disse alí em cima, é muito mais um livro-jogo: Eis sua situação, você tem essas duas opções, se você escolher a primeira vá pra página 25, se escolher a segunda vá pra página 32. O que torna o jogo diferente dos livros-jogos, porém, é que tem uma “mecânica” de randomização: Ações vão fazer você girar uma roda baseada nos atributos do seu personagem, como um teste de dados no RPG. Esse é um dos principais pontos fracos do jogo.

Como dito, cada personagem tem características diferentes: Vida, Sanidade, Aparência, Atleticismo e Inteligência – uma versão reduzida das características do RPG. Exceto vida, as outras quatro são as características usadas nos testes. Como dá pra ver pela imagem aí em cima, cada teste tem uma dificuldade estabelecida (Fácil, normal, médio, difícil), e é baseada em algum dos atributos. Acontece que a única coisa que você faz é apertar o “rodar” e ver o resultado. Você não tem como influenciar diretamente esse teste, a única coisa que você pode fazer é escolher outro personagem (Isso depois de ganhar, perder ou sair da aventura e começar tudo de novo). Esse é o grande ponto de “jogo” desse jogo, a única parte que o diferencia de um livro-jogo, e ele é uma merda.

A história depende desses testes tanto quanto das suas escolhas, e é chato pra caralho ver o desenrolar de um resultado que você não queria e que você não teve sequer participação real nele. Aliás, em momento algum (E nem no manual/FAQ) o jogo te explica exatamente como esses testes são calculados: As características dos personagens são numéricas, provavelmente no padrão 1 a 100 do RPG (E notem que é apenas “provavelmente”), e você nunca mais vê número algum. Seria uma escolha muito melhor botar uns dados 3D no jogo e deixar as pessoas rolarem com o movimento do celular (Da mesma forma que vários e vários aplicativos voltados pra RPG já fazem) do que esse esquema de teste… Seria mais justo. Felizmente a maior parte do jogo se baseia em escolhas sem testes, e à bem da verdade a graça é a história e não o jogo em si… Não deixa de ser um jeito babaca de forçar os jogadores a repetir as mesmas aventuras pra ter todos os resultados possíveis, mas ao menos pra mim não estraga a experiência toda.

 Eu jogo com o Bobby porque se precisar correr ele consegue…

Voltando pra história, a coisa mais legal de Cthulhu Chronicles é ver o desenrolar da mesma. Como dito, são nove aventuras até agora e você pode jogá-las na ordem que quiser, com o personagem que quiser, mas será muito melhor se você seguir a ordem padrão delas: Primeiro porque, tal qual numa campanha de RPG, elas acabam se ligando, e segundo porque, se você jogar todas com o mesmo personagem, suas experiências vão de uma pra outra QUE NEM NUMA CAMPANHA DE RPG ORA VEJAM SÓ. E é bem legal ver isso se desenrolar, te dá uma conexão com o personagem que você escolhe (Até porque você não cria seu próprio) e acaba por ter uma história melhor, principalmente com o distanciamento gerado pelo modo como os testes acontecem.

Inclusive, o jogo tem as “pistas”: Cada aventura tem várias, e você pode descobri-las conforme for jogando, sendo que você tem que descobri-las com cada personagem. Sim, outra forma de te fazer jogar de novo a mesma coisa, mas dessa vez funciona: O personagem não sabe o que outro personagem sabe. Sendo assim, na ficha de cada personagem mostra as pistas de cada aventura que você, jogador, já descobriu com tal personagem. Até onde pude ver, elas funcionam mais como achievements que qualquer outra coisa, mas é bem verdade que eu não desbloqueei nem todas de uma aventura e nem todas da “campanha” toda…

Outro ponto importante de se reparar é que, tal qual o RPG, Cthulhu Chronicles tenta acompanhar os tempos atuais apesar da sua ambientação: Há personagens masculinos e femininos, negros, héteros e gays (De acordo com a sua escolha na aventura, inclusive) e outras questões morais, éticas e de identidade através do jogo. Em momento algum o treco força isso na tua cara e também não é foco algum no jogo, mas se você escolher a policial mulher negra o jogo vai trazer um personagem homem e branco sendo racista… Não é sutil, mas também não é nem um pouco central, e se esse todos esses debates forem importantes pra você como jogador, este jogo ao menos não varre tudo pra baixo do tapete.

 Aliás, cada personagem tem uma arma como equipamento… Não faz diferença alguma qual o modelo de arma.

