Conto: Metáforas do psicanalista

Analfabetismo Funcional terça-feira, 01 de fevereiro de 2011

 – Doutor, sem arrodeios, vou direto ao ponto.
– Como preferir.
– É o seguinte: estou arrasado. Aconteceram alguns fatos na minha vida que me deixaram completamente acabado. Passei algumas semanas mofando em casa, pensando, refletindo, enchendo a cara. Até que um amigo me indicou fazer algumas consultas com o senhor. Quem sabe o senhor me ajuda a entender a razão dos acontecimentos…
– Pode dizer. O que aconteceu?
– Minha esposa… Nos separamos.
– Ela traiu você?
– Isso.
– Veja bem, isso não é o fim do mundo…
– Não foi simplesmente isso.
– Prossiga, então.
– Vou contar tudo. E depois quero que o senhor me explique o que pensa que aconteceu.
– Vamos tentar.
– Bom, eu era casado há 10 anos. Meu casamento era bem normal. Com altos e baixos, brigas, mas em geral nós éramos felizes. No entanto, eu tinha um desejo que minha esposa não realizava: sexo anal. Minha esposa nunca quis fazer. Tentamos uma vez, mas ela não gostou. Ficou por isso mesmo. Eu tinha mais curiosidade do que vontade. Ocasionalmente tocava no assunto, mas ela era irredutível. Enfim, era apenas uma fantasia não realizada. Até que um dia voltei mais cedo de uma viagem, cheguei em casa de surpresa, aquela típica história de corno, e peguei-a na nossa cama dando a bunda para um cara. Como assim, doutor? Além de me trair ela dava o cu para o ricardão? O que eu fiz de errado? Qual o problema comigo? Acabamos nos separando e estou numa crise psicológica desde então. Parece-me que foi uma traição dupla, e sinto que enquanto não entender o que há de errado comigo não ficarei bem.
– Entendo. Escute: normalmente eu almoço na praça de alimentação do shopping center aqui perto do consultório. Após o almoço, sempre dou uma passeada pelo shopping. Certo dia, enquanto olhava uma vitrine, tive uma forte e repentina dor de barriga. Minha imediata reação foi correr para o banheiro, mas um peidinho me escapou e a dor simplesmente passou. No dia seguinte…
– Mas, doutor…
– Calma, escute! No dia seguinte, aconteceu exatamente o mesmo. Senti uma forte dor, dei um peidinho e passou. Mais um dia veio, e o mesmo aconteceu. No quarto dia, a mesma coisa: senti a dor e dei um peidinho. Mas dessa vez a dor não passou, pior: me caguei nas calças no meio do shopping.
– Tudo bem, doutor. Escutei sua história pacientemente, mas não estou pagando essa consulta para escutar seus problemas digestivos. Quero entender o meu problema. Essa sua aventura escatológica nada tem a ver com meus problemas existenciais.
– A história que contei é verdadeira, mas foi uma metáfora para você deixar seus problemas de lado e superá-los! Entenda, interprete, adapte e toque sua vida. Sua esposa o traiu. Isso acontece. Se tudo chegou a esse ponto, o casamento já estava bem ameaçado. Bem ou mal, acabou! Siga sua vida. Procure uma nova companheira e seja feliz. Enfim, a moral da história que contei é: na vida, não se pode confiar ou esperar nada de bom nem do próprio cu, quanto mais do cu dos outros. Eu confiei no meu cu ele me pregou essa peça.

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