Porém, agora vem a parte que entorta o nariz das pessoas: É um jogo freemium. Cthulhu Chronicles tem os “trials” e os “tickets“. A cada dia você ganha 3 trials (Não cumulativos) pra jogar uma aventura: Independente de você terminar, perder, ganhar ou sair da aventura, cê gastou um deles. Na prática significa que você pode jogar três vezes por dia (A aventura que quiser, com o personagem que quiser, e não há tempo limite pra aventura, você pode ficar o tempo que quiser nela)… OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOU você pode pegar a sua carteira e comprar os tickets, que nada mais são que moeda especial. Cada aventura custa 20 tickets, e uma vez comprada você pode jogar quantas vezes quiser: Numa conta meia por cima aqui, custaria uns 60 reais pra comprar o jogo inteiro. Porque caralhos os tickets existem, eu não sei, já que você só os consegue comprando e poderia simplesmente comprar as aventuras, mas né, jogo de celular.

Os trials diários dão conta do quanto eu jogo, e acho que servem pra maioria das pessoas: As aventuras variam de 10 a 30 minutos pra serem completadas, então é coisa de uma hora de jogo de graça por dia… Um saco pra uns, mas pra mim, particularmente, não fica mal. Se eu acho que Cthulhu Chronicles vale à pena ser jogado? Se você curtir a ambientação, sim. Se vale os 60 pila? Éééééééééé………………….. Não.

Outro ponto que vale dizer é que por ter aventuras separadas, cada uma delas será baixada ao você jogá-la a primeira vez, o que é relativamente bom, já que não fica ocupando o espaço do seu aparelho logo de cara… MAS você não pode excluir o material de uma aventura pra liberar espaço. Como já dito, o jogo provavelmente não terá mais atualizações, mas isto também não impede o bagulho de checar a cada vez que você iniciá-lo, iniciar uma aventura ou baixar uma nova.

 Não sei se a adaptação das aventuras do RPG foram feitas pelos próprios autores, mas levam o nome deles no jogo…

Independente de preço, uma coisa que definitivamente é um pé no saco são os menus desse jogo. A imagem acima é a segunda, após a primeira onde tem todas as aventuras. Ao clicar em jogar (Usando ou não o trial, mas pior se você usar), você passa pra seleção de personagem, e daí pra aventura em si. Em momento NENHUM tem um botão de “retorno”: No momento que você selecionou uma aventura você TEM QUE selecionar um personagem e no momento que você selecionou um personagem você TEM QUE começar a aventura. Não existe “vou clicar aqui pra ver mais sobre a aventura ou personagem pra ver o que eu quero”, tanto que você não pode sequer ver os personagens disponíveis sem escolher uma aventura antes. Inclusive, em sua versão atual (A 1.0.29), o menu de ajuda dá 404 e o menu de configurações não traz absolutamente nenhuma configuração além do “mudo”.

Falando em mudo (Hã? HÃ?!), o jogo tem uma trilha sonora bem legal. Em momento algum algo ficou fora de lugar, muito pelo contrário, e se houvesse a opção de comprar a trilha acho que mesmo que venderia mais que tickets… O jogo inteiro tem uma ambientação foda na verdade, desde os sons até as ilustrações… Se é pra entender algo, é que Cthulhu Chronicles é um jogo ruim com excelente narrativa e história. Se você está preparando um RPG e quer ter uma ideia de como construir uma trilha sonora, vale à pena passar por este jogo.

Ele não vai substituir O Chamado de Cthulhu, nem nenhum outro RPG, nem qualquer outro jogo baseado em Lovecraft, nem os livros-jogos, mas se você gosta de investigação, dos anos 20 a 40, de mistério, ocultismo e, eventualmente, explosões, é uma boa pedida… É uma boa complementação caso você goste especificamente do RPG. Os dez a 30 minutos de cada aventura ficam numa boa duração e, acima de tudo, você tem a chance de acompanhar seu personagem desde seu primeiro contato com os Mythos até o último, passando por várias aventuras clássicas de um dos RPGs mais famosos do mundo. Ao que tudo indica não haverão mais aventuras ou alterações neste jogo, então basicamente ele está em sua forma final, e isso significa que o que é bom vai continuar lá e que você vai ter que ignorar o que é ruim se quiser jogar a parada. Eu não estou com pressa alguma de terminar, tanto que já joguei as mesmas aventuras várias vezes, mas com certeza vou chegar no final do bagulho.

Cthulhu Chronicles


Plataformas: Android e iOS
Plataforma Avaliada: Android
Lançamento: 2018
Distribuído por: MetaArcade e Chaosium Inc.
Desenvolvido por: MetaArcade e Chaosium Inc.
Gênero: Aventura, Investigação

